quarta-feira, 4 de julho de 2012

Aliança de 19 partidos e oposição dividida disputam eleição no Rio

Guilherme Serodio e Paola de Moura

RIO - A tentativa de barrar a reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB) levou à união de dois dos maiores adversários da política do Rio (ver matéria abaixo). Mas não foi suficiente para juntar a oposição em torno de uma candidatura forte e competitiva. Dessa forma, quatro candidatos - do PSDB, do PV, do DEM e do PSOL - disputam com o prefeito, que, além de um vistoso orçamento de mais de R$ 20 bilhões para este ano, terá 19 partidos em sua coligação e 16 minutos na televisão. Seu principal adversário - o deputado federal Rodrigo Maia (DEM), coligado ao PR - terá cinco minutos no horário eleitoral gratuito.

A construção desta aliança tão eclética que inclui PT, PMDB, o PRB do senador Marcelo Crivella e seus eleitores evangélicos, o PP do senador Francisco Dornelles e do deputado federal Jair Bolsonaro, o PDT dos brizolistas do Rio e do ministro do Trabalho, Brizola Neto, o PCdoB da deputada federal Jandira Feghali, e o PSB do deputado federal Romário, é quase igual à costurada para a campanha do governador Sérgio Cabral (PMDB) na eleição de 2010, pelo presidente regional do PMDB no Rio, Jorge Picciani, quando era candidato ao Senado.

Eduardo Paes herdou do governador a aliança praticamente fechada. Apenas o PSB aderiu ao grupo em 2011 - em 2010, fazia parte da coligação que apoiava Fernando Gabeira (PV) junto com o PSDB. "É natural que, num quadro como esse, em que há alinhamento entre o Estado e a prefeitura, a coligação seja reproduzida. Os dividendos são distribuídos por diferentes níveis", explica o presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), Geraldo Tadeu Monteiro. "A vantagem que esta coalizão dá ao prefeito é o exército de vereadores que fará campanha para ele pela cidade", acrescenta.

Para Monteiro, o prefeito ainda leva outra vantagem: os quatro candidatos da oposição, o deputado federal Otávio Leite (PSDB), a deputada estadual Aspásia Camargo (PV), o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), além de Rodrigo Maia têm base eleitoral na mesma região da cidade. "Rodrigo e Otávio têm sua base mais forte na Zona Sul, na classe média e média alta. Já Freixo e Aspásia, atingem o público que se diz um pouco mais intelectualizado e engajado, mas da mesma região e classe social", explica Monteiro.

Para o presidente do IBPS, esta campanha será muito difícil para a oposição. "O prefeito conseguiu dobrar seu orçamento. Saiu de R$ 10 bilhões em 2009 para R$ 20 bilhões este ano. Está fazendo um conjunto de obras importantes, investiu em saúde e ainda será beneficiado pelo programa das UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora] do governador", acredita.

A prefeitura hoje tem muito mais dinheiro em caixa para investir. No primeiro ano de governo, Paes fez uma enorme contenção de gastos para arrumar a casa. Chegou a investir 7,41% do que o ex-prefeito Cesar Maia aplicou no seu último ano de governo. Os gastos caíram de R$ 13,41 bilhões para R$ 12,42 bilhões. Nos anos seguintes, Paes renegociou a dívida, conseguiu um empréstimo do BID e fechou 2011 com R$ 19,124 bilhões empenhados e, em 2012, o previsto passará de R$ 20 bilhões.

A única pesquisa de intenção de votos para a capital foi feita pelo Ibope em dezembro de 2011, e não contava com Aspásia Camargo. Na época, Paes tinha o menor índice de rejeição entre os candidatos, 29%. O segundo mais bem aceito pelo eleitor era Freixo, com 47% de rejeição. "A não ser que haja um grande escândalo, os adversários terão dificuldades, porque nem o escândalo de Fernando Cavendish atingiu Paes", explica Monteiro, referindo-se aos vídeos que mostram o dono da Delta em Paris com Sérgio Cabral. Na mesma pesquisa a administração municipal era aprovada por 68% dos eleitores, o mesmo índice de aprovação do governador.

Para o cientista político Ricardo Ismael, ainda é cedo para dizer o impacto dos escândalos da Delta na eleição para prefeito. Ele lembra que, com o começo da campanha, os candidatos da oposição podem usar a proximidade de Paes com o governador para atacá-lo. "Cabral pretendia ter uma participação muito mais forte nesta campanha", diz Ismael. Chamado pelo próprio Paes de "cabo eleitoral de luxo", o governador vem tendo uma atuação mais discreta no apoio ao prefeito.

Enquanto há dúvidas sobre a contribuição de Cabral, os apoios do governo federal e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são um trunfo de Paes. O ex-presidente vem aparecendo em inaugurações de obras da prefeitura e do governo estadual ao lado do prefeito para quem já avisou que vai pedir votos "com muita convicção". "Lula parece ter incluído a eleição de Paes entre aquelas candidaturas que ele acha importante apoiar", diz Ismael.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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