terça-feira, 7 de agosto de 2012

Centenário de Jorge Amado: Em sessão do Congresso, Freire homenageia o escritor e político

Roberto Freire, ao lado do filho de Jorge Amado, João Jorge, na sessão que homenageou o escritor

Por: Valéria de Oliveira

Por iniciativa do deputado Roberto Freire (PPS-SP), o Congresso Nacional realizou, nesta segunda-feira, sessão comemorativa do centenário de nascimento do escritor e político Jorge Amado. Em discurso emocionado de homenagem ao companheiro de PCB (Partido Comunista Brasileiro), Freire preferiu concentrar-se sobre o “sempre irrequieto” ser político. O filho do escritor, João Jorge, estava presente na sessão.

O deputado lembrou que o escritor, embora filho de um grande proprietário de terras de cultivo de cacau, Jorge Amado, desde jovem, sensibilizou-se pela realidade social “onde quer que desembarcasse”.

“Pão da poesia”

No tempo em que morou no Pelourinho, ainda na juventude, Jorge Amado conviveu com as rodas de capoeira, as festas de candomblé e os átrios das igrejas católicas centenárias, “tudo isso considerado por ele como sua melhor universidade, pois lhe deu ‘o pão da poesia, que vem do conhecimento das dores e das alegrias de sua gente’ ”.

Freire lembrou que Jorge Amado desde pequeno escreveu para jornais. Ajudou a fundar periódicos como A Folha e trabalhou como repórter policial no Diário da Bahia e em O Imparcial, “ao tempo em que acrescentava suas contribuições de crítica social e literária à revista A Luva (1927/1928)”, conforme ressaltou o parlamentar.

Junto com um grupo de jovens aguerridos, o escritor ajudou a fundar a Academia dos Rebeldes, da qual faziam parte alguns dos futuros companheiros do PCB. “Jorge teve a sorte de começar a entender a vida – da adolescência aos primeiros anos de adulto – para se tornar um militante político e criador literário, num período sociopolítico e intelectual de grande agitação e mudanças no país”, ressaltou Freire.

O deputado se referia às tentativas populares de derrota da Primeira República e também à Revolução de 1930, dentre outros fatos. Foi a época de um “clarão intelectual que criou movimentos afins distintos, tendo Jorge Amado integrado a importantíssima geração nordestina”, salientou Freire, numa alusão ao movimento do qual fizeram parte, dentre outros, Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e José Américo de Almeida.

Comunistas

Amado ingressou, em 1931, na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e se formou bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Nunca exerceu advocacia, mas naquele ambiente travou seus primeiros contatos com o movimento de esquerda organizado e entrou na UJC (União da Juventude Comunista), braço juvenil do PCB.

Desde 1931, Jorge Amado passa a escrever, a cada ano, um romance popular e de grande sucesso. Foi redator da Aliança Libertadora Nacional no jornal A Manhã, durante a ascensão do fascismo. Na chamada Intentona Comunista, Jorge Amado é preso pela primeira vez, acusado de participar do levante em Natal (RN). Volta a ser encarcerado durante o golpe do Estado Novo de Getúlio Vargas. Naquele período, seus livros são queimados em Salvador.

Em 1939, volta ao Rio de Janeiro, onde exerce intensa atividade política, em um momento em que há desarticulação do PCB e denúncias de tortura contra companheiros presos. Torna-se redator-chefe das revistas Dom Casmurro e Diretrizes e colaborador da Vamos Ler. Segundo afirmou Freire, não suportando as ameaças e perseguições, é obrigado a partir para o exílio.

Volta do Exílio

Escreve um livro sobre a vida de Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, e também a biografia de Castro Alves. Voltou do exílio em 1942, “para colaborar com os movimentos e ações patrióticos”, com o rompimento do Brasil com o eixo nazista.

Depois de passar um tempo na Bahia, é convidado pelo PCB para dirigir o jornal diário Hoje, em São Paulo, e a candidatar-se a deputado federal. Divulgou slogans “Constituinte e liberdade”, “Morte ao fascismo” e “Elejamos o cavaleiro da esperança”. O PCB alcançou um papel de destaque na Constituinte. Elegeu um senador e 15 deputados. Foi a quarta maior bancada, de um total de nove partidos que disputaram vagas.

Vida parlamentar

Jorge Amado foi um parlamentar ativo em plenário e nas comissões. Denunciava espezinhamentos a parlamentares de esquerda e concentrava sua atuação na luta pela ampliação das liberdades individuais e políticas e na defesa das propostas do PCB. Apresentou 15 propostas de emenda ao projeto de Constituição, dentre as quais destacam-se a que acabava com a censura prévia para publicação de livros e periódicos e a que, pela primeira vez, garantia direitos autorais.

O constituinte Jorge Amado se orgulhava de duas propostas que viraram lei: a de garantia de liberdade religiosa e a que refere-se à facilidade para que a imprensa e as editoras obtivessem papel de impressão a preços acessíveis. Mesmo sofrendo campanha em que eram acusados de ser “dirigidos por uma potência estrangeira”, numa alusão à então União Soviética, “teleguiados de Moscou”, “espiões soviéticos”, os comunistas confirmaram sua votação anterior. Mas o PCB é jogado na ilegalidade.

Em 1948, Jorge Amado parte sozinho para exílio voluntário em Paris. Depois de sua casa ser invadida por agentes federais, a mulher, Zélia Gattai, e o filho João partem para a Itália, onde Jorge os apanha. Nessa ocasião, o escritor travou amizade com Picasso, Jean-Paul Sartre e outros expoentes da literatura e da arte mundiais e grandes comunistas do planeta. Recebeu, no Kremlin, em Moscou, Prêmio Stalin da Paz, depois renomeado Prêmio Lênin da Paz. Foi doutor honoris causa de dez universidades.

De volta ao Rio, organizou a coleção “Romances do povo”, de 25 volumes. Como gostava de escrever, Jorge Amado deixou mais de cem mil páginas em forma de cartas trocadas com gente do mundo inteiro, contendo relatos sobre livros e obras de arte e também a respeito de fatos do cotidiano.

“Para sintetizar tão produtiva e militante vida, nada mais posso dizer que, não apenas na sua intensa atividade política, que durou meio século, mas também na sua criativa e imorredoura produção intelectual, Jorge Amado teve pautada sua trajetória, colocando-se sempre pela liberdade contra o despotismo e a prepotência; pelo explorado contra o explorador; pelo oprimido contra o opressor; pelo fraco contra o forte; pela alegria contra a dor; pela esperança contra o desespero”, finalizou Roberto Freire.

FONTE: PORTAL DO PPS

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