quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A maior retração desde 2009

Em junho, queda da produção no Brasil foi de 5,5% em relação ao mesmo período do ano passado, informou IBGE. Mas a indústria encolheu também na China, na Alemanha, no Reino Unido e na zona do euro.

No fundo do poço

Indústria caiu 5,5% em junho, maior queda desde 2009. Mantega vê ponto de virada

Débora Diniz, Cristiane Bonfanti

RIO E BRASÍLIA - A produção industrial brasileira fechou o primeiro semestre com um recuo de 3,8%, conforme pesquisa mensal divulgada ontem pelo IBGE. Comparados ao mesmo mês do ano passado, os resultados de junho mostram que o desempenho encolheu 5,5%, a maior queda desde setembro de 2009. Nem a pequena reação frente a maio - de 0,2% - foi capaz de reverter a expectativa negativa para a indústria este ano. Uma conta feita pelo próprio IBGE mostra que a indústria produz hoje o mesmo que fabricava há três anos.

A previsão é que o setor feche o ano com retração de 2%. Se a projeção se confirmar, será a primeira vez desde a crise global de 2009 que a indústria cortará produção no ano.

- Os dados mostram clara predominância de resultados negativos para o setor industrial no primeiro semestre. O crescimento de 0,2% verificado entre maio e junho representa uma interrupção nos recuos, mas ainda não é possível dizer que seja uma tendência - afirma André Luiz Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a produção industrial atingiu um ponto de virada, a partir do qual passará a apresentar resultados melhores que os das últimas pesquisas.

- Ela (a produção industrial) está dando uma virada. É um ponto de inflexão depois de ter crescimento negativo durante vários meses consecutivos. Vejo que, agora, é um ponto de virada. Daqui para frente, vamos ter resultados melhores - afirmou Mantega, ao chegar à sede do Ministério da Fazenda, em Brasília.

Mas até a reação chegar, os números são todos negativos. O fechamento do segundo trimestre de 2012 também aponta queda frente a 2011, de 4,5%. Em relação ao primeiro trimestre, o recuo é de 1,1%. A reação tímida de junho, embora positiva, foi muito abaixo do esperado pelos analistas: a expectativa era que a produção crescesse entre 0,8% e 0,9% no mês frente a maio.

- Nossa estimativa é que a produção industrial feche o ano com um recuo de 2%. Para chegar a dezembro estagnada, sem perdas, seria necessário crescer a uma taxa mensal de 2,1% de julho a dezembro, o que não é nenhum pouco factível - analisa o economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências.

Mais produção de carros

Três setores foram fundamentais para que o resultado de junho interrompesse a série negativa: o grupo que inclui aviões e motocicletas (denominado pelo IBGE como "de outros equipamentos de transporte"), com expansão de 12,5%; o farmacêutico, com alta de 8,6%; e o de veículos automotores, que com o avanço de 3% conseguiu recuperar parte do recuo de 3,6% acumulado de março a maio de 2012.

- A expectativa é que o ritmo da produção acelere de forma mais expressiva no segundo semestre - prevê Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, que projeta recuo de 0,5% na produção industrial este ano.

A reação da indústria automotiva pode ser atribuída ao esvaziamento dos pátios das montadoras, reflexo das medidas de incentivo ao consumo lançadas pelo governo, como a redução do IPI e o corte nas taxas de juros. Em junho, o estoque, que era para 40 dias, baixou para 30 dias.

Também houve melhora na produção de bens duráveis, que saltou 4,8% em junho frente a maio. O crescimento é outro sinal de que as medidas do governo para estimular o consumo estão começando a aparecer no setor produtivo, já que o grupo engloba eletrodomésticos e móveis, também beneficiados com a prorrogação da redução do IPI.

Alcides Leite, economista da Trevisan Escola de Negócios, considerou que o crescimento do índice não é suficiente para representar uma virada.

- Essa melhoria resulta dos incentivos do governo. Mas a indústria está estagnada.

FONTE: O GLOBO

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