sábado, 4 de agosto de 2012

Esquema ocorria dentro do palácio, acusa procurador

Ao acusar os réus do mensalão durante fala de cinco horas, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou ontem que o esquema de compra de apoio ao governo Lula funcionava "entre quatro paredes de um palácio presidencial". Pediu ainda que o Supremo ordene a prisão dos eventuais condenados imediatamente após a decisão

Procurador aponta Dirceu como "mentor" do esquema

Mensalão - o julgamento

GURGEL PEDE PRISÃO IMEDIATA DE CONDENADOS

CORRUPÇÃO OCORRIA "DENTRO DO PALÁCIO"

EVIDÊNCIAS SÃO "CONTUNDENTES"

Felipe Seligman, Flavio Ferreira, Márcio Falcão e Rubens Valente

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acusou ontem o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de ser o "mentor" e principal responsável pela organização do mensalão, que descreveu como um esquema de corrupção criado para assegurar apoio ao governo no Congresso após a chegada do PT ao poder. No segundo dia do julgamento do mensalão, Gurgel expôs os principais argumentos da acusação e defendeu-se das críticas feitas pelos advogados dos réus, que consideram frágeis as evidências apresentadas pelo procurador. Ao concluir sua exposição, Gurgel pediu aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que determinem a prisão dos eventuais condenados imediatamente depois da decisão.

Corrupção ocorria dentro do palácio, diz procurador

Gurgel afirma que esquema funcionava entre 4 paredes do palácio presidencial

Segundo ele, são contundentes as provas testemunhais contra Dirceu, que agiria por meio de "laranjas"

BRASÍLIA - Em sua última oportunidade de acusar os réus do mensalão, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse ontem que o esquema funcionava "entre quatro paredes" do palácio presidencial e pediu a prisão imediata de eventuais condenados.

"Quando falo de quatro paredes, falo das paredes da Casa Civil, de algo que transcorria dentro do palácio da Presidência da República", disse o procurador no segundo dia do julgamento.

O chefe do Ministério Público Federal disse ter sofrido intimidações e "ataques grosseiros" após entregar suas alegações finais, em referência às críticas por suposta omissão no caso Cachoeira.

"Houve tentativa de constrangimento e intimidação do Procurador-Geral da República, o que jamais havia ocorrido, o que mostra que nós temos uma quadrilha extremamente arrogante."

Em sua fala aos ministros do STF, Gurgel pediu que a corte estabeleça um "paradigma histórico".

"[Peço] desde já a expedição dos mandatos de prisão cabíveis imediatamente após a realização do julgamento". Gurgel considerou "risível" o discurso de que o mensalão não passou de um "delírio". "Jamais um delírio foi tão solidamente [...] documentado e provado". E repetiu que trata-se do mais "atrevido" e "escandaloso" esquema de corrupção do Brasil.

Em sua fala, ele apontou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu como o mentor da quadrilha. Dedicou 25 minutos das quase 5 horas de discurso a Dirceu, e disse que "a prova é contundente contra o ex-ministro.

Também procurou justificar a ausência alegada pela defesa de provas documentais da ação de Dirceu.

"O autor intelectual, quase sempre, não fala ao telefone, não envia mensagens eletrônicas, não assina documentos, não movimenta dinheiro por suas contas, agindo por intermédio de "laranjas". A prova da autoria do crime não é extraída de documentos ou de perícias, mas essencialmente da prova testemunhal", disse.

Apesar de dedicar menos tempo aos outros acusados, Gurgel citou vários outros documentos para tentar descrever como funcionariam os três núcleos: político, operacional e financeiro.

Ao longo de sua narrativa, Dirceu era constantemente citado, principalmente em depoimentos do empresário Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão. Ao falar sobre o núcleo financeiro, o procurador disse: "Ele [Dirceu] está rigorosamente em todas".

Gurgel enfatizou repasses de dinheiro a deputados em épocas de votações importantes no Congresso, como as reformas tributária e previdenciária, ocorridas entre setembro e dezembro de 2003.

Dos 38 réus, Gurgel pediu a absolvição por falta de provas do ex-ministro Luiz Gushiken e do assessor partidário Antônio Lamas.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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