quinta-feira, 10 de maio de 2012

Planalto tenta conter impulso do PT para investigar imprensa

Petistas estudam convocação de jornalista para depor na CPI sobre relacionamento com Carlinhos Cachoeira

Bancada do partido também defende quebra de sigilo de editor e convocação do dono da Editora Abril

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto iniciou ontem uma operação para tentar arrefecer o ânimo dos petistas que querem usar a CPI do Cachoeira para investigar as relações do empresário com jornalistas e órgãos de imprensa.

Em reunião na noite de segunda-feira, a bancada do PT na CPI discutiu a proposta de convocação do jornalista Policarpo Júnior, redator-chefe da revista "Veja" em Brasília. A quebra do sigilo fiscal e bancário do jornalista também é defendida no partido.

O jornalista tinha em Cachoeira uma de suas fontes de informação e seu nome é mencionado em diversas conversas do empresário com integrantes de seu grupo, de acordo com escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal nos últimos três anos.

Segundo o delegado Raul Souza, ouvido anteontem pela CPI, não há nas escutas nada que indique algo além da relação entre um repórter e uma fonte de informação.

As perguntas sobre o caso que os petistas fizeram ao delegado na sessão da CPI anteontem não foram relatadas à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, responsável pela articulação do governo com o Congresso.

Ela só ficou sabendo das perguntas pelos jornais. A omissão dos parlamentares petistas causou desconforto no Palácio do Planalto.

Ontem, já era perceptível uma mudança de tom na bancada, especialmente no grupo ligado ao ex-ministro José Dirceu e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Escalado para a interlocução entre os representantes do partido na CPI e o governo, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) adotou um tom cauteloso.

"Acho que agora é cedo para a convocação [de Policarpo]", disse, contrastando com o clima da reunião de segunda à noite.

Aliados de Lula e Dirceu defendem o foco na imprensa por achar que assim conseguirão minar a credibilidade de reportagens que deram origem ao escândalo do mensalão, que pode ir a julgamento no Supremo Tribunal Federal neste ano. Dirceu é um dos réus do caso.

Ideli havia escalado o relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), para resistir à pressão, mas ele admite a interlocutores que o trabalho é difícil.

"Se for confirmada a existência de mais de 200 conversas entre Policarpo e o esquema, ele tem de ser convocado. O Roberto Civita, não", disse o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (PT-SP), referindo-se ao dono da Editora Abril, que publica "Veja", cuja convocação é defendida por setores do PT.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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