quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Direção tucana modera discurso, mas instituto ataca PT e governo

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, disse ontem que os tucanos não planejam se "apropriar" do julgamento do mensalão para atacar o governo da presidente Dilma Rousseff e o PT. "Não devemos partidarizar essa questão", disse o deputado federal por Pernambuco.

A ideia do PSDB é aceitar institucionalmente a decisão que for tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas reagir sempre que o PT tentar demonstrar que o mensalão foi uma farsa, como tem feito o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do PT, deputado estadual Rui Falcão, este em vídeo divulgado no último fim de semana.

De acordo com Guerra, a posição do PSDB é aquela expressa pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, segundo a qual o STF deve julgar com isenção, mas sem ignorar a opinião pública. "Não estou dizendo: o Supremo deve condenar este ou aquele. Espero que julgue com isenção e o que for correto, absolve, o que for crime, castigo", afirmou FHC, em evidente alusão ao romance do escritor Fiodor Dostoiévski, publicado em 1866, uma das obras primas da literatura russa.

O vídeo de FHC foi uma resposta a outro postado na internet por Rui Falcão, no qual o presidente do PT pede que o julgamento seja justo e que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) "firmem sua convicção e se pronunciem exclusivamente com base das provas dos autos". De um modo geral, os petistas afirmam temer que o Supremo se deixe levar por uma suposta pressão da imprensa.

Prova de que o PSDB não pretende partidarizar o julgamento, segundo os tucanos, é a decisão tomada pelos tucanos de não pedir o impedimento do ministro José Antônio Dias Toffoli no julgamento da Ação Penal 470., Toffoli é amigo, já advogou advogado e trabalhou, no governo, com o ex-ministro da Casa Civil da Presidência José Dirceu, um dos 38 réus em julgamento, apontado pelo Ministério Público Federal como sendo o "chefe da quadrilha" do mensalão.

Essa é a posição da direção nacional do PSDB. Candidatos às eleições municipais, senadores e deputados estão liberados para tratar do assunto de acordo com o que julgar melhor politicamente. Até mesmo o Instituto Teotônio Vilela (ITV), vinculado ao partido, assumiu posições mais duras em relação ao governo e ao PT.

Divulgada ontem, a "Carta de Formulação" do ITV, uma espécie de comando da cúpula tucana para seus parlamentares e militantes em todo o país, o mensalão é tratado como "a mãe de todos os escândalos de corrupção que se seguiram no governo Lula, e se estenderam também à gestão de Dilma Rousseff".

A carta do ITV, que é presidido pelo tucano cearense Tasso Jereissati, termina com palavras de ordem ao PSDB: "Com esforço de milhões de cidadãos, o Brasil vem dando, ao longo das últimas décadas, passos importantes rumo à sua modernização, provendo melhores e mais dignas condições de vida à sua população", afirma o texto aos tucanos. "Julgar o mensalão irá significar mais um passo importante nesta caminhada. Se já restauramos a democracia, estabilizamos a economia e reduzimos a pobreza, a hora, agora, é de extirpar a corrupção, que a tudo dizima".

Apesar do discurso moderado de Sérgio Guerra, a avaliação entre os tucanos é que o PSDB ajustar o discurso no transcurso do julgamento: será mais radical, à medida em que se configurar que os acusados do PT serão condenados. (R.C.)

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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