quinta-feira, 24 de maio de 2012

No dia do acordo da CPI, governo fez liberação atípica de verbas

No dia do acordo que esvaziou as investigações da CPI do Cachoeira, o governo Dilma fez liberações atípicas de verbas para obras de políticos do PMDB e de alvos da comissão, relatam Gustavo Patu e Leandro Colon.

O dinheiro para atender emendas dos parlamentares chegou a R$ 53,5 milhões no dia 16, enquanto a média diária no ano é de R$ 11,6 milhões. A Presidência negou vínculo com a CPI.

Governo fez liberação atípica de verba no dia de "acordão" na CPI

Dinheiro para atender emendas dos parlamentares chegou a R$ 53 mi, contra média diária de R$ 12 mi

Verbas foram para obras de políticos do PMDB e de alvos da comissão, que engavetou ação contra governadores

Gustavo Patu, Leandro Colon

BRASÍLIA - No dia da celebração do acordo que esvaziou as investigações da CPI do Cachoeira, o governo Dilma Rousseff liberou verbas para redutos de caciques do PMDB e de alguns dos alvos da comissão -incluindo políticos próximos ao próprio Carlos Cachoeira.

Os registros diários dos desembolsos federais apontam, no dia 16, quarta-feira da semana passada, um salto dos recursos destinados às despesas incluídas por deputados e senadores no Orçamento, conhecidas como emendas parlamentares.

As operações coincidem com o entendimento, negociado entre governo e parte da oposição, para engavetar os pedidos de investigação de três governadores, cinco deputados e dos negócios da empreiteira Delta fora da região Centro-Oeste.

Para detectar os recursos destinados ao varejo político, a Folha acompanhou as 20 ações de governo que mais concentram emendas parlamentares. A despesa com essa amostra chegou a R$ 53,5 milhões no dia 16, enquanto a média diária é de R$ 11,6 milhões no ano.

A maior liberação feita pelo Ministério do Turismo, de R$ 5,4 milhões, já mereceu agradecimento público no site do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), responsável por indicar o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB).

O dinheiro, de uma emenda da bancada do Estado, irá para obras rodoviárias entre Piranhas e Arapiraca -cujo prefeito, acompanhado por Renan, esteve no dia com o ministro Gastão Vieira em busca de verbas.

Depois de Alagoas, o Estado mais beneficiado pelos desembolsos pesquisados pela Folha foi Goiás, palco da maior parte dos eventos e personagens das investigações.

Sede dos negócios de Cachoeira, Anápolis ganhou R$ 2,6 milhões do Ministério das Cidades para a obras de pavimentação. Trata-se de um convênio assinado desde 2010, mas que só agora recebeu a primeira parcela dos R$ 4,9 milhões previstos.

A cidade é administrada por Antonio Gomide (PT), irmão do deputado e também petista Rubens Otoni, um dos que escaparam de serem ouvidos pela CPI sobre suas relações com Cachoeira.

Ligada ao empresário na região, a construtora Delta tem três contratos com o município. Segundo a prefeitura, nenhum está relacionado ao convênio com a União.

Rio Verde (GO) obteve R$ 2,1 milhões para infraestrutura, pavimentação e drenagem na periferia. O convênio é do final de 2009, mas até então só haviam sido desembolsados R$ 976 mil.

O prefeito, Juraci Martins, que trocou o DEM pelo PSD, é antigo aliado do senador Demóstenes Torres, que se desfiliou do DEM e responde a processo de cassação devido a ligações com Cachoeira.

Outra liberação, de R$ 3,1 milhões, beneficiou Caracaraí (RR). No sábado, Romero Jucá (RR), um dos principais nomes do PMDB no Senado, foi à cidade inaugurar obras feitas com dinheiro federal.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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