quarta-feira, 9 de maio de 2012

Meirelles, ex-BC, assumirá cargo na ‘nova Delta’

A J&F Holding, do frigorífico JBS, assumirá o controle da Delta Construções, investigada na CPI do Cachoeira. Henrique Meirelles, da J&F Holding, ex-presidente do BC, deve presidir o Conselho de Administração da Delta. O Conselho de Ética do Senado abriu processo contra Demóstenes Torres

Holding assume controle da Delta; Meirelles, ex-BC, integrará Conselho

CGU já identificou indícios de corrupção em outros contratos da empreiteira

Gustavo Uribe, Roberto Maltchik

Tentáculos da contravenção

SÃO PAULO e BRASÍLIA. A J&F Holding, grupo que controla o frigorífico JBS, irá assumir o controle da Delta Construções, empresa alvo de investigação na CPI do Carlinhos Cachoeira. A informação é de agentes envolvidos na negociação, segundo os quais um comunicado sobre a operação deve ser divulgado hoje. Em um primeiro momento, antes da aquisição completa da empreiteira, a J&F Holding irá administrar o fundo que controla a Delta Construções, para avaliar a situação financeira da empresa. A expectativa é de que um novo presidente assuma a construtora, atualmente a sexta maior empreiteira nacional.

As negociações para a venda da Delta se estendem desde a semana retrasada e foram conduzidas, segundo pessoas que participaram da negociação, por Joesley Batista e Henrique Meirelles, da J&F Holding, e por Fernando Cavendish, presidente licenciado da Delta. O ex-presidente do Banco Central deve, inclusive, assumir a presidência do conselho de administração.

O mercado já vinha apostando em um acordo para esta semana entre a construtora e a holding, com a divulgação de fato relevante aos investidores. Em abril, o colunista do GLOBO Ancelmo Gois antecipou que a empreiteira estava à venda, após passar por problemas de caixa em virtude da divulgação de irregularidades em contratos com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

A aquisição da empreiteira pela holding representa a expansão dos negócios da J&F para o ramo da construção civil. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) possui cerca de 30% do capital do grupo JBS. Na semana retrasada, a construtora deixou o consórcio responsável pelo projeto da Transcarioca, após ter se retirado das obras de reforma do estádio do Maracanã.

O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, já afirmou que o Ministério do Planejamento estava se preparando para uma eventual saída da Delta das principais obras do governo federal, em especial as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Um diretor de uma das cinco maiores empreiteiras do País, ouvido pelo GLOBO, avaliou que a venda tem caráter mais político que econômico, uma vez que, por meio dos atuais contratos firmados, a empresa não quebraria a curto prazo. O executivo ponderou, contudo, que há risco de o patrimônio da empreiteira "derreter" com o passar do tempo, sobretudo com o aprofundamento das investigações no âmbito da CPI do Cachoeira.

CGU pode declarar construtora inidônea

A Delta é alvo de investigações também na Controladoria Geral da União (CGU), que identificou indícios de possível tráfico de influência e corrupção de servidores públicos em contratos firmados entre o governo federal e a empresa em diferentes estados, nos quais já foram detectadas irregularidades como superfaturamento e pagamentos por serviços não executados.

A relação de indícios, ainda em apuração, está no processo sigiloso aberto para determinar se a empresa será ou não declarada inidônea. A CGU ainda deverá instaurar novo processo contra a Delta, após receber do Supremo Tribunal Federal (STF) o conteúdo da Operação Monte Carlo. Os documentos já foram solicitados em ofício remetido ao STF.

Por ora, o processo de declaração de inidoneidade está fundamentado na Operação Mão Dupla, da Polícia Federal, que, em 2010, desbaratou um esquema de corrupção em obras tocadas pela Delta no Ceará, com o apoio de servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

De acordo com as conclusões da operação, esses funcionários, incluindo o superintendente do Dnit no Ceará, teriam recebido propina e outras vantagens da construtora. Porém, a Corregedoria elencou indícios de práticas similares em outros estados.

Os indícios de práticas similares às encontradas no Ceará têm como origem extenso levantamento que apontou irregularidades em 60 contratos firmados entre o Dnit e a Delta em 19 estados.

Como os processos administrativos disciplinares e de inidoneidade são sigilosos, a CGU não comenta o assunto.

A Delta já foi notificada sobre o processo de inidoneidade, que deve ser concluído até o final de junho. A empresa está em fase de elaboração da defesa, que será remetida ao governo federal. A empresa informou que se manifestará no curso do processo e que "reafirma a lisura e correção em todos os processos".

Fonte: O Globo

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