sexta-feira, 13 de julho de 2012

BC vê recuo no PIB e Dilma minimiza

Com a crise global, a economia brasileira encolheu 0,02% em maio, segundo o BC. Nos últimos 12 meses, o país cresceu só 1,27%. Para a presidente Dilma, o PIB não deve ser usado para medir o sucesso de uma "grande nação", mas sim a proteção a crianças e adolescentes, com ensino de qualidade. O calote fez os juros ao consumidor voltar a subir em junho

Grande nação, mas o PIB...

Índice do BC registra recuo de 0,02% em maio. Presidente diz que número não pode medir um país

Gabriela Valente, Junia Gama

BRASÍLIA e RIO - A agrura da crise internacional fez com que a economia brasileira encolhesse 0,02% em maio, segundo o indicador do Banco Central (BC) que busca antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), chamado de Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), divulgado ontem. A presidente Dilma Rousseff, no entanto, buscou minimizar o dado, afirmando que o PIB não deve ser usado para medir o sucesso de uma "grande nação". O recado foi dado durante discurso voltado para o público jovem na 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente:

- Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e adolescentes, não é o Produto Interno Bruto, é a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são as suas crianças e os seus adolescentes - disse a presidente, aplaudida pelo público.

Dilma afirmou ainda que o Brasil será um país desenvolvido quando for capaz de oferecer educação de qualidade:

- Nós temos de ter um país com jovens, adultos e crianças com grande nível de escolaridade, porque vamos disputar, sim, o que é a economia moderna, que é a economia do conhecimento, aquela que agrega valor, a internet, as tecnologias de informação. Este país vai ser um país desenvolvido quando todas as crianças deste país e seus jovens tiverem acesso à educação de qualidade.

Embora o IBC-Br tenha registrado uma ligeira queda, que representa a estagnação econômica no Brasil, o resultado foi bem recebido pelos analistas. Isso porque a expectativa era de um recuo mais forte. Desde o início do ano, o indicador do BC registrou avanço apenas em abril. Mesmo com o dado melhor do que o esperado em maio, os economistas ainda não revisaram para cima suas previsões de crescimento para este ano. Eles cobram do governo mais medidas para incentivar os empresários. Uma delas é abrir os cofres públicos para investir e fazer girar a economia, uma vez que, em uma avaliação geral, há mais espaço para novos cortes dos juros.

"Pequena queda foi um alívio"

O pessimismo que se instalou desde o início do ano sobre as expectativas para 2012 aumentou anteontem, quando o IBGE divulgou que as vendas do comércio caíram 0,8% em abril. De acordo com o economista-chefe do banco ABC, Luiz Otávio Leal, a expectativa era de queda de 0,6% do IBC-Br em maio.

- Pode parecer paradoxal, mas essa pequena queda da economia foi um alívio - afirmou Leal.

Apesar do desempenho da economia um pouco melhor que o esperado, Leal manteve sua previsão de crescimento de 0,5% no segundo trimestre e de 2% no ano. Os dados do BC, no entanto, ainda estão distantes desses números: o crescimento foi de 1,27% no período de 12 meses findo em maio. O número mostra uma desaceleração, já que o crescimento acumulado até abril foi de 1,55%.

Resultados melhores da economia, entretanto, são esperados daqui para frente, principalmente por causa da indústria, impulsionada pelo setor automotivo. Os índices de junho devem ser mais fortes, na visão dos analistas, mas não significarão uma grande aceleração da economia, já que essa maior movimentação das vendas de automóveis é uma desova de estoques que estavam encalhados, não um aumento da produção.
- Esse foi um dos reflexos das medidas tomadas pelo governo, mas, no geral, o efeito delas tem sido muito pequeno até agora - disse o economista-chefe da corretora PlanerProsper, Eduardo Velho, que aumenta o coro dos economistas que defendem um choque de investimentos públicos para reanimar a economia. - É o momento de o governo investir pesado em várias frentes. Não é sustentável apostar apenas em um setor para reativar a economia.

Ele acredita que o crescimento abaixo do potencial referenda os cortes de juros promovidos pelo BC e ainda amplia o poder de ação da autarquia, que poderá levar a taxa básica de juros (Selic) até 7% ao ano nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Hoje, a Selic está em 8% ao ano.

Ao comentar a frase da presidente Dilma, de que não se pode medir uma nação pelo PIB, o professor de Economia da UnB Roberto Piscitelli afirmou que, de fato, o indicador não é tudo, mas é o principal parâmetro da economia. Para o economista, a maior frustração com o índice divulgado ontem pelo Banco Central está no fato de que a recuperação esperada para o terceiro trimestre não está ocorrendo.

- O último a reconhecer isso, pelo menos oficialmente, é o governo.

Piscitelli destaca os recentes dados de atividade industrial e vendas no varejo, com resultados negativos ou abaixo do esperado.

- São resultados que mostram a falta de perspectiva de planejamento. Há muito tempo defendo que o incentivo ao consumo é incapaz de alavancar o crescimento. É uma política quase de toma-lá-da-cá, só que, no lugar dos políticos, estão alguns poucos setores que acabam se beneficiando. Chegou a hora de priorizar investimentos. Não acho que o governo deva reduzir despesas, mas estimular o aumento do investimento em projetos relevantes.

Colaborou Débora Diniz

FONTE: O GLOBO

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