quarta-feira, 30 de maio de 2012

Lula ajuda ‘bandidos’ que querem ‘melar’ mensalão, diz Gilmar

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, disse que o ex-presidente Lula está dando vazão a boatos criados para abafar o julgamento do mensalão. Gilmar acusou "gângsteres", "bandidos" e "chantagistas" de tentar "melar" o processo ao disseminar informações segundo as quais ele teria recebido favores do contraventor Carlinhos Cachoeira. As declarações foram dadas um dia depois de Lula se dizer "indignado" com a acusação de Gilmar de que ele o teria pressionado a adiar o julgamento do mensalão. Em entrevista ao repórter Fausto Macedo, o ministro acusou Paulo Lacerda, ex-diretor da Polícia Federal, de divulgar as "fantasias" a seu respeito

Gilmar Mendes acusa Lula de ajudar "bandidos" a "melar" análise do mensalão

Cachoeira. Ministro do Supremo afirma que ex-presidente da República, ao pressioná-lo durante encontro, atuava municiado por "gângsteres" com objetivo de tumultuar julgamento do maior escândalo da gestão petista no Planalto, previsto para ocorrer neste ano

Mariângela Gallucci

BRASÍLIA - Um dia depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negar em uma nota de apenas 184 palavras ter feito pressão sobre ministros do Supremo Tribunal Federal para adiar o mensalão, o ministro Gilmar Mendes acusou o petista de irradiador da "central de divulgação" de boatos montada para minar o STF e abafar o julgamento dos mensaleiros. Em 19 minutos de entrevista, Gilmar Mendes afirmou que "gângsteres" e "bandidos" tentam "melar" o julgamento do mensalão e que o ex-presidente era a central de divulgação de informações, segundo ele, falsas, de que teria recebido favores do esquema comandado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. "Chantagistas, bandidos, desrespeitosos", repetiu o ministro, com o tom de voz alterado, durante entrevista na entrada da sessão da 2.ª Turma do STF. Segundo ele, o objetivo do grupo de "gângsteres" era atrapalhar o julgamento do mensalão por meio da divulgação de informações mentirosas de que a Corte estaria envolvida em corrupção.

O ministro afirmou que os "bandidos" também tentaram fazer isso com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que é o responsável pela acusação contra os réus do mensalão. Segundo ele, Lula seria a central das informações. "Eu acho que ele está sobreonerado com isso. Quer dizer, estão exigindo dele uma tarefa de Sísifo." Mendes disse que o STF tem de julgar agora o processo contra suspeitos de envolvimento no principal escândalo de corrupção do governo Lula. "Por que eu defendo o julgamento? Porque nós vamos ficar desmoralizados se não o fizermos. Vão sair dois experientes juízes (Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso vão se aposentar no segundo semestre), virão dois novos, contaminados por uma onda de suspicácia. Por isso que o Supremo tem de julgar neste semestre, tem de julgar logo. E por isso essa pressão para que o tribunal não julgue."

Viagens. O ministro disse que nunca recebeu favores do esquema de Carlinhos Cachoeira e que tem suas viagens pagas pelo STF ou por ele próprio. Apresentando cópias de bilhetes, extratos de cartões e até de programa de milhagem, ele afirmou que as despesas da polêmica viagem a Berlim foram pagas pelo STF e por ele próprio. Mendes disse que tem dinheiro para bancar as viagens. "O meu livro Curso de Direito Constitucional vendeu de 2007 até agora 80 mil exemplares. Dava para dar algumas voltas ao mundo. Não viajei de jatinho coisa nenhuma." Mendes disse que viajou duas vezes num avião providenciado pelo senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), em 2010 e 2011. Segundo ele, o avião era da empresa de táxi aéreo Voar. Afirmou ter viajado para participar de um jantar e de uma formatura. Nas duas ocasiões, o ministro Dias Toffoli também estava no avião, de acordo com Mendes. Em uma das viagens, também estaria Jobim e na outra, a ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). "Vamos dizer que o Demóstenes me oferecesse uma carona num avião se ele tivesse. Teria algo de anormal?", perguntou Mendes.

Indagado sobre o fato de o ex-ministro Nelson Jobim não ter confirmado a suposta tentativa de Lula de intimidá-lo, respondeu: "Se eu fosse Juruna eu gravava a conversa, né? Ficaria interessantíssimo. Estou dizendo a vocês o que ocorreu. Posso ter uma interpretação errada, é um relato de uma conversa de quase duas horas. Mas os senhores sabem de uma coisa: eu não tenho a tradição de mentir. Eu posso até interpretar os fatos, mas os senhores não me viram me desmentindo ao longo da minha carreira."

Representação contra Lula vai para a 1ª instância

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, remeteu ontem para a Primeira Instância do Ministério Público a representação movida por partidos de oposição para investigar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do processo do mensalão. Gurgel nem sequer analisou o mérito do pedido e explicou, pela assessoria, que Lula, por não ser mais presidente, perdeu o foro privilegiado. A investigação refere-se à suposta pressão exercida pelo ex- presidente sobre o ministro Gilmar Mendes, do STF, durante encontro em abril na residência do ex-ministro Nelson Jobim, noticiado pela revista Veja desta semana. Ele teria insistido para adiar o julgamento do mensalão para depois das eleições de outubro deste ano, evitando danos eleitorais ao partido.

Segundo a oposição, Lula, que indicou oito dos atuais ministros da Corte, teria cometido os crimes de corrupção ativa, tráfico de influência e coação. Mendes confirmou que saiu do encontro constrangido com as colocações de Lula, que lhe teria oferecido blindagem na CPI do Cachoeira em troca do adiamento do julgamento. O ex-presidente qualificou a notícia como inverídica e disse, em nota, que a recebia com "sentimento de indignação". Ontem mesmo a Procuradoria da República no DF recebeu a representação remetida por Gurgel. / Vannildo Mendes

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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