quinta-feira, 10 de maio de 2012

Inflação dá salto e BC pode frear juro baixo

A inflação da meta, o IPCA, triplicou em abril, passando a 0,64%. Com isso, os analistas já temem que o Banco Central não tenha condições de continuar baixando os juros como o governo pretende. O BC enfrenta ainda o desafio de divulgar ou não o voto de seus diretores.

No caminho dos juros, a inflação

IPCA triplica para 0,64%, levantando dúvidas sobre continuidade de cortes na Selic

Fabiana Ribeiro

O DILEMA DOS JUROS

A inflação brasileira triplicou em abril. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saiu de 0,21% em março para 0,64% - a maior taxa em um ano. Apenas três itens (cigarro, empregado doméstico e remédios) concentraram quase 40% da taxa de abril. Mas os preços maiores, frisam analistas, aparecem disseminados na economia. Assim, o índice acumula variação de 1,87% no ano e 5,10% nos últimos 12 meses. Números que já levantam dúvidas no mercado: uma inflação mais salgada pode dar um basta aos cortes dos juros? A princípio, não. Mas a resposta, para especialistas, depende do nível da atividade da economia e dos desdobramentos da crise internacional - indicadores que mexem com câmbio, demanda e, naturalmente, com a inflação. Na semana passada, o governo mexeu no rendimento da caderneta de poupança, com a intenção de permitir um corte maior dos juros.

- O IPCA de março triplicou, com uma alta abrupta. Apesar de três itens concentrarem 38% da alta, há aumentos generalizados - disse Eulina Nunes, gerente do IBGE, em referência a aumentos dos preços de cigarros e remédios e nos salários de empregados domésticos, de 15,04%, 1,58% e 1,86%, respectivamente.

Os gastos nos supermercados subiram no mês passado. Só o grupo de Alimentos e Bebidas saiu de 0,25% para 0,51% em abril. O feijão carioca - o mais consumido no país - enfrentou problemas com a seca no Nordeste, e o consumidor pagou 12,66% a mais pelo alimento. Também encareceram itens como o feijão mulatinho (13,09%), a farinha de mandioca (6,58%) e o alho (6,33%). Além disso, o efeito da alta do dólar começa a aparecer na conta do supermercado. Segundo Eulina, os artigos de limpeza, com alta de 1,38%, ficaram mais caros por causa, em parte, do dólar mais valorizado. Insumos dessa indústria são importados.

- E há indícios de que o óleo de soja tenha sofrido influência do câmbio: o dólar mais alto estimulou a exportação do produto, reduzindo a oferta interna - explicou Eulina.

Contrato futuro sobe com a inflação

A inflação veio acima das projeções de 0,58%, segundo o último boletim Focus. Para maio, a expectativa de um IPCA mais suave, em 0,47%.

- O que se viu em abril não é uma tendência: é um comportamento pontual. Essa alta não deve alterar os planos do Banco Central (BC), que na próxima reunião deve reduzir 0,50 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic. Os cortes devem continuar até uma Selic de 8%, quando o governo vai parar e olhar a atividade - disse Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC.

Freitas explica que é possível fazer mais cortes na Selic porque o nível de atividade ainda está fraco, com perspectivas de crescimento abaixo dos 3% em 2012. Além disso, a crise empurrou a demanda mundial para baixo, levando o Brasil a importar deflação do mundo. Uma opinião compartilhada com Eduardo Velho, economista da Prosper Corretora, que espera uma inflação de 0,42% em maio.

- Acredito em mais dois cortes nos juros, de 0,50 ponto percentual. A Selic pode até entrar 2013 em 7,5%. A inflação de agora não se trata de uma ameaça: esse problema o governo empurrou para 2013, quando a economia pode estar mais aquecida.

Apesar da crença dos analistas, o IPCA de 0,64% influenciou o mercado de juros futuros. A taxa do contrato com vencimento em janeiro de 2013 passou de 7,97% para 8,03%, num movimento de alta verificado na maioria dos contratos. O IPCA de ontem foi o segundo indicador seguido a apontar aceleração da inflação - na terça-feira, foi a vez do IGP-DI.

As taxas dos contratos futuros de juros vinha em movimento contínuo de queda. Na semana passada, o movimento acelerou-se, com a decisão do governo de mudar a regra da poupança.

- O mercado parecia estar acreditando muito que, sem a restrição da poupança, a Selic poderia ir abaixo de 8%, mas começou a reavaliar os preços, incluindo outras variáveis, como a inflação - explica Rogério Freitas, sócio da Teórica Investimentos.

André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, não está tão certo de que o BC siga cortando a Selic. Para ele, o BC deve cortar 0,50 ponto percentual em fins de maio, mas deve indicar na ata que o período de afrouxamento monetário chega ao fim por causa de incentivos já dados à economia.

Colaboraram Marcio Beck e Vinicius Neder

FONTE: O GLOBO

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