quarta-feira, 30 de maio de 2012

Redução da marcha:: Míriam Leitão

Estoques aumentam nas fábricas, há sinais de encalhe de produtos eletrônicos nas lojas, os economistas refazem para baixo as previsões de crescimento. Tudo vai confirmando um PIB mais fraco, em 2012, do que o esperado pelo governo e previsto pelos analistas meses atrás. Na sexta-feira, o IBGE divulga os dados do primeiro trimestre e os números mostrarão um país estagnado no começo do ano. Isso já se sabia que ocorreria.

A novidade é que nos outros meses, abril e maio, os sinais são de que o PIB não retomou o ritmo. Isso permitirá ao Banco Central reduzir novamente os juros hoje. As apostas mais frequentes são de queda de 0,5 ponto na Selic, o que levaria a taxa aos níveis mais baixos da história recente do país. O menor nível foi de julho de 2009, quando chegou a 8,75%, a abril de 2010. Uma queda de meio ponto levará os juros para 8,5%, para um país que está com uma inflação em torno de 5%.

Selic em queda, juros bancários com spread menor e esforço do governo para ampliar a oferta de empréstimos. Nada tem funcionado para elevar a previsão de crescimento do PIB. Pelo contrário, entre as 100 instituições do mercado financeiro e consultorias que o Banco Central ouve semanalmente sobre as projeções que estão fazendo, já se espalha a impressão de que o número pode ser menor do que 3%, como informado na última segunda-feira pelo Boletim Focus.

Veja no gráfico abaixo como despencaram as previsões de crescimento para o PIB de 2012. Ainda que isso seja só expectativa e possa mudar amanhã, o gráfico mostra bem a perda de entusiasmo com o ano.

Há vários motivos para isso, nem todos são externos, mas a maioria é de fato fruto da instabilidade que vem de fora. Como 2011, este ano começou com esperança de que a Europa estivesse saindo do pior da crise. Depois da renegociação da dívida da Grécia aumentou a expectativa de que isso fosse possível. Mas de novo a Europa surpreendeu pela capacidade de continuar piorando.

Neste fim de maio, o mundo se vê diante do medo das consequências da saída atabalhoada da Grécia da Zona do Euro, de um ataque à Espanha, que na segunda-feira enfrentou uma disparada dos juros cobrados em sua dívida, e de governos se preparando para o pior. A Inglaterra, que nem faz parte da Zona do Euro, está adotando planos de contingência para uma instabilidade maior na região e, na semana passada, na cúpula informal dos países que detêm a mesma moeda, discutiu-se exatamente a possibilidade de os países adotarem planos de contingência.

Isso fez o dólar subir fortemente. Este ano, o dólar já chegou numa mínima de R$ 1,70, caindo 9,1% em relação ao último dia de 2011, e depois subiu 22%, atingindo a máxima de R$ 2,08. De lá para cá, já caiu 5,3%. Essa instabilidade prejudica exportadores tanto quanto a valorização forte da moeda brasileira.

A redução do ritmo de crescimento da China passou a ser o grande temor do mundo. A cada notícia boa, os humores melhoram, como ontem cedo. Mas se há algum indicador que sai menor do que o esperado a onda de pessimismo se espalha. Concretamente para o Brasil, tem havido queda do preço do principal produto de exportação, o minério de ferro, pela redução da demanda da China.

A indústria brasileira tem sido afetada também pelo aumento do protecionismo argentino. Há empresas que já produziram o que têm que entregar aos seus clientes na Argentina, mas a barreira criada pelo fim das licenças automáticas ajuda a encher os pátios de inúmeros produtos, principalmente na região Sul do Brasil.

Nem tudo é externo, no entanto. O governo tem reduzido o ritmo dos investimentos em relação aos anos anteriores. E não o faz para conter gastos, é de novo a espantosa incapacidade gerencial. O investimento industrial está muito baixo também, pela dúvida de vários segmentos empresariais sobre o desempenho da economia brasileira nos próximos meses. Neste ponto, o acúmulo de estoques nas empresas, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV) detectou e divulgou na segunda-feira, não ajuda a elevar o investimento. Há várias empresas que começam a adiar planos de expansão que já haviam anunciado.

Por enquanto, o mercado de trabalho permanece forte e isso é uma garantia importante. Normalmente, a demissão é a última decisão do empresário num contexto de redução do crescimento. Quando acha que a estagnação é temporária, ele mantém seu quadro de funcionários. Felizmente, é esse o caso.

FONTE: O GLOBO

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