quinta-feira, 21 de junho de 2012

PT e PSB têm mais embates que alianças no país

Cristian Klein

SÃO PAULO - Aliados históricos, mas com encontro marcado para uma futura disputa de diferentes projetos presidenciais, o PT e o PSB já experimentam nestas eleições municipais um embate que os colocam cada vez mais apartados. O rompimento em Fortaleza, e talvez em Recife - as duas maiores capitais governadas pelo PT -, é apenas a ponta do iceberg de uma base de municípios Brasil afora onde a sigla liderada pelo presidenciável e governador de Pernambuco Eduardo Campos se apresenta como adversária dos petistas.

Levantamento do PT obtido pelo Valor mostra que, nas 118 maiores cidades do país, as duas legendas são aliadas em 42 mas adversárias em 54. Em outras 22, as siglas ainda estão em negociação. O balanço se concentra no conjunto dos municípios com mais de 150 mil votantes e que reúnem mais de 40% do eleitorado brasileiro. É a fatia mais desejada pelos partidos com projetos de poder nacional, pela capacidade de influenciar os demais municípios.

Entre as 42 cidades onde PT e PSB são aliados, em 27 delas os petistas são os cabeças de chapa, enquanto em sete o pré-candidato é pessebista. Nas oito restantes, os dois partidos estão numa coligação apoiando outra legenda. Esses números mostram a tendência hegemônica do PT, o que nos últimos meses foi motivo de uma série de negociações em que o PSB tentou arrancar o apoio do PT.

Por outro lado, quando os petistas cedem, o PSB se mostra como o aliado preferencial. De acordo com o levantamento, no conjunto dos 118 maiores municípios, o PT tem, por enquanto, 86 candidaturas próprias. Em sete, ainda há negociação e em outras 25 o partido decidiu apoiar candidato de outro partido. O PSB é o mais favorecido, ao receber apoio em sete cidades. Em seguida, vêm o PDT (seis), PMDB (quatro), PCdoB, PP, PRB e PTB (duas) e PSD (uma). Coincidência ou não, o PR é o único dos grandes partidos da base aliada que não tem um candidato seu apoiado pelo PT. Desde que o ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, foi demitido pela presidente Dilma Rousseff, o PR mantém relação conflituosa com os petistas.

Sua condição é semelhante à das legendas de oposição ao governo federal. Mas com PSDB, DEM e PPS há proibição do PT em se firmar aliança majoritária, ou seja, com um ou outro como candidato a prefeito ou vice-prefeito. O PT, porém, não recusa apoio das siglas de oposição, desde que nestas condições subalternas ou quando os adversários participam com ele de uma coligação encabeçada por partidos da base aliada.

Os tucanos são os maiores adversários - em 110 das 118 cidades, seguidos pelo DEM (96) e PPS (87) - mas estão juntos com os petistas em quatro delas, número menor que os do DEM (sete) e PPS (14).

Os parceiros mais alinhados ao PT é a trinca liderada pelo PDT, com união em 47 cidades, e que conta ainda com o PCdoB (46) e com o PSB (42). O PMDB, com 29, está no patamar de afinidade das legendas mais à direita, como PP, PTB, PR e PSD, que variam de 26 a 32 cidades em que estão juntos com o PT.

Nesta política de alianças, no entanto, é a relação com o PSB a que mais desgasta e causa preocupação ao PT. Tanto é verdade que o PSB é o único partido a ter um levantamento próprio. O balanço entrou na mesa de negociações que já duram mais de cinco meses.

O processo foi iniciado quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao amigo e aliado Eduardo Campos o apoio do PSB a seu candidato em São Paulo, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad. Em contrapartida, o governador de Pernambuco pediu o apoio de petistas numa série de municípios.

O PT cedeu em cidades como Mossoró (RN), Duque de Caxias (RJ), Boa Vista (RR), Macapá (AP), numa lógica que seguiu a pressão da bancada de deputados federais do PSB sobre Eduardo Campos.

A relação com o PT se mostra tumultuada, no entanto, mesmo quando tudo parece caminhar bem. É o caso da aliança em São Paulo. Na semana passada, o PSB confirmou o apoio a Haddad e ofereceu a deputada federal Luiza Erundina como vice, numa cerimônia festejada por ambos os lados. Três dias depois, Erundina desistiu em reação à aliança firmada entre o PT e o PP do ex-prefeito Paulo Maluf, tradicional adversário dos militantes da esquerda em São Paulo. A desistência da pessebista e suas fortes declarações, nas quais criticou a visita de Lula e Haddad à casa de Maluf, onde os três se deixaram fotografar, causou constrangimento e fez Campos preferir até não indicar um substituto para o lugar de Erundina, para não prejudicar ainda mais a relação.

No conjunto das 86 cidades onde o PT terá candidatura própria, o PSB será adversário em 42 delas, seja com candidato próprio ou apoiando um terceiro partido. Em 27, os pessebistas apoiam chapa encabeçada pelo PT - enquanto o apoio inverso, de petistas a candidatos do PSB, se restringe a sete municípios.

A avaliação no PT é que Eduardo Campos tem preparado o tabuleiro municipal para se fortalecer em seu projeto presidencial, já que a bancada do PSB, que elegeu 34 deputados federais, ainda não rivaliza com a do PT, que tem 88, nem com a de outros partidos da coalizão, como o PMDB. Um dos planos seria a de desbancar o pemedebista e vice-presidente Michel Temer da possível chapa à reeleição de Dilma Rousseff, em 2014.

Um dos pontos delicados desse projeto está no próprio quintal do governador. Há duas semanas, com a confusão causada pela briga entre os pré-candidatos do PT no Recife, Campos desincompatibilizou quatro secretários como opções do PSB à prefeitura. O PT, por intermédio de Lula, tenta demovê-lo da ideia.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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