segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Atrás do glamour perdido

Políticos de expressão nacional no passado agora se ebruçam sobre temas municipais

Paulo de Tarso Lyra, João Valadares

As eleições municipais, pródigas em revelar novos nomes na política, também podem ser a única oportunidade para alguns que já tiveram destaque nacional recuperarem o prestígio e o glamour que desfrutavam tempos atrás. Acostumados a debater políticas macroeconômicas e projetos de envergadura nacional e internacional, terão que discutir agora buracos nas ruas, filas nos postos de saúde e ausência de postes em algumas quadras esportivas.

Arthur Virgílio (PSDB-AM), que teve uma carreira fulminante no Congresso, é um exemplo. Líder do governo Fernando Henrique Cardoso, desfrutou de gabinete no Palácio do Planalto: secretário-geral da Presidência. Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente, Arthur chegou ao Congresso como senador. Transformou-se numa das principais vozes da oposição, tendo sido preponderante para a maior derrota de Lula na Casa — o fim da CPMF.

Rancoroso, Lula trabalhou junto ao governo Eduardo Braga (PMDB-AM) para a composição de uma chapa capaz de alijar o tucano do parlamento. Conseguiu. Virgílio lidera as pesquisas eleitorais para a prefeitura de Manaus, com 29% das intenções de voto na chapa "A esperança é agora". Curiosamente, demorou a decolar no cenário local — nas eleições para o governo do Amazonas, em 2006, teve apenas 5,5% dos votos — por espremer-se entre um debate nacional e uma questão paroquial: parte do PSDB, principalmente a ala paulista liderada por José Serra, era contra a prorrogação dos subsídios da Zona Franca de Manaus, o que só aconteceu durante o governo Lula.

César Maia (DEM-RJ) foi prefeito fluminense por três vezes. Na primeira delas, em 1996, quando não havia ainda o instituto da reeleição, conseguiu emplacar seu sucessor Luiz Paulo Conde. Teórico econômico do partido, herdeiro dileto do brizolismo, Maia reconheceu que perdeu projeção política nacional. E não se constrange em ter de pedir votos para vereador, seu novo objetivo nas disputas de outubro. "Até eu fico impressionado. Afinal, um ciclo de administrações a nível municipal me deu informações sobre a cidade e sobre a prefeitura que tornam a campanha muito prazerosa", declarou ele, ao Correio.

Uma confluência de fatores impede planos mais ambiciosos para César Maia. O DEM entrou em um inferno astral e definha a olhos vistos, com lideranças consideradas importantes, como o ex-senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), pilhadas em escândalos de corrupção e parlamentares migrando para o recém-criado PSD. Maia acredita que o estrago político só poderá ser medido em 2014. Já no Rio de Janeiro, a política passou a ser dominada pelo PMDB do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes. Fato que levou o ex-prefeito a patrocinar uma aliança com um dos seus grandes desafetos, o deputado Anthony Garotinho, para lançar a chapa Rodrigo Maia—Clarissa Garotinho para a prefeitura do Rio.

De ministro a vereador

Raul Jungmann já foi ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, deputado federal por duas vezes consecutivas, candidato a senador e a prefeito. "Pense grande" continua sendo o slogan de campanha, mas o pernambucano de 60 anos, agora, tenta uma modesta vaga na Câmara de Vereadores do Recife. Ele explica: "Sou um animal político e preciso de uma tribuna. Ficar quatro anos fora do debate é fatal", resume.

A candidatura para vereador foi emulada por uma carta assinada por um grupo de intelectuais — dentre eles Fernando Henrique Cardoso e o poeta Ferreira Goulart. Ele diz que percebe o estranhamento de parte do eleitorado. "Alguns amigos estranharam. Um deles disse que eu não cabia na Câmara de Vereadores. A verdade é que sempre fui um quadro nacional, mas sou um parlamentar de opinião. Distribuo ideia e preciso da tribuna", admitiu.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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