terça-feira, 19 de junho de 2012

PSDB vê desvio de repasses federais à Delta

Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - Cruzamento de informações dos documentos de operações da Polícia Federal de posse da Comissão Parlamentar de Inquérito do Cachoeira revela que, de uma amostra de quase R$ 800 milhões repassados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) à empresa Delta, em um ano (de maio de 2010 a abril de 2011), quase R$ 30 milhões foram destinados à conta da empresa Alberto & Pantoja e, de lá, foram repassados a contas de pessoas ligadas ao esquema.

A afirmação foi feita ontem, em discurso no plenário, pelo líder do PSDB, Alvaro Dias (PR). "Dinheiro público irrigando a conta dos criminosos, do esquema Cachoeira. Aí está a relação de promiscuidade do governo federal com a empresa Delta e Cachoeira. Portanto, é a justificativa para a convocação já do Fernando Cavendish [dono da Delta] e do Luiz Antônio Pagot [ex-diretor do Dnit], para esclarecer essa relação de promiscuidade conferida nesses dados, que são sigilosos, mas foram revelados porque o Supremo Tribunal Federal (STF) nos autorizou", afirmou Dias.

Da tribuna, o tucano mostrou um gráfico para ilustrar a relação entre governo federal, Delta, Alberto & Pantoja, empresas laranjas, e, por fim, familiares e integrantes do esquema de Cachoeira. O processo começa com a Delta ganhando licitações com preços baixos. O segundo passo é a empresa apresentar sucessivos aditivos, por meio de tráfico de influência de Cachoeira, que o líder do PSDB define como "grande lobista" ou "sócio oculto da Delta".

Depois que os recursos chegam à Delta, a empresa "simula serviços fictícios com laranjas", de acordo com o gráfico de Dias. Os recursos saem do governo federal para a Delta, que os repassa para empresas-laranja, especialmente a Alberto & Pantoja, e dela para os destinatários finais. São basicamente duas as contas da Delta que recebem o dinheiro, uma no Bradesco e outra no Banco Safra, ambas em agências do Rio de Janeiro. O tucano cita agências e número de contas.

No período citado por Dias, os depósitos feitos pelo governo federal para a Delta nessas contas chegaram a R$ 729 milhões. O valor recebido pela empresa do governo, nesse período, é muito maior, mas Dias afirmou que esses depósitos foram usados como amostragem. O caminho do dinheiro leva R$ 29.995.967,43 a uma conta da Alberto & Pantoja, que as investigações mostram ser uma empresa ligada a Cachoeira. O tucano também apresentou o número da conta da empresa que teria recebido o valor.

A partir daí, o líder mostra a distribuição dos recursos. Entre vários exemplos de pessoas e empresas que teriam recebido depósitos uma vez ou durante vários meses seguidos em 2010, ele citou Geovani Pereira da Silva, que seria o contador de Cachoeira, JR Construções, Luiz Carlos Almeida Ramos, irmão de Cachoeira, a Brava Construções, a Mapa Construtora, Sebastião Alves de Morais Filho, parente de Cachoeira, e o ex-vereador Wladimir Garcez Henrique. Depois, citou depósitos de Alberto & Pantoja em 2011 para a Mapa Construções, Lenine Araújo de Souza e Excitante - cujo sigilo bancário foi quebrado na última reunião da CPI. Em 2011, segundo o tucano, o total desses repasses, com origem no governo federal, do Dnit para a Delta e dela para a Alberto & Pantoja, alcança R$ 29.992.929,00.

"É necessário ouvir, para adotar providências posteriores, o senhor Fernando Cavendish e o senhor Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Dnit, que, aliás, surpreendentemente afirmou ter sido derrubado do cargo que ocupava pelo bicheiro Cachoeira e pelo empresário Fernando Cavendish. Eu digo surpreendentemente, porque a empresa Delta era beneficiada, privilegiada com contratos generosos e aditivos expressivos através do Dnit, onde estava Pagot. Se ele faz essa queixa, certamente não era o responsável principal pela concessão desses aditivos. Obviamente, estaria recebendo ordens para que esses aditivos fossem concedidos", afirmou Dias. O tucano vai pedir ao presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que convoque reunião administrativa do colegiado para votar requerimentos de convocação de Cavendish e Pagot.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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