quarta-feira, 23 de maio de 2012

'O risco é o mesmo de 2008, de recessão, de que haja corrida, pânico'

Para economista, cabe à Alemanha e ao Banco Central Europeu agirem para evitar que a zona do euro "desmorone"

Luciana Antonello Xavier

NOVA YORK - O risco de o mundo mergulhar numa recessão está de volta. O alerta é do economista James K. Galbraith, professor de Economia na Universidade de Austin, no Texas. "O risco é o mesmo de 2008, de que haja corrida, de que haja pânico", disse ele, em entrevista, por telefone, à Agência Estado. Aliás, diz ele, nem chegamos a sair da crise anterior. "Ainda estamos nela."

Nesse contexto tão incerto cabe à Alemanha e ao Banco Central Europeu agirem para evitar que a zona do euro desmorone. "É preciso que a Alemanha escolha se adotará políticas diferentes para salvar o euro ou se segue no caminho atual e quebra todo o sistema."

A seguir, os principais trechos da entrevista.

A crise de 2008 chegou a acabar?

Não, claro que não. Ainda estamos nela. É a mesma crise.

Quais os riscos de termos de novo uma grande recessão global?

O risco é o mesmo de 2008, de que haja corrida, de que haja pânico.

Esse risco está maior?

O risco está obviamente presente. Já vimos saídas (de depósitos) dos bancos gregos. As pessoas que podem tirar o dinheiro da Grécia já estão fazendo isso. As pessoas também estão cada vez mais com medo de deixar o dinheiro na Espanha. Nos EUA, em 2008, o governo foi capaz de conter o pânico em algumas semanas. O Banco Central Europeu tem a possibilidade de fazer o mesmo se assim escolher, mas pode não escolher e essa incerteza ao redor dessa questão é que está alimentando a ansiedade na Europa.

O sr. tem esperança com relação à zona do euro?

Tem havido alguns progressos interessantes, que ao menos forçam uma nova discussão de políticas, que vieram com as eleições na Grécia e na França. Por outro lado, a situação financeira está tomando proporções maiores e é possível que tenhamos um momento decisivo relativamente cedo.

O que seria esse momento decisivo? A Grécia deixando o euro?

Sim. A Grécia não sairia voluntariamente e um novo governo na Grécia não seria a favor de deixar o euro, mas é possível imaginar uma situação na qual os alemães em particular decidem que não vão se comprometer, que não vão estender mais nenhum fundo de ajuda e com isso o restante das lideranças europeias passa a acreditar que não poderá evitar uma corrida geral aos bancos na periferia (da região). Creio que uma saída desordenada da Grécia seja bem provável, o que adiciona pressão aos próximos dominós na fila.

Há um futuro para a Grécia fora do euro?

Será um choque severo para eles e as autoridades na Grécia e Europa em geral terão de decidir o que fazer quando isso ocorrer.

Muitos criticam esses programas de austeridade na Europa, num momento em que a região precisa crescer. Por que os líderes insistem na austeridade fiscal?

A prioridade para os líderes europeus é preservar os bancos na Alemanha e Grécia e preservar a si próprios no poder. Na Alemanha, isso requer que (a chanceler) Angela Merkel tenha uma atitude dura em relação aos países da periferia. Não há nada irracional na posição de Merkel. Ela está fazendo exatamente o que ela precisa fazer para assegurar que os bancos não sigam o caminho da insolvência e tenham fortes perdas e para que ela possa aguentar a pressão vinda da ala da direita em seu país.

Como a zona do euro conseguirá manter a unidade?

Como disse, a Grécia não sairá por conta própria, mas poderá ser forçada a sair. Estive recentemente num seminário na Alemanha e George Soros disse algo que faz sentido. Ele disse que a Alemanha vai tomar essa decisão e precisa fazê-lo logo.

É preciso que a Alemanha escolha se adotará políticas diferentes para salvar o euro ou se segue no caminho atual e quebra todo o sistema.

O sr. acha que com essa mudança rápida e negativa no cenário global, a economia americana pode precisar de um QE3 (terceira rodada de relaxamento monetário quantitativo) ou é cedo ainda para dizer?

Sou cético em relação ao QE1 e QE2. A noção de que o Fed pode estimular a economia simplesmente por meio de mais reduções de juros é duvidosa e refinanciar hipotecas existentes (MBS ou Mortgage-Backed Securities) é também limitado. O Fed não pode fazer os bancos emprestarem para quem não querem emprestar e não podem fazer as pessoas pedirem emprestado.

Como o sr. vê os emergentes neste momento?

Se houver uma nova rodada de desordem na Europa e nos EUA, ninguém vai escapar de ser afetado, obviamente.

Mas o Brasil e a China são grandes países, que sabem o que estão fazendo e provavelmente teriam melhores chances de serem afetados mais modestamente.

Quanto tempo deve levar até que possamos sair finalmente desta crise e ver o mundo finalmente vivendo um bom momento econômico?

Acho que um século ou dois. Acho que meus bisnetos talvez vejam isso.

Sério? Não há chance de ser num futuro mais próximo?

Isso é algo que está fora do alcance da minha visão no horizonte.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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