sexta-feira, 29 de junho de 2012

BC vê crescimento de apenas 2,5% este ano

Crise no exterior prejudica economia brasileira, diz. Caem projeções para agricultura, indústria e consumo das famílias

Gabriela Valente

BRASÍLIA . O Banco Central (BC) admitiu que a crise internacional é mais grave que o previsto anteriormente e, por isso, o crescimento do Brasil será ainda menor este ano. A estimativa recuou de 3,5% para 2,5% - abaixo dos 2,7% registrados no ano passado. Ontem, o BC traçou um cenário mais pessimista para indústria, agricultura e setor de serviços, com o investimento e o consumo das famílias menores que o esperado. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anteontem, também já revisara a projeção para 2,5%.

No relatório trimestral de inflação divulgado ontem, o BC indicou ainda que os cortes dos juros, feitos desde meados do ano passado, têm demorado mais tempo que o normal para incentivar a economia por causa das incertezas internacionais. No entanto, a autarquia se esforçou para não contaminar ainda mais as expectativas e indicou que o crescimento vai se acelerar, chegando a 4% na virada do ano.

- A projeção está representando a recuperação frágil da economia. O lado bom é que esse número contempla recuperação - disse o diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton de Araújo. -A economia brasileira não está em crise. A fragilidade econômica brasileira é assimétrica e está concentrada em alguns segmentos.

Os números do BC mostram o oposto: desempenho pífio dos primeiros meses do ano fez com que a autarquia diminuísse as perspectivas dos principais setores da economia no relatório de inflação.

O corte na previsão de crescimento para a agropecuária foi drástico: queda de 1,5% este ano. A redução de quatro pontos percentuais deveu-se aos efeitos da seca no início do ano.

Para a indústria, a expansão estimada é de 1,9%, 1,8 ponto percentual abaixo do previsto em março. O crescimento do setor de serviços foi revisto de 3,3% para 2,8%. Já a previsão de investimento desabou de 5% para 1% em 2012, enquanto a estimativa para o consumo das famílias recuou de 4% para 3,5%.

Por outro lado, o BC manteve a estimativa para o consumo do governo em 3,2%. O relatório foi concluído antes do anúncio, na quarta-feira, do aumento das compras governamentais para impulsionar a economia.

- O governo está fazendo tudo certo. Está fazendo seu papel de gastar mais e ser mais otimista que o mercado, mas está claro que a economia vai crescer menos porque a primeira metade do ano foi muito negativa - afirmou o professor da UFRJ João Saboia. - Talvez fosse a hora de o governo pensar em diminuir o superávit primário.

Estimativa para inflação subiu a 4,7%

Mas o BC trabalha com a premissa de que o país economizará o acordado para este ano - cerca de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) - sem usar a prerrogativa de abater os gastos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da meta de superávit primário. A autarquia apontou ainda mudança no padrão de crescimento dos emergentes, com revisões para baixo tanto na América Latina como na Ásia. O economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, ressaltou, porém, que isso deve aliviar a pressão sobre os preços.

Mesmo assim, o BC elevou a projeção de inflação oficial (pelo IPCA, Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 4,4% para 4,7%, acima do centro da meta, de 4,5%. A justificativa foi o aumento do dólar, que encarece insumos e produtos importados.

- Você deve ter percebido a alta do caviar - brincou Araújo.

Para 2013, o BC espera inflação de 5%, contra 5,2% antes.

FONTE: O GLOBO

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