terça-feira, 19 de junho de 2012

Aliança com Maluf abre crise em campanha do PT

Erundina, recém-anunciada vice de Haddad em SP, diz não aceitar coligação

Suspensa do PT em 1993 por aceitar um ministério do governo Itamar Franco, a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, atualmente no PSB, disse ontem que não admite mais ser vice de Fernando Haddad, após a formalização da aliança com Paulo Maluf (PP). Ela classificou como constrangedora a união com tudo o que rejeita na política e disse que o deputado representa "o atraso e a falta de ética". Petistas, perplexos, tentam mudar a decisão. Maluf, que não pode deixar o Brasil por uma ordem de captura da Interpol, fez o anúncio da união em sua própria casa, com a presença do ex-presidente Lula.

Com Maluf, Erundina sai

Recém-confirmada como vice de Haddad à prefeitura de São Paulo, deputada repudia aliança

Sérgio Roxo

SÃO PAULO - Descontente com a união selada ontem em uma visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à casa de Paulo Maluf (PP), a deputada federal Luiza Erundina (PSB) disse ontem que, com a aliança, não aceita mais o posto de vice na candidatura do petista Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo.

- Vou conversar com o meu partido. Meu partido tem outros nomes, não tem problema nenhum. Mas eu não aceito - afirmou ao GLOBO, na tarde de ontem.

A declaração deixou os petistas perplexos. A coordenação da campanha de Haddad se reuniu para discutir o assunto e decidiu procurar a deputada para tentar reverter a situação. O vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, que articulou a adesão de Erundina à chapa, disse, por meio de sua assessoria, que não daria entrevistas até se reunir com a direção do partido e com a deputada, o que deve acontecer hoje. Amaral, no entanto, frisou que "a vaga de vice de Haddad é do PSB", o que dá a entender que, com a desistência de Erundina, o partido nomearia outra pessoa à chapa do petista.

O episódio acrescenta mais um conflito à conturbada relação de Erundina com o PT. Fundadora e primeira prefeita do partido em São Paulo (1989-1992), ela deixou a legenda em 1997 para se filiar ao PSB. O desgaste teve início em 1993, quando a hoje deputada foi suspensa por um ano por aceitar o convite do então presidente Itamar Franco para assumir o Ministério da Administração Federal.

Para Erundina, a aliança do PT com o PP é "constrangedora". Ela e Maluf se enfrentaram na eleição da prefeitura de 1988, vencida pela socialista:

- Não é a pessoa do Maluf, é o que ele representa na História política deste país. No momento em que se está buscando a verdade sobre os crimes da ditadura, está se celebrando um acordo com alguém que foi um dos protagonistas e sustentáculo da ditadura militar. Fica tudo muito esquisito.

A deputada acrescentou que Maluf representa "o atraso e a falta de ética":

- Tudo que eu rejeito na política e que a sociedade também não aceita.

Oposição de militantes

Na avaliação de Erundina, Haddad não conseguirá implantar as mudanças que promete na cidade se estiver ao lado do líder do PP. O tempo de TV ganho com a aliança, que fará com que o PT tenha a maior fatia do horário eleitoral gratuito (mais de sete minutos), não vale o desgaste, segundo a socialista:

- Não acho que um minuto e 30 segundos justifiquem que se passe para a sociedade uma atitude contraditória do ponto de vista de quem quer fazer um governo que seja renovador, que seja criativo, que seja democrático. Não vai fazer isso junto com alguém que é o oposto disso.

A deputada diz ainda que a forma como o acordo foi selado também contribuiu para aumentar a sua rejeição:

- A presença dos três (Maluf, Lula e Haddad) na casa do Maluf é uma coisa muito simbólica, representativa.

Erundina não sabe quando vai conversar com o partido nem estabelece um prazo para decidir o seu futuro. Ela faz questão de destacar que a sua posição não é individual. Conta ter se reunido, no final de semana, com cerca de 200 pessoas, "entre militantes do PT e do PSB, intelectuais e lideranças da sociedade", que se opuseram à aliança.

Na noite de domingo, ela conta ter relatado a Haddad o que ouviu :

- Ele (Haddad) estava sabendo da minha insatisfação em nome de, no mínimo, 200 pessoas.

Haddad disse que conversará com Erundina:

- Tenho o maior apreço por Erundina. Vou conversar com ela sob as perspectivas que foram colocadas agora. Não fazemos alianças com pessoas mas com partidos da base do governo Dilma.

Colaborou Mariana Timóteo da Costa

FONTE: O GLOBO

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