terça-feira, 19 de junho de 2012

Eurocopa, semifinais:: Vinicius Torres Freire

Resultado da eleição grega dá tempo para a Espanha respirar, mas crise bancária já está nas rodadas finais

Uma vitória da esquerda na eleição grega teria provocado um infarto na Espanha e ataques de pânico pelo resto do mundo. Graças a parte mínima do eleitorado grego, pois, os líderes políticos e outros poderosos da Europa ganharam algum tempo para evitar o pior.

Quanto tempo?

Sabe-se lá, mas, a julgar pelo custo de financiamento da dívida espanhola ontem no mercado, o tempo deve ser curto. O mercado já não está ligando muito para a promessa europeia de arrumar uns 100 bilhões de euros para tapar rombos nos bancos espanhóis.

Para piorar, ainda não se sabe que bicho vai dar na Grécia. Observe-se, em primeiro lugar, que o resultado da eleição foi apertadíssimo, tanto na contagem dos votos como na distribuição de cadeiras no Parlamento.

A Nova Democracia, de centro-direita, responsável pelos capítulos finais do descalabro grego, teve menos de 30% dos votos. No Parlamento, precisa do Pasok, "socialistas", centro-esquerda, para fazer uma maioria de 12 votos. Não dá para o gasto: basta três tipos do Pasok debandarem que o caldo entorna.

A Nova Democracia terá então de apelar aos liberais (Independentes), que porém são antiacordo de arrocho, à Esquerda Democrática (antiarrocho, mas conversável) ou aos nazistas da Aurora Dourada, que são loucos.

Ou seja, a Grécia está a passos de nova crise política, pois o país está em depressão, metade dos jovens não tem emprego, a economia não voltará a crescer até pelo menos 2014 e não voltará ao nível de 2007 antes de 2025, se tanto. Além do mais, mais de metade do eleitorado votou nos partidos antiarrocho (antieuro, enfim).

Por que tanta minúcia sobre a eleição grega? Se por mais não fosse (por interesse pela história do mundo, enfim), porque o colapso grego tiraria mais azeitonas (kalamatas?) da nossa empada econômica, a do Brasil.

Embora o colapso grego viesse a jogar lenha na fogueira espanhola, o mercado garroteia a Espanha por conta de outros fatores. Ninguém mais acredita nos relatos oficiais sobre o tamanho dos rombos bancários. Ainda que sejam tapados tais rombos, o governo ficaria ainda mais endividado (a não ser que a Europa dê dinheiro diretamente à banca, o que a Alemanha não quer).

Enfim, alguns rapazes do mercado (lá da Europa) dizem que a Espanha vai precisar de dinheiro ou decisão firme da Europa antes do final do mês. Antes da nova reunião de cúpula dos líderes europeus. No Brasil não vamos crescer muito mais que 2% neste ano. Com desastres na Europa, vamos ter recessão.

O colunista mudou

Se não foi para melhor, pelo menos para outra cidade. Este colunista passa a escrever de Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos, onde vai passar uns tempos em estudos e pesquisas universitários.

Causa estranhamentos e dissonâncias escrever sobre crise, a americana em particular, num lugar em que a renda per capita é o quíntuplo da brasileira e em que na periferia a nossa "classe C" parece miserável. Num lugar em que o desemprego é igual ao do Brasil, em que a TV a cabo custa menos, o celular também, a comida é mais barata (afora o bife) e o vinho chileno custa a metade do que a gente paga aí.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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