quarta-feira, 11 de julho de 2012

Desemprego nos polos industriais

Polos industriais do país já registram desemprego na indústria de transformação e houve mais demissões que contratações no acumulado de janeiro a maio.

Na Região Metropolitana de São Paulo, são 6,6 mil empregos a menos e em Sobral, que concentra a indústria calçadista do Ceará, ocorreram 1,6 mil demissões neste ano, entre outros exemplos observados no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Entre as cidades do ABC Paulista, a indústria fechou 2,5 mil vagas em São Bernardo e Diadema entre janeiro e maio. No país como um todo, a indústria de transformação ainda criou 117 mil empregos formais até maio, mas o saldo é bem inferior ao observado no mesmo período do ano passado

Desemprego industrial cresce em várias cidades-polo do país

Tainara Machado e Marcos de Moura e Souza

SÃO PAULO e BELO HORIZONTE - Em diferentes polos industriais do país, a indústria de transformação demitiu mais do que contratou entre janeiro e maio. Em Manaus, o saldo é de 4,2 mil vagas fechadas. Na região metropolitana de São Paulo, são 6,6 mil empregos a menos e em Sobral, que concentra a indústria calçadista do Ceará, 1,6 mil demissões ocorreram no período, entre outros exemplos espalhados pelo país, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

No Brasil como um todo, a indústria de transformação ainda criou 117 mil empregos formais até maio, mas o saldo é bem inferior aos 236 mil novos empregos do começo do ano passado.

O desemprego industrial é pulverizado, marcado pela não reposição da rotatividade inerente ao mercado de trabalho (como aposentadorias, demissão por iniciativa do empregado e desligamento por justa causa) e pelo início de demissões em pequenas e médias empresas, especialmente, segundo informações de dirigentes dos sindicatos que concentram as demissões. Entre as cidades do ABC paulista, a indústria fechou 2,5 mil vagas em São Bernardo e Diadema entre janeiro e maio, enquanto o saldo positivo de Santo André e São Caetano é de 160 empregos.

Para Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, as demissões ainda não ocorrem em grande volume porque as grandes empresas do setor, como montadoras e sistemistas, têm fôlego financeiro para administrar a situação de paralisação da produção com férias coletivas e uso do banco de horas dos funcionários.

Por enquanto, são as pequenas fornecedoras de partes e peças que mais sofrem com a retração das encomendas na cadeia automobilística. "Quando a crise se instala, essas empresas não conseguem sustentar o emprego e, em alguns casos, precisam demitir até 10% do seu quadro de funcionários", diz Nobre. Como são de pequeno porte, as demissões podem variar de 10 a 15 funcionários por empresa.

José Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos, ressalta que ainda não é uma questão de desemprego em massa, mas empresas que já recorreram a férias coletivas e licença remunerada, por exemplo, estão deixando de repor parte das vagas deixadas em aberto pela rotatividade normal do setor. A indústria de transformação na cidade fechou 1,1 mil postos de trabalho entre janeiro e maio.

Pereira relata que algumas companhias instaladas em Guarulhos já procuraram o sindicato para negociar redução da jornada de trabalho e dos salários e diz que, se o setor não responder aos estímulos já concedidos pelo governo, como redução do IPI para itens da linha branca e veículos, por exemplo, as demissões podem ocorrer em escala maior a partir de agosto.

Em Manaus, onde os desligamentos superaram admissões em 4,2 mil, o problema se concentra na indústria de motos, que também vem realizando cortes. Só na Honda - maior do setor, com quase 80% do mercado - 886 funcionários deixaram a fábrica. Na Yamaha, 423 foram desligados.

As montadoras de motos já começaram a conceder as férias coletivas que estavam programadas para este mês, o que deve ajudar o setor a adequar a produção a um mercado retraído. Na Honda, a maior parte dos funcionários volta hoje, após dez dias de férias. Mas, em duas de suas cinco linhas de produção, a montadora estendeu a parada por mais uma semana.

Para Henrique Nora, presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) no Sul do Estado, as grandes empresas tentaram evitar demissões no fim de 2011, apesar da produção estagnada, mas como o ambiente que se instalou foi de crise, as indústrias começaram a demitir. Em Resende, foram fechadas 360 vagas.

Em Pernambuco, segundo Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), o forte volume de demissões nos cinco primeiros meses do ano ocorreu por fatores sazonais, já que o período entre fevereiro e maio é marcado pela entressafra da cana-de-açúcar. No Estado, foram fechadas 25 mil vagas nos cinco primeiros meses do ano, mas boa parte delas (23,9 mil) ocorreu na indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico.

Segundo Cunha, questões climáticas, como a forte seca na região, devem resultar em uma safra cerca de 20% menor neste ano do que em 2011. Com menos toneladas de cana para colher, o setor deve reduzir as contratações neste ano para 85 mil - no ano passado, foram cerca de 100 mil.

Em Betim, onde está a Fiat e várias empresas de autopeças, o quadro, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, João Alves de Almeida, é de aumento no ritmo da produção desde junho em função dos estímulos do governo para a venda de veículos. Como resultado, operários estão sendo convocados para trabalhar aos sábados ou mais horas ao longo da semana, diz ele. Mesmo assim, mais de 600 empregos foram fechados na cidade até maio.

Em Contagem, outro polo importante da indústria, e Belo Horizonte a situação não é muito diferente, segundo Geraldo Valgas, presidente do sindicato dos metalúrgicos das duas cidades. "No setor de autopeças, estamos fechando mais acordos de PLR este ano do que no ano passado. As empresas começaram a fazer os acordos mais ou menos em maio", disse. A queixa é que na movimentação de demissões e contratações, a regra passou a ser demitir funcionários com mais experiência e maiores salários por mão de obra mais jovem e mais barata.

Colaborou Eduardo Laguna

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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