sexta-feira, 11 de maio de 2012

A poupança e o dragão :: Roberto Freire

Há muito o governo do PT tinha manifestado o desejo de mudar a forma de rendimentos da poupança. A primeira tentativa, no governo Lula, teve como preocupação básica os ganhos dos fundos de investimentos do sistema financeiro, ameaçados pela possibilidade de deslocamento de parcela considerável de integrantes desses referidos fundos para a poupança, em função da comparação dos rendimentos de ambos. Agora Dilma retoma o projeto.

A poupança sempre foi um instrumento do pequeno poupador assalariado, para preservação do valor de seu dinheiro, de alguém que não está especulando, mas que se resguarda para momentos de necessidade. É também usada para financiar a habitação e que, por essa limitação, não interessa muito ao setor financeiro.

A escolha do governo não foi imparcial. Mexer na poupança é mais fácil do que mexer na dívida interna brasileira, atrelada aos fundos e beneficiando os bancos com ganhos abusivos.

O governo Dilma está "rendido" a esses interesses.

Antes de mexer na poupança, o governo deveria primeiro conter seu endividamento interno. Se é possível negociar usando os rendimentos da poupança, que estão na lei, por que não negociar a ampliação do perfil da dívida interna, trazendo para a economia uma capacidade de investimento maior? Ao mesmo tempo incentivar a poupança como grande investimento, modificando sua utilização e definindo percentuais para ser usada na rolagem da dívida além de outras.

O que sabemos é que os juros reais elevados pagos pelo governo, uma agradável benesse, subsiste em virtude dos gastos públicos e custeio da uma máquina excessivamente inchada e que não tem no horizonte perspectiva de diminuir. Essa política reduziu a capacidade de crescimento do país, como temos visto nos últimos anos.

Estamos em meio a uma das maiores crises financeiras que o sistema capitalista enfrentou desde 1929 que, por conta de sua disseminação global, tem atingido de maneiras diferentes todos os países. O governo tem vendido a ideia, desde seu início em 2008 - a "marolinha do Lula" -, de que o país está preparado para enfrentá-la. No entanto, o que temos percebido é que as possibilidades de uma saída dessa crise ficam cada vez mais distantes.

Nossa capacidade de investimento na economia diminuiu, com reflexos gravíssimos sobre a indústria, e o endividamento das famílias aumentou dramaticamente, reduzindo sua capacidade de consumo.

Em um ambiente volátil e instável, os indicadores que medem a inflação têm mostrado crescimento e, no curto prazo, estão bem acima do centro da meta, tornando-se um efetivo óbice para a diminuição da taxa de juro de forma sustentável.

Enquanto o governo tenta de forma atabalhoada baixar a taxa Selic por decreto, o dragão da inflação abre o olho e mais uma vez ameaça os esforços de sucessivos governos, colocando em risco as conquistas da estabilidade econômica que tão duramente conseguimos nos últimos vinte anos - e quem paga a conta é o pequeno poupador. Precisamos que a presidente Dilma mostre mais competência e menos arroubo retórico.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS

FONTE BRASIL ECONÔMICO

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