quarta-feira, 4 de julho de 2012

PSB antecipa plano presidencial após atritos com PT

Cresce entre socialistas tese de Eduardo Campos disputar Planalto já em 2014, após afastamento dos petistas na eleição municipal

Christiane Samarco

BRASÍLIA - O afastamento do PT nas disputas municipais pode antecipar para 2014 o projeto do PSB de lançar o presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, na disputa pelo Palácio do Planalto, plano antes previsto para 2018.

A tese da candidatura própria já ganhou novos adeptos no PSB, no embalo do fortalecimento da liderança nacional de Campos e do rompimento de parcerias com o PT no Ceará, em Pernambuco e em Minas. Dirigentes socialistas dizem que está em curso o processo de libertação do PT, que sempre pede apoio, mas resiste a apoiar aliados.

"O resultado das eleições deste ano pode determinar nossa alforria antes de 2018", prevê, otimista, o deputado Júlio Delgado (MG), um dos poucos membros da cúpula socialista que assumem em público a queixa generalizada diante da resistência dos petistas em apoiar aliados.

Diante deste cenário, lideranças do PT temem os reflexos de tal afastamento. O ex-ministro José Dirceu foi um dos que demonstraram preocupação com a reviravolta na capital mineira, onde o PT saiu da chapa à reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB). "O fim da aliança em Belo Horizonte, depois de ter ocorrido o mesmo em Recife e Fortaleza, põe em risco o acordo nacional entre os dois partidos", admitiu Dirceu em seu blog.

Alternativa. Nos bastidores do PSB, a avaliação é que o partido se transformou em alternativa de poder, "para o bem do Brasil". No entender dos socialistas, é preciso romper com a polarização entre PT e PSDB, tratada por ambos os lados como a disputa entre o bem e o mal, o atrasado e o moderno. Um dos governadores do PSB destaca que o projeto de chegar ao Palácio do Planalto está em curso, seja para 2014 ou 2018, até porque o PT terá de "dar um tempo e sair da Presidência, para oxigenar o País com a alternância do poder".

Num paralelo entre a "libertação" do PT e a abolição da escravatura, Júlio Delgado afirma que, para seu partido, a Lei do Ventre Livre foi sacramentada em 2010, quando seis governadores se elegeram pela sigla.

"Nossa relação com a presidente Dilma (Rousseff) é excelente, mas, se a nossa lei dos sexagenários for decretada agora, na disputa pelas prefeituras, e o Eduardo Campos estiver num bom momento em 2014, como está hoje, ele parte para o voo solo", completa o deputado, referindo-se à lei que garantiu a liberdade de escravos com mais de 65 anos, quatro anos antes da abolição da escravatura no Brasil.

Inconformado, José Dirceu culpa o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pelo divórcio entre o PT e o PSB de Minas. "Há manobras e manobras nessa história e elas têm o dedo e a mão toda do senador Aécio, apesar de passarem para a imprensa que o PT é o responsável pelo rompimento."

Embora o PT tenha tomado a decisão de sair da chapa de Lacerda para lançar candidato em Belo Horizonte, Dirceu tem seus motivos para responsabilizar o tucano. Afinal, foi Aécio quem promoveu uma reunião de Lacerda com Ciro Gomes na terça-feira da semana passada, em Brasília. Ciro é defensor intransigente da tese da independência do PSB em relação ao PT.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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