sexta-feira, 1 de junho de 2012

Tesoureiro não vê conflito em doações

Vaccari diz que é comum PT pedir dinheiro a empresas interessadas em negócios com o governo

Thiago Herdy, Sérgio Roxo

SÃO PAULO. O secretário de Planejamento e Finanças do PT, João Vaccari Neto, não vê conflito ético no fato de o partido ter aceitado doações de empresas com interesse direto em decisões do governo federal para sanear as finanças da legenda ano passado. Em 2011, ano não eleitoral, o PT arrecadou R$ 50,7 milhões entre empresas, aproximadamente 20 vezes o que PMDB e PSDB conseguiram, cada um, no mesmo período. Metade das doações foi feita por construtoras com contratos com o poder público. O restante se divide entre setores químico, financeiro e agronegócio, também com interesses no governo.

- Qualquer cidadão tem interesse em negócios do governo. Você tem interesse, porque paga INSS. O cara que recebe Bolsa Família tem interesse. Seu jornal tem interesse, porque recebe anúncio oficial. O importante é solicitar contribuição a quem a lei permite - disse ao GLOBO.

A ofensiva junto a empresários permitiu não só o pagamento da dívida de R$ 28 milhões deixados pela campanha de Dilma Rousseff à Presidência, como reduzir pela primeira vez o déficit histórico das contas do partido, que segundo o próprio Vaccari, "sempre gastou mais com sua manutenção do que arrecadou".

- É como qualquer processo de aprendizado, com o tempo você aprende a fazer as coisas - disse, ao ser perguntado sobre o que o PT fizera ano passado diferentemente de anos anteriores.

Para cada R$ 10 doados por empresas a partidos ano passado, R$ 9,06 foram doados ao PT. Fechar o ano com déficit acima de dois dígitos era regra no partido desde a época da campanha vitoriosa de Lula à Presidência em 2002. De lá para cá, o partido vinha fechando os anos com dívida média de R$ 31,3 milhões, segundo cálculo baseado em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No ano passado, esse déficit caiu para R$ 6,3 milhões.

Vaccari se apresenta como o único responsável por levantar recursos para sanear as finanças da legenda e atribui a busca por recursos para quitar dívidas da campanha de 2010 apenas ao comitê específico da campanha.

- Procuro a empresa e peço o dinheiro para o partido. Mantenho relacionamento com empresas de todos os setores da economia, apenas eu estou autorizado a fazer isso - disse.

No entanto, um dos doadores ouvidos pelo GLOBO, o empresário Ronaldo José Neves de Carvalho, conta ter sido procurado por outro petista, o deputado federal Newton Lima (SP).

- Ele é meu conhecido há mais de 20 anos e pediu a contribuição ao partido. Atendi o pedido e doei R$ 100 mil - diz o empresário, um dos donos da Drogaria São Paulo.

Lima confirma a doação:

- É tarefa de todos os parlamentares solicitarem doações, como todos os partidos o fazem.

Já o tesoureiro da campanha de Dilma, o deputado federal José de Filippi Júnior (SP), disse que dirigentes e lideranças do PT se empenharam em arrecadar recursos, não só Vaccari. O principal objetivo era pagar a dívida de R$ 28 milhões da eleição.

- Tenho certeza de que muitas lideranças, não só deputados, mas dirigentes do partido, ali ou aqui, devem ter ajudado o João. Enfim, porque o Brasil é enorme. Tem contribuição que vem de outros estados.

Porém, o deputado alegou não saber se ex-ministros, como Antonio Palocci e José Dirceu, assumiram a missão.

Filippi conta ter se envolvido diretamente na captação de cerca de um terço dos R$ 50,7 milhões arrecadados ano passado:

- João foi muito generoso. Ajudei muito pouco, só quando precisava falar com empresa específica, que eu tinha contato.

O deputado crê que o sucesso do PT na arrecadação na comparação com os outros partidos se deve ao fato de que as doações eram pedidas justamente para saldar a dívida pendente da campanha da presidente Dilma.

- As coisas foram feitas de forma transparente. Em seis ou sete meses, ele (Vaccari) conseguiu fazer toda a arrecadação (para pagar a dívida da campanha).

Filippi destacou que, durante a campanha de 2010, algumas empresas informaram ter disposição de fazer doações maiores, mas que não puderam ser concretizadas por causa das restrições no orçamento anual:

- Muitos bancos, construtoras, durante a campanha, já se comprometeram a fazer novas doações em 2011.

Da dívida de campanha, segundo o tesoureiro, a maior parte, R$ 17 milhões, referia-se a serviços de gráfica. Havia também pendências com espaços usados para eventos e com o marqueteiro João Santana.

Apesar do sucesso do PT no sistema atual de arrecadação, Filippi reafirma a defesa do partido da adoção do sistema de financiamento público de campanha:

- No sistema atual, é criada uma dependência exclusiva de algumas empresas, que são as que sempre doam para todos os candidatos.

O deputado federal Newton Lima (SP), que ajudou na arrecadação de recursos em 2011, também destaca o empenho do partido para inserir a mudança na reforma política.

- A grande orientação no PT é lutar pelo financiamento público de campanha.

FONTE: O GLOBO

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