A mídia especializada na cobertura política das próximas eleições municipais anda perplexa diante da instabilidade do quadro das pré-candidaturas à Prefeitura do Recife, acostumada como está a vislumbrar um certo grau de arrumação nos partidos e candidatos ao pleito. Dessa vez, as coisas se complicaram, porque as instâncias municipais de decisão foram literalmente esvaziadas pela ação de outros eleitores qualificados, que passaram a definir esse quadro, em função de seus interesses e à revelia dos partidos e de seus eleitores. O que se viu nas últimas semanas aqui em Pernambuco, mas não só em Pernambuco, foi uma verdadeira desestabilização do quadro político-eleitoral pela ação de atores e personagens que, embora não estando diretamente ligados ao pleito, passaram a ter um poder de decisão e de interferência sobre a vida dos partidos, como nunca se viu.
Como se explica que um político, sequer filiado a um partido, possa ter uma influência tão grande na definição das pré-candidaturas desse partido, a ponto de desagregar a organização e depois resolva lançar um candidato às eleições municipais pelo seu próprio partido? E as manobras dissuasórias para evitar que a oposição lance seus candidatos? Estamos diante de uma esfera pública dominada por uma espécie de coronelismo, que pensa ter a iniciativa política na sociedade, para isso desestabilizando totalmente o quadro partidário, desagregando os partidos e cooptando a oposição. Esse cenário lembra, curiosamente, a atitude de ex-governador peemedebista, hoje cooptado, diante dos partidos políticos em Pernambuco, quando derrotou o avô do atual governador. A história se repete. O vencedor desagrega os partidos aliados e coopta os de oposição. Fica o eleitor com a impressão que o seu poder de decisão e o da instância interna dos partidos não vale nada. Ele se limita a convalidar uma escolha já feita por outros, em outras instâncias, e inspirada por outros interesses.
Podemos arguir que se deve à fragilidade dos partidos e ao alto grau de mandonismo pessoal que ainda caracterizam as nossas instituições políticas. E que isso tudo poderia ser consertado com uma inadiável e necessária reforma política. Infelizmente, estamos diante de um caso em que a mera reengenharia institucional não resolve. Aqui, o peso das tradições oligárquicas, patrimonialistas ou neocoronelistas, ainda que travestidas de modernas ou gerenciais, é muito grande. A falta de densidade institucional dos partidos, sua precária democracia interna, a inexistência de coerência doutrinária ou programática se casam à perfeição com a personalização dos partidos, a falta de princípios nas alianças e as negociatas de todo tipo entre as agremiações.
Do Judiciário, poderiam vir normas estabilizadoras das regras do jogo eleitoral. Mesmo assim, esse poder tem limites para fixar regras e delineamentos legais. O Legislativo tem reclamado através de ações de inconstitucionalidade junto aos Tribunais Superiores. De toda forma, é preocupante a falta de segurança e nitidez do quadro político-partidário, na proximidade das eleições. Essa falta de visibilidade e critério permite um “vale-tudo” na política, inclusive que petistas e malufistas se deem as mãos, sob a bênção dos socialistas do PSB. Imagine o que não vai ainda acontecer no cenário eleitoral de 2014.
Do Judiciário, poderiam vir normas estabilizadoras das regras do jogo eleitoral. Mesmo assim, esse poder tem limites para fixar regras e delineamentos legais. O Legislativo tem reclamado através de ações de inconstitucionalidade junto aos Tribunais Superiores. De toda forma, é preocupante a falta de segurança e nitidez do quadro político-partidário, na proximidade das eleições. Essa falta de visibilidade e critério permite um “vale-tudo” na política, inclusive que petistas e malufistas se deem as mãos, sob a bênção dos socialistas do PSB. Imagine o que não vai ainda acontecer no cenário eleitoral de 2014.
Michel Zaidan é cientista político
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Prezad@s,
ResponderExcluirO comentário de Michel Zaidan sobre um fato capital das eleições municipais de outubro, o rompimento em Recife da aliança PSB/PT - com repercussões em Fortaleza e Belo Horizonte, é uma aula de como fazer uma análise política pautado pelo microcosmo, desconsiderando totalmente os aspectos macro do evento.
Assim, não percebe que o movimento de Eduardo contra a candidatura do PT, com o decisivo apoio de Jarbas Vasconcelos, mais que um ato de "mandonismo" é um lance que vislumbra 2014 e uma rearrumação da própria base de seu governo, como do de Dilma.
É importante notar que ao afastar-se do governo do PT, no Recife, apoia o campo da oposição, estabelecendo uma cesura nova entre governo e oposição. Isolando o PT, agora, fortalece-se para sua sucessão daqui a dois anos, com uma nova base, entrando pela porta da frente na sucessão presidencial, em 2014.
É importante a compreensão micro dos fenomenos políticos, mas se tal compreensão não tiver ancorada em uma mais larga visão, dada pela percepção macro, tal análise será, necessariamente, tacanha e paroquial.
Fraternalmente, Cláudio Vitorino de Aguiar