quarta-feira, 27 de junho de 2012

Corrida eleitoral acelerada

Impeachment leva partidos a anteciparem articulações para a disputa pela Presidência

Flávio Freire

ASSUNÇÃO . Ainda em meio ao debate sobre o processo que levou à queda do presidente Fernando Lugo, a crise política acelerou o processo eleitoral no Paraguai. Mesmo com o início da campanha marcado só para dezembro e a nova eleição prevista para abril, a movimentação dos pré-candidatos já ganha espaço no cenário político, ainda conturbado pelas negociações dos partidos para lançar os nomes que disputarão o cargo.

Na lista de indicados para substituir Federico Franco, que assumiu o poder semana passada, nomes como os do opositor Horacio Carter (Partido Colorado), do general Lino Oviedo (Unace) e do candidato de Lugo, o apresentador de TV Mario Ferreiro (Frente Guasú), movimentam-se na corrida.

Com maior popularidade em contestadas pesquisas de intenção de voto, Carter deu o pontapé inicial de sua pré-campanha ontem. Num evento com correligionários, o colorado chegou em grande estilo. Escoltado por um cavaleiro carregando a bandeira do partido, foi recebido sob aplausos dos convidados. E tratou de afastar a tese defendida por Lugo de que estaria por trás de sua destituição.

- O movimento ao qual pertenço foi o terceiro a se movimentar. A minha sensação é que muita gente estava ganhando um cheque (do governo), do tipo: "Vamos fazer um julgamento, mas negociar por baixo". Fomos sérios e determinantes, sem pedir nada ao novo governo - disse, no evento que contou com Nicanor Duarte, antecessor de Lugo.

A crise política é tratada com cautela pelos políticos locais. Duarte, na primeira pergunta feita pelo GLOBO sobre o assunto, desvencilhou-se e partiu para o meio da multidão. Cercado por seguranças e assessores que faziam foto do repórter, Carter negou qualquer perseguição política a Lugo e adotou discurso radical contra ele.

- Há muitos anos que percorro este país, e o cheiro de sangue é muito forte - disse Carter, referindo-se aos conflitos no campo, um dos temas que devem ser explorados nas eleições.

Ao GLOBO, o general de reserva Lino Oviedo, acusado de tentativa de golpe em 1996 contra o então presidente, Juan Carlos Wasmosy, assumiu a bandeira de pré-candidato:

- Não tenho nem mais um minuto a perder. Estou pronto para um governo sério - disse.

Aos 68 anos, pelas leis paraguaias esta é a última eleição em que poderá concorrer - o limite de idade para disputar um cargo eletivo é de 70 anos. Diante da contagem regressiva, Oviedo, assim como Carter, prega segurança jurídica aos brasileiros que atuam no país.

- Temos de trabalhar para que os brasileiros não se sintam mais inseguros, como vinha acontecendo nos últimos anos - disse ele, que também negou a hipótese de estar por trás de um movimento para derrubar Lugo.

O golpe

As acusações ganharam força com a divulgação de um documento pelo WikiLeaks que comprovaria a tese de que o ex-bispo teria sido alvo de perseguição política. "Correm rumores de que o líder da Unace, o general Lino Oviedo, junto ao ex-presidente Nicanor Duarte, buscaria destituir Fernando Lugo com um julgamento político dentro do Parlamento", afirma o texto enviado em caráter confidencial, em 28 de março de 2009, pela Embaixada dos EUA em Assunção ao Departamento de Estado em Washington.

Segundo o telegrama, Franco assumiria a Presidência, caso o plano de Oviedo e Duarte desse certo, com a ajuda da Suprema Corte. Duarte ficaria com a Presidência do Senado e, com o apoio de Oviedo, tornaria-se o terceiro na linha sucessória da Presidência. Após Franco chegar ao poder, teria de convocar eleições para a vice-Presidência, cobiçada por Oviedo.

Indicado por Lugo meses atrás para concorrer à sua sucessão, Mario Ferreiro estaria mantendo conversas com o ex-presidente. Especula-se que ele teria pensado em desistir, mas colaboradores de Lugo garantem que está mantido no páreo. Aos partidários, diz que pretende, "mais do que nunca, lutar pela retomada da democracia". À frente do Partido Liberal, agora no poder com Franco, o empresário Blás Llano também quer tomar carona na atual conjuntura.

FONTE: O GLOBO

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