sexta-feira, 20 de julho de 2012

Afogados no tsunami econômico :: Roberto Freire

Em 2008, era "apenas uma marolinha". O governo Lula abriu as arcas e inundou o mercado interno com crédito farto, diminuiu impostos de itens de consumo e conseguiu recuperar o crescimento do PIB em 2010, já que em 2009 houve retração de 0,2%. Foi o "milagre" do ano eleitoral que deixou pesada herança maldita para o governo Dilma.

Como o crescimento de 2010 foi baseado apenas em consumo e medidas anticíclicas, sem nenhuma reforma estrutural ou incremento nos investimentos, o fôlego da economia esgotou-se com restos a pagar infinitos e perda de capacidade de investimento do Estado. Crescemos em 2011 apenas 2,7%, um desastre comparado aos 7,5% do ano anterior.

O governo Dilma creditou o baixo crescimento à crise internacional, recrudescida pela questão das dívidas soberanas de Grécia, Espanha e Itália. E manteve o discurso de que cresceríamos pelo menos 4,5% em 2012 e, pasmem, 5,5% em 2013. Esses números constam da Lei de Diretrizes Orçamentárias aprovadas esta semana pelo Congresso.

Contudo, a realidade se impôs. Segundo estimativas do Banco Central, a economia crescerá somente 1,9% esse ano. A presidente Dilma, que cantou em prosa e verso o crescimento do PIB quando lhe era favorável, agora diz que o PIB não é importante, que "uma nação se deve medir pelo que faz pelas suas crianças e por seus jovens". Se essa for a régua, estamos ainda pior.

Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa, 38% dos estudantes do ensino superior não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, são analfabetos funcionais. Isso entre os privilegiados que alcançaram o ensino superior. Pior ainda: o número de mortes de crianças e adolescentes no país cresceu em 30 anos mais de 340%. Uma verdadeira tragédia social.

Para coroar nossa desmantelo anunciado, a desindustrialização instala-se no país, silenciosa e intermitentemente. Há muito que a oposição coloca essa questão, mas o governo ao invés de enfrentar o problema com medidas estruturadoras e de longo prazo, sempre buscou o atalho de medidas contingenciais. A produção industrial brasileira, medida pelo IBGE, tem caído continuamente desde outubro de 2010, recuando 4,3% em maio/12 em relação a maio/11. Acumula perda de 3,4% no ano e e idêntica a de agosto de 2007. Perdemos cinco anos de produção industrial. Isso é escandaloso e o governo Dilma oferece respostas pífias e desconexas. Segundo a Fiesp, a indústria paulista deverá fechar o ano com 100 mil empregos a menos.

Menos emprego, menos consumo, menos produção industrial, instaura-se, assim, um ciclo vicioso na economia que poderia ter sido revertido com reformas estruturais e investimentos. Mas o governo Lula-Dilma preferiu simplesmente adotar medidas populistas de expansão de crédito e consumo, sem lastro efetivo. O governo nada fez enquanto via o tsunami se formar no horizonte e não foi por falta de crítica e aviso das oposições vigilantes. Quantos ainda se afogarão na irresponsabilidade do governo Lula e incompetência do governo Dilma?

Presidente do PPS e deputado federal (SP)

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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