terça-feira, 19 de junho de 2012

Caciquismo é igual na direita e na esquerda:: Raymundo Costa

Engana-se quem acredita que José Sarney está contente com a suposta preferência de Dilma Rousseff para suceder o maranhense na presidência do Senado, em 2013. Certo, Lobão, ministro das Minas e Energia de Dilma, integra o grupo político de Sarney no Maranhão. Mas Sarney prefere escolher o nome do sucessor a aceitar uma indicação da presidente da República.

Parece estranho, mas não é. Sarney chefia talvez a mais longeva oligarquia do país, sabe como poucos manejar os cordéis do poder. Deveria diferir muito dos caciques mais modernos, sobretudo aqueles considerados mais à esquerda, mas não é o que ocorre: os caciques de esquerda são iguais aos da direita; os antigos, aos modernos, como parece demonstrar a pré-campanha eleitoral de 2012. O que prevalece é o "dedazo" ou pelo menos a vontade de quem circunstancialmente está no exercício do poder.

Durante anos, os tucanos foram acusados de ser um partido de cúpula, no qual as decisões eram tomadas por quatro ou cinco pessoas - três de São Paulo, uma de Minas e outra do Ceará. Em 2012, devido à necessidade de concorrer com um nome de peso na cidade, o PSDB fez eleição prévia para escolher José Serra candidato. O PT, um partido com histórico de prévias, por seu turno, submeteu-se ao "dedazo" de Lula para indicar Fernando Haddad para o posto.

Imposição de candidatos marca eleição de 2012

A expressão "dedazo" passou a ser usada no México para designar a prática de os presidentes da República indicarem seus sucessores nas fileiras do PRI, que exerceu o poder por mais de 70 anos. Nunca foi de uso muito corrente no Brasil, até José Serra desencavá-la numa declaração sobre a disputa paulistana de 2008. "No PSDB, em São Paulo, não somos partido de coronéis, não pratico "dedazo"", afirmou, após a crise que tomou conta dos tucanos com o apoio do governador (Serra) a Gilberto Kassab, na eleição para a prefeitura do município.

Do Sul ao Norte, as escolhas partidariamente mais abertas estão decididamente em baixa nas eleições municipais. Com maior ou menor dificuldade, os caciques regionais impuseram ou ainda tentam impor suas vontades eleitorais e a hegemonia de seu grupo político.

No Acre, por exemplo, os irmãos Viana (o senador Jorge e o governador Tião) praticamente alijaram da política local uma figura da expressão de Marina Silva, ex-candidata a presidente da República pelo PV, atualmente sem filiação partidária. No Rio Grande do Sul, o presidente regional do partido, Raul Pont, fechou questão com a candidatura própria - posição coerente com o histórico partidário. O governador Tarso Genro preferiria apoiar a deputada Manuela D"Ávila, do PCdoB.

O problema de Tarso Genro é a reeleição. Os nomes até agora apontados pelo PT não sugerem segurança eleitoral, enquanto Manuela, mesmo na hipótese de uma derrota, poderia ser uma aliada contra o prefeito José Fortunati, que é do PDT mas tem trânsito fácil no PT, partido que ajudou a fundar no Rio Grande do Sul, e a simpatia da presidente da República Dilma Rousseff. O Rio Grande do Sul já não parece o mesmo: a aliança do PCdoB para as eleições municipais é com o PP da senadora Ana Amélia. O desenho eleitoral da capital Porto Alegre ainda não pode ser considerado definitivo.

Político da nova geração e - talvez - de renovação do PSDB, Beto Richa dispunha de um acordo para apoiar Gustavo Fruet nas eleições para a prefeitura de Curitiba, este ano. Esqueceu o que prometeu e seu candidato agora é Luciano Ducci, do PSB. Fruet, como em geral costuma acontecer em situações como essas, saiu do PSDB e vai disputar a cadeira municipal pelo PDT. Com o apoio do PT, partido com qual andou às turras em 2005, durante as investigações da CPI do mensalão.

O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, já é um cacique bem fornido. Mas bem que tentou emplacar o candidato do PT, seu secretário Maurício Rands. Não deu certo.

O problema do Recife parece ter uma forte conotação local: o ódio visceral entre o ex-prefeito João Paulo e o atual prefeito João Costa. Caso de criatura e criador: à época, Lula e os principais caciques do PT queriam o senador Humberto Costa como candidato; João Paulo, com 83% de aprovação, impôs João Costa, que era seu secretário. Brigaram em questão de meses. O PT agora quer impor o nome do senador Humberto Costa. Pode ser um flanco aberto para Campos entrar com um nome próprio. Afinal, o governador de Pernambuco tem razão quando diz que, se o PT local é incapaz de se unir internamente, imagine-se no comando de uma frente partidária.

Em Belo Horizonte (MG), aparentemente a cúpula do PT conseguiu contornar a crise interna que ameaçava a candidatura à reeleição do prefeito Márcio Lacerda. Mas ainda podem ocorrer surpresas. Principalmente quando se sabe que o cacique local não é do PT nem do PSB, é do PSDB. E mais ainda: é o principal nome dos tucanos para a discuta presidencial com Dilma Rousseff, em 2014.

Apesar do extraordinário desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, quando tirou Dilma Rousseff do anonimato ministerial diretamente para a cadeira de presidente da República, o "dedazo" não significa necessariamente sucesso, como demonstram as dificuldades que o candidato do ex-presidente da República encontra para descolar do bloco de candidatos nanicos em São Paulo. O próprio Lula, aliás, é personagem de um "antidedazo" histórico.

Em 2004, o PT decidiu apoiar a candidatura do hoje senador do PCdoB, Inácio Arruda, para prefeito de Fortaleza. Uma jovem insolente resolveu desafiar todos os poderes constituídos do PT: Lula, José Genoino (à época presidente nacional do PT) e o então chamado campo majoritário do partido. Ganhou por um voto as eleições zonais de Fortaleza. O PT decidiu baixar o centralismo democrático e intervir no diretório, mas não foi adiante. Luizianne Lins foi eleita. Hoje, é vítima do próprio veneno e tenta impor o nome de sua vontade a candidato a prefeito da cidade.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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