segunda-feira, 18 de junho de 2012

Aliança entre PT e PSB em São Paulo contrasta com conflito nos bastidores

Cristian Klein

SÃO PAULO - Haddad e Erundina: cordialidade entre os companheiros de chapa não reflete a desconfiança entre os partidos a que pertencem

Quem tomasse o encontro que divulgou, na sexta-feira, a aliança entre o PT e o PSB, para a eleição municipal em São Paulo, como indicador do clima entre os dois partidos só teria a dizer que melhor relação não há. Num evento carregado de emoção, o pré-candidato petista, Fernando Haddad, rendeu homenagens à deputada federal Luiza Erundina, indicada para vice, e ao presidente do PSB, o governador Eduardo Campos, a quem chamou de "a grande liderança que será no futuro próximo". Campos tem ambição de um dia ocupar a Presidência da República, que desde 2003 está nas mãos do PT.

A troca de gentilezas em São Paulo, no entanto, mal retrata o ambiente de desconfiança e divergência em que vivem os dois partidos nacionalmente. PT e PSB há cinco meses negociam alianças para o tabuleiro de uma disputa municipal cujos resultados são apontados por ambos como desvantajosos e que tem como pano de fundo a eleição presidencial de 2014.

Dirigentes de parte a parte reclamam da falta de boa vontade. Sob a justificativa de destravar as negociações com o PSB, o PT chegou a aprovar uma resolução, no mês passado, que conferiu à direção nacional o poder de decidir as coligações municipais. Com a medida, a cúpula petista conseguiu oferecer o apoio do partido a candidatos do PSB em cinco cidades consideradas prioritárias pela sigla de Eduardo Campos. O PT contabiliza os apoios em Duque de Caxias (RJ), Mossoró (RN), Macapá (AP), Boa Vista (RR) e, mais recentemente, Aracaju (SE).

Mesmo assim, o PSB se queixa da pouca generosidade do PT. "Desconheço essa resolução. Não são tantas as cidades. Apoiamos em até mais lugares. Não há reciprocidade. Onde realmente queríamos, como Campinas, São José do Rio Preto e Franca, o PT não nos apoia", afirma o primeiro-secretário do PSB, Carlos Siqueira, que cita cidades paulistas em que seu partido está alinhado ao PT, como São Paulo, São Bernardo do Campo, Guarulhos e Osasco.

As demandas listadas por Siqueira se estendem a uma série de capitais, como Cuiabá (MT), João Pessoa (PB), Manaus (AM) e Maceió (AL). "Em Cuiabá, o PDT, o PPS e o PMDB já nos deram apoio. E oferecemos o vice ao PT. Mas até hoje não tivemos resposta", diz, em referência à candidatura do empresário Mauro Mendes, dono da Bimetal, líder nacional no segmento de torres para telecomunicações.

O secretário nacional de organização do PT, Paulo Frateschi, rebate: "O próprio candidato não quer o nosso vice. Não dá. Mas se for fundamental vamos intervir", afirma.

O secretário-geral nacional do PT, Elói Pietá, é menos transigente com as expectativas do PSB: "Olha o tamanho dos dois partidos!", diz. Pietá argumenta que as queixas são naturais e compara: "Políticos e partidos reclamando de apoio são como os empresários que sempre falam dos impostos", emendou.

O dirigente, por sua vez, também critica o PSB por falta de reciprocidade, ao comentar a possibilidade do aliado romper nas duas maiores capitais governadas pelo PT: Recife (PE) e Fortaleza (CE).

Em Fortaleza, diz Pietá, a decisão do governador Cid Gomes de lançar nome próprio em vez de apoiar o do PT, Elmano Freitas, é "sem argumento". Carlos Siqueira defende o governador ao dizer que ele não quer se arriscar, por ter 60% de aprovação na capital, enquanto Freitas teria apenas 1% de preferência nas pesquisas e a prefeita Luizianne Lins, 60% de rejeição. "Às vezes, quando alguém não quer, sempre se acha um argumento", rebate Pietá.

No Recife, a avaliação dos petistas é que o erro foi do próprio partido, ao demorar a definir o candidato. Isso abriu a oportunidade para o governador Eduardo Campos preparar o lançamento de nome próprio do PSB. "Está todo mundo conversando, mas não está fácil [manter o apoio ao PT]", disse, na sexta-feira, ao Valor, indicando o rompimento.

Campos deverá anunciar a decisão depois de uma conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No PT, o afastamento do PSB em Fortaleza e no Recife é visto como uma estratégia do governador para ampliar seu domínio no Nordeste e cacifar seu projeto presidencial. Seria este o poderoso propósito da briga eleitoral cada vez mais acirrada com os velhos aliados petistas.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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