quinta-feira, 24 de maio de 2012

Pacotes são colcha de retalhos, diz analista

Para Samuel Pessoa, da FGV, as novas medidas de estímulo econômico não darão resultado no longo prazo

Segundo economista, desaceleração do PIB começou em 2009 e decorre do excesso de intervenção estatal

Mariana Schreiber  

SÃO PAULO - O governo já anunciou cinco pacotes de estímulo econômico desde agosto, mas o crescimento do PIB neste ano deve ficar em apenas 2,5%, estima o professor da FGV e sócio da consultoria Tendências Samuel Pessoa.

Segundo o economista, que chama os vários pacotes de "colcha de retalhos", a desaceleração econômica não é de hoje. Começou em 2009, diz, e é reflexo de um excesso de intervenção estatal na economia e da falta de reformas estruturais.

Folha - O governo já anunciou cinco pacotes de estímulo econômico desde agosto. Essa estratégia é adequada?

Samuel Pessoa - Esses pacotes em geral são voltados para o consumo, são muito pontuais e muito setoriais. É quem grita mais, você vai lá escolhe um setor. É uma colcha de retalhos, uma confusão. Mesmo as desonerações, que são boas para o produtor, aumentam a complexidade do sistema tributário.

O governo deveria ter medidas mais estruturadas?

Sim. Essa política econômica, que a gente chama de "micromanagement", de a cada coisinha você inventar um instrumento, gera confusão regulatória e tem pouco efeito de longo prazo. Falta algo mais estruturado, falta um diagnóstico melhor. Essa desaceleração do crescimento não é fruto só de questões externas. Ela aconteceu desde 2009. A taxa média de expansão do PIB desde 2009 está rodando na casa de 3%.

O que puxa essa desaceleração internamente?

A economia foi impactada pela redução da produtividade. O primeiro motivo é o fim de um grande ciclo de reformas que começou no governo Collor [1990-1992] e foi até 2005. Tudo que se fez: abrir e estabilizar a economia, privatizar setores, melhorar marcos regulatórios, uma mini-reforma tributária no governo Lula [2003-2010], tudo isso foi maturando e explica a aceleração do crescimento no governo Lula.

Em 2007, mudou a gestão econômica e começou-se a fazer um monte de medidas que reduzem a produtividade da economia. É uma política de enorme ativismo estatal, de fechamento da economia, que lembra muito o governo Geisel [1974-1979] e gera ineficiência econômica.

Além disso, depois da crise, você tem um modelo de crescimento liderado pelo consumo que gera uma expansão muito forte do setor de serviços e penaliza a indústria. E como a produtividade nos serviços é menor, a expansão do PIB fica menor.

Isso é ruim?

Esse modelo gera um crescimento menor. Mas qual o problema? As pessoas estão felizes, a popularidade da presidente [Dilma Rousseff] é alta. Mas aí tem uma questão de decisão política. A presidente pensa que a indústria é um setor estratégico para o desenvolvimento de longo prazo, exatamente porque é um setor em que a produtividade média é mais alta.

Só que para ter muita indústria tem que poupar que nem chinês, tem que investir que nem chinês. Crescer não é uma coisa fácil. Todo mundo fica louco com a exuberância da China. Vai morar lá. Vai trabalhar 14 horas por dia, poupar metade da renda.

O crescimento puxado pelo consumo está se esgotando?

A economia brasileira está em fase de transição. Estamos chegando no limite do modelo liderado por consumo e crédito. Tem um pouco de esgotamento de demanda, porque produtos duráveis [carros, eletrônicos] você não compra todo ano, e na saída da crise o governo usou muito a demanda de duráveis para manter o crescimento.

Por outro lado, aumentou muito o volume de crédito. Hoje há menos financiamento de carros não porque os bancos estão restringindo crédito, mas porque os bons tomadores de crédito já compraram seus carros e agora quem demanda crédito é gente que não tem como pagar.

O dólar acima de R$ 2 pode elevar o crescimento do PIB?

Sim. Estimula a exportação e desestimula a importação. O problema é a inflação. O limite da desvalorização do câmbio é o impacto inflacionário. Se começar a dar problema, o governo tira o IOF e esse cambio cai para R$ 1,90.

FONTE:: FOLHA DE S. PAULO

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