domingo, 1 de julho de 2012

Alívio num mundinho enjoado:: Vinícius Torres Freire

Sucesso relativo da cúpula europeia alivia também a situação brasileira e tira da sala o bode do desastre

Governos e povos dos mercados do hemisfério Norte vão poder tirar férias da crise. Talvez o Brasil também. A cúpula europeia que terminou na madrugada de sexta-feira não acabou em fracasso.

Sim, os problemas básicos da maioria dos países da União Europeia permanecem.

Haverá ainda tensão com o endividamento de governos, piorado pelo arrocho de gastos públicos e salários, que sufoca o crescimento da economia e da receita de impostos.

Haverá ainda tensão política, embora mesmo a deprimida Grécia tenha votado (por maioria mínima) pela permanência na zona do euro.

Mas italianos, franceses e espanhóis dobraram a tzarina da economia europeia, Angela Merkel. O fundo europeu de socorro a países quebrados poderá ajudar também os bancos espanhóis, com o que o governo do país se livrará do fardo de tapar o rombo da dívida adicional que teria de contratar para tanto.

A ajuda se tornou possível porque os europeus entregaram a supervisão dos seus bancos ao Banco Central Europeu, mais um passo na união definitiva das economias. Os europeus, em suma, se amarraram mais uns aos outros, na saúde e na doença, mas ainda não na riqueza e na pobreza.

Ainda controverso, o fundão europeu poderá comprar títulos da dívida pública italiana, ajudando assim a baixar o custo do crédito para o país. A Alemanha admite tal coisa apenas se os italianos assinarem uma "carta de intenções", mas a mera possibilidade de ajuda alivia a tensão.

Então a Europa não vai quebrar nos próximos meses ou talvez anos, desconsiderada por ora a possibilidade de aparecer outro esqueleto no armário financeiro da eurozona.

E daí? Chances menores de desastre aumentam a confiança de empresários aqui e nos Estados Unidos, por exemplo. Podemos crescer um tico mais.

Mas a Europa continuará com os pés na lama por muito tempo ainda, andando devagar. Os EUA vão bem melhor, mas com dificuldades, que ficarão feias se os estímulos fiscais (gastos do governo) não forem renovados no ano que vem.

A China está em época de muda. Teve de abrir mão do ritmo alucinado de crescimento, de mais de 10% ao ano, que estava criando excessos perigosos (superinvestimento, em especial no setor imobiliário). O crescimento menor no resto do mundo reduz ainda o ritmo chinês.

A mudança para um padrão de crescimento voltado "para dentro" (mais consumo das famílias) do que para "fora" (muito investimento e exportação) pode fazer a economia chinesa tremelicar nos primeiros tempos da novidade. O mundo inteiro, pois, estará num ritmo mais lento, por um tempo razoável (três, cinco anos?).

Para nós, a mudança chinesa tende a reduzir o ritmo de crescimento do preço dos nossos principais produtos de exportação (recursos naturais). Não vamos poder contar com esses aumentos para financiar o aumento das nossas importações (do nosso consumo), como vínhamos fazendo faz quase uma década. O que vamos fazer diante das novidades?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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