segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ex-ministro afirma que imprensa 'tomou partido' no mensalão

Advogado de um dos réus do processo, Thomaz Bastos diz que mídia tenta influenciar julgamento no Supremo

Ex-ministro afirma temer que "publicidade opressiva" provoque "justiçamento" como no caso Isabela Nardoni

O ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos afirmou que a imprensa "tomou partido" contra os réus do processo do mensalão e tenta influenciar o resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal fazendo "publicidade opressiva" do caso.

"Ela tomou um pouco de partido nessa questão", disse Bastos na noite de sábado, em entrevista ao programa "Ponto a Ponto", da BandNews, canal pago da TV Bandeirantes. "Elevou a um ponto muito forte o mensalão que vai ser julgado, deixando de lado os outros mensalões."

O STF marcou para agosto o início do julgamento do mensalão, o escândalo que sacudiu o governo Lula em 2005 e atirou no banco dos réus políticos do PT e de outros partidos que ajudaram os petistas a chegar ao poder.

Bastos estava no governo na época em que o escândalo veio à tona e hoje é advogado de um dos réus do processo, o ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado, acusado de colaborar na montagem do esquema de financiamento político que beneficiou o PT e seus aliados.

Na entrevista, conduzida pela jornalista Mônica Bergamo, colunista da Folha, e pelo sociólogo Antonio Lavareda, o advogado disse ver com preocupação a capacidade da imprensa de influenciar os juízes. "A vigilância da imprensa é fundamental", afirmou. "Mas algumas vezes ela erra."

O ex-ministro citou o caso de Alexandre Nardoni e sua segunda mulher, Anna Carolina Jatobá, condenados em 2010 pela morte da filha dele, Isabela Nardoni, de 5 anos. "É um exemplo típico de um julgamento que não houve", disse. "Foi um justiçamento."

Bastos lembrou que o advogado do casal Nardoni, Roberto Podval, foi agredido na rua durante o julgamento, "de tal maneira aquilo foi insuflado pelos meios de comunicação", e afirmou que "o julgamento se torna uma farsa" em situações como essa.

Questionado se queria dizer que isso também estaria ocorrendo no processo do mensalão, o advogado respondeu: "Não estou querendo dizer, mas tenho medo que ocorra. Será possível fazer um julgamento com uma publicidade opressiva em cima?"

Há duas semanas, o ministro do STF Gilmar Mendes acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de pressionar o Supremo para adiar o julgamento do mensalão para depois das eleições municipais deste ano. Lula negou ter tratado do tema com Mendes ou outros ministros.

Bastos, que é amigo do ex-presidente Lula e participou da seleção de 8 dos 11 ministros que integram a corte atualmente, disse acreditar que a pressão da imprensa chegará "muito esbatida [atenuada]" ao Supremo desta vez.

"Os ministros são homens experimentados, preparados, probos e capazes de fazer um julgamento técnico que se aproxime o mais possível da justiça", disse o advogado.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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