segunda-feira, 14 de maio de 2012

PT e PSDB montam ‘bunkers’ e definem tática para o depoimento de Cachoeira

CPI. Presença de contraventor no Congresso, marcada para amanhã, mobiliza parlamentares governistas e da oposição, que terão estratégias distintas para tentar expor laços dos respectivos adversários com organização criminosa; depoente deve permanecer calado

Eugênia Lopes

BRASÍLIA - Em funcionamento há pouco mais de 15 dias, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira terá seu primeiro grande momento nesta semana, com o depoimento do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Mesmo diante da perspectiva de Cachoeira permanecer calado durante toda a audiência, conforme sinalizou seu advogado Márcio Thomas Bastos, os 64 titulares e suplentes da CPI estão se municiando de dados para tentar extrair o máximo de informações do empresário de jogos de azar. Animados com o depoimento do delegado Matheus Mella Rodrigues, delegado da Polícia Federal responsável pela Operação Monte Carlo, os petistas pretendem apostar suas fichas no aprofundamento de detalhes da relação de Cachoeira com o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo. A estratégia é tentar arrancar de Cachoeira provas que compliquem ainda mais a situação de Perillo.

A oposição, por sua vez, tentará focar o depoimento de Cachoeira em suas relações com a Delta Construções, campeã de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com contratos em quase todos os Estados. Os oposicionistas estão convencidos de que o contraventor era uma espécie de lobista da empreiteira não só na região Centro-Oeste, mas em todo o País. Em depoimento à CPI na última quinta-feira, o delegado Rodrigues confirmou que Cachoeira teve participação na compra de uma casa do governador tucano. Foram usados três cheques de Leonardo Almeida Ramos, sobrinho do contraventor, que somavam R$ 1,4 milhão. Além disso, segundo as investigações da Polícia Federal, Cachoeira teria “cotas” de cargos no governo tucano, com o pagamento até de mesada de R$ 10 mil para secretários de Estado. “Há uma impregnação muito forte dessa organização criminosa do Cachoeira no governo de Goiás”, observou o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PTMG). Os petistas esperam que, caso o contraventor resolva falar na CPI, Perillo fique ainda mais encrencado. O objetivo dos parlamentares do partido é aprovar requerimento da convocação do tucano.

O delegado Rodrigues confidenciou aos integrantes da CPI que o nome do governador do PSDB é citado 237 vezes em conversas entre integrantes do esquema de Cachoeira. Já o nome do governador petista Agnelo Queiroz aparece em 58 conversas. “O Perillo não tem muito como correr, como escapar de uma convocação”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE). “A ação do PT é muito clara: querem pegar o Perillo”, apontou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Para defender o governador, os tucanos alegam que a venda da casa não foi um negócio ilícito. “Se fosse, não seriam três cheques na conta do governador”, disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). O roteiro dos partidos políticos para arguir Cachoeira será fechado na véspera do depoimento do contraventor à CPI. Os petistas montaram um bunker para discutir as propostas de perguntas e o ritmo da s essão da CPI, que será aberta e televisionada. “O importante é desvendar a organização criminosa,
seus membros e modus operandi”, disse o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos mais determinados a comprovar o envolvimento de Perillo com o esquema ilegal de Cachoeira. “Vamos focar na organização criminosa de Cachoeira e sua relação com outros poderes”, resumiu Humberto Costa.

Os tucanos também pretendem fechar o seu plano de ação na CPI hoje à tarde. A ideia é estudar as operações Vegas e Monte Carlo para, então, programar a formulação das perguntas ao contraventor. Diante da perspectiva de Cachoeira ficar calado na CPI, governistas e oposicionistas estão também ansiosos em relação ao depoimento de Cláudio Abreu, que era diretor da Delta na re-gião Centro-Oeste. O depoimento está marcado para o dia 29. Os objetivos de governistas e da oposição com a ida de Abreu à CPI são, no entanto, diferentes. Desconfiados de que Abreu é sócio oculto de Cachoeira em vários negócios, os petistas esperam que o e x-diretor da Delta confirme o esquema apenas no Centro-Oeste. A oposição acha, porém, que a Delta Centro-Oeste é apenas “um dos tentáculos” de Cachoeira na construtora. “Não acredito ser possível a Delta não ter conhecimento do nível de envolvimento da Delta Centro-Oeste com o Cachoeira”, afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). “É preciso ampliar essa investigação e verificar se a Delta Brasil tinha uma relação com a organização criminosa”, defendeu Sampaio.

Habeas corpus no STF

O ministro Celso de Mello deve decidir hoje um pedido da defesa de Cachoeira para que ele seja dispensado de prestar depoimento. Os advogados alegam que ele deve ter acesso aos documentos que o acusam antes de falar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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