quinta-feira, 24 de maio de 2012

O debate do eurobônus:: Celso Ming

Autoridades de vários escalões da Alemanha e de outros países do euro, a começar pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se adiantaram nesta quarta-feira, antes da reunião informal de cúpula em Bruxelas, para mostrar sua frontal oposição à proposta de criação do eurobônus.

Seria um título emitido e garantido solidariamente por todos os países do bloco, com o objetivo de derrubar os juros da dívida, que hoje estão asfixiando economias altamente endividadas, como Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha.

Do ponto de vista das condições do financiamento do déficit público, o agravamento da crise vem beneficiando fortemente a Alemanha. Nesta quarta, por exemplo, o Tesouro alemão emitiu 4,56 bilhões de euros em títulos por dois anos. Os juros obtidos no mercado foram de 0,7% ao ano. Como a inflação média na área do euro é de 2,3% ao ano, a Alemanha está obtendo empréstimo a juros reais negativos.

Enquanto isso, outros países da Europa estão pagando o olho da cara por emissões equivalentes. A Itália vem pagando 5,6% ao ano e a Espanha, 6,1% ao ano. Se forem mantidos, esses juros tornam a dívida altamente insustentável.

O eurobônus cumpriria a função de derrubar esses custos para alguma coisa acima do que vem pagando a Alemanha, porque os riscos ficariam diluídos.

O formato final desse título teria de prever em que condições essas emissões poderiam ser feitas. Além disso, teriam de ser removidos obstáculos legais decisivos à criação de um título assim. Ainda nesta quarta-feira, a chanceler Angela Merkel declarou que o eurobônus está explicitamente proibido pelos tratados. Mas outros argumentos vêm sendo esgrimidos contra a proposta.

Um deles, mencionado pelo primeiro-ministro da Finlândia, Jyrki Katainen, e pelo primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt, tem a ver principalmente com o que se pode entender como "risco moral". A criação do eurobônus afrouxaria pressões em direção às reformas e a governanças responsáveis, na medida em que premiaria com dinheiro barato a gastança que gerou todas as distorções hoje conhecidas.

Outro argumento contrário, exposto nesta quarta pelo ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, é que foram justamente os créditos fáceis a juros baixos que provocaram as bolhas imobiliárias e as políticas frouxas que geraram a crise. Desse modo, o eurobônus "seria uma abordagem errada para solucionar a crise".

O grande defensor da criação do eurobônus passou a ser o novo presidente da França, François Hollande, para quem o instrumento seria indispensável para assegurar mais crescimento e, portanto, facilitar a saída da crise.

Uma das ideias que passaram a circular é que o novo título poderia ser fonte de recursos destinados apenas a refinanciar a dívida insuportável de toda a área do euro. Seria passada uma régua em todos os passivos e, assim, toda a dívida que ultrapassasse determinada porcentagem do PIB iria para um cestão que teria cobertura do eurobônus. As economias se recomporiam e a vida seguiria normalmente.

Por enquanto, está difícil quebrar a resistência dos durões, sobretudo da Alemanha. Mas a corrida aos bancos já começou e a crise pode piorar tanto que talvez não sobre outra saída. A conferir.

CONFIRA

Puxa e estica. O governo Dilma se empenha agora em puxar pelo consumo e pelo crédito. E, pelo que se conclui pelas últimas declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na avaliação do governo o crescimento do crédito é baixo para o objetivo mais importante: garantir crescimento maior do PIB.

É muito ou pouco? O último dado divulgado pelo Banco Central, de março, aponta para saldo do crédito de 49% do PIB, com crescimento de nada menos que 18% em 12 meses. No entanto, nesta quarta-feira, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton de Araújo, avisou que o Banco Central trabalha com uma expansão do crédito neste ano de 15%.

Passou do ponto. Ou seja, para o Banco Central, o aumento do crédito em 12 meses passou do ponto. Para que se mantenha dentro da meta, seu crescimento deve então ser desacelerado, ao contrário do que sugere o ministro Guido Mantega.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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