sexta-feira, 31 de agosto de 2012

José Serra - 'Ficam dizendo que vou sair de novo'

Tucano nega plano para 2014 e atribui rejeição à ideia, explorada por adversários, de que deixaria prefeitura

Fernanda da Escóssia, Germano Oliveira, Gilberto Scofield, Gustavo Uribe e Silvia Amorim

SÃO PAULO

O senhor já foi prefeito de São Paulo e deixou o cargo para se candidatar a governador. Por que deseja ser prefeito novamente?

Porque é uma questão de vida pública. A prefeitura de São Paulo me motiva bastante. É uma cidade que é um verdadeiro país, com muitos desafios. Minha vida pública tem sido marcada pela vontade de fazer coisas boas acontecerem, e há muita coisa boa para fazer acontecer em São Paulo. E também coisas boas que devemos manter e que precisam aparecer, como inovações.

O senhor diz que há pontos a avançar na cidade. Em que pontos a gestão Kassab deixa a desejar?

Essa gestão não fez tudo. Fez coisas boas e positivas quase na totalidade, mas há ainda muito a avançar. Por exemplo, no caso da saúde. É preciso melhorar condições de agendamento de consultas, exames e cirurgias. Há capacidade instalada, foi um avanço enorme, mas tem de se avançar na área. Em medicamentos, chegamos a um ponto bastante satisfatório. É possível ampliar a distribuição de remédios em casa.

Pesquisas mostram polarização entre sua candidatura e a de Celso Russomanno (PRB). Mas sua campanha tem focado o debate com o PT. A candidatura de Russomanno não se sustentará?

Não escolhemos nenhuma polarização. Nós rebatemos críticas (feitas pelo PT), o que é diferente. Não é escolher um alvo e dizer que vamos atirar aqui. É rebatendo críticas.

O episódio em que seu programa de rádio chamou uma proposta de Fernando Haddad (PT) de "bilhete mensaleiro" não foi revide.

Isso é uma questão menor. O bilhete único mensal (promessa do PT) é um equívoco. Ele vai encarecer o transporte e vai fazer com que quem ande de ônibus pague mais, mesmo que não esteja andando..

Qual é a sua expectativa sobre o julgamento do mensalão?

Acompanho, não tenho tempo de assistir aos vídeos, mas está sendo um processo importante e inusitado na História brasileira. Diria que vai trazer uma contribuição muito importante para a vida pública brasileira.

E para as eleições? É um tema pertinente?

Essa é uma questão que está na mídia, na cabeça das pessoas, e é possível que esteja no voto. Outra coisa é transformar o mensalão em um objeto de debate de campanha. A campanha tem de ser travada em torno das questões da cidade, o que é muito difícil.

O senhor considerou acertado o uso do mensalão na sua campanha?

O mensalão está na imprensa todos os dias, não há quem fale mais de mensalão que os jornalistas. O PT tem uma habilidade extraordinária de patrulhar. Quando eles têm algum ponto vulnerável, eles patrulham. A própria imprensa, às vezes, veste a camisa do PT nesse patrulhamento. É um exagero, não imaginava que eles fossem ficar tão inseguros por conta disso.

A que atribui o fato de ter o mais alto índice de rejeição da eleição?

Fui candidato a presidente em 2010, numa disputa grande. É natural que o eleitorado do PT tenha posição mais definida a meu respeito. Segundo, quando aparecem indicações sobre o motivo da rejeição, não há praticamente nada do ponto de vista moral, ético ou de realizações. Os próprios adversários não têm muito o que falar a esse respeito. Isso está sendo explorado pelos adversários. Como eles não têm muito a dizer a meu respeito, ficam batendo na questão da saída da prefeitura, dizendo que vou sair de novo, para ser candidato a presidente ou governador.

Ter deixado a prefeitura é a principal razão para isso?

Não. Eu saí naquele momento e tive o apoio da população de São Paulo. Tive mais votos para governador do que tive para prefeito no primeiro turno. Naquele momento, era algo que se impunha. Nas eleições de 2006, o governador Geraldo Alckmin não podia concorrer à reeleição, então, concorri com apoio muito grande da opinião pública.

Em 2004, aliados da sua campanha diziam que Marta Suplicy (PT) não venceria a eleição porque tinha rejeição muita alta (32%). O PSDB passa por situação parecida. Preocupa?

Você deveria convidar um pesquisador para vir analisar. Eu sou candidato. Eu vou ganhar a eleição. Tem muito chão pela frente. Serão dias intensos.

A prefeitura do Rio, apesar de ter um orçamento menor, recebeu mais investimentos do governo federal do que São Paulo. O sr. fala muito da importância da parceria com o governo estadual. E com o governo federal?

É falso que a administração municipal recorreu pouco ao governo federal. É uma coisa que o PT tem dito, e as pessoas têm repetido sem verificar. Não é verdade. O parceiro prioritário é o governo estadual. Em qualquer estado brasileiro, a parceria fundamental é entre a capital e o governo do estado.

Sendo candidato do PSDB, que é oposição no plano federal, o sr. se considera com condições de manter boa relação com o governo federal?

Perfeitamente. Como mantive com o Lula quando fui prefeito e governador. O que está tendo agora é uma questão eleitoral de dizer "se vier algum prefeito ligado ao PT, vamos inundar de dinheiro a cidade". Isso é fantasia. Fizemos parceria até no Expresso Tiradentes, na época. Agora, não houve leniência da prefeitura. A UPA do Rio, feita dois anos depois, foi baseada nas AMAs (unidades de Atendimento Médico Ambulatorial) de São Paulo. As UPAs foram financiadas pelo governo federal, e aqui a prefeitura vivia pedindo que financiasse as AMAS. Não foi falta de pedido. O programa de creches federal não existiu na prática. Eles ficam falando mas não existiu. Isso é tudo coisa eleitoral.

Esperava a entrada do ex-presidente Lula com tanta força em SP?

Sim. A especialidade do Lula nunca foi governar, mas fazer campanha. Imagina se ele vai perder uma campanha!

O senhor pediu ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para aparecer na sua campanha?

O presidente Fernando Henrique está aí, é uma reserva moral para o país. O presidente fará o que achar melhor. Ele é um grande amigo nosso.

Para 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) é um nome natural?

Não vou falar sobre 2014. Deixa passar 2012. Só faltava discutir agora quem será o candidato do PSDB em 2014. Eu não vou.

O senhor fica na prefeitura até o fim do mandato?

Claro.

Os planos de disputar a nova eleição presidencial ficam para 2018?

Fico até envaidecido de se preocuparem com o que vou fazer em 2018. Significa que estou em grande forma.

O Maluf está apoiando Haddad, mas o PSDB tentou a aliança com ele para a sua campanha. O senhor gostaria de ter o apoio do Maluf?

Não. Hoje não.

E no segundo turno?

Não faz diferença.

A que atribui o crescimento de Russomanno?

Eu não me sinto confortável de ficar analisando o porquê da subida dos adversários. Não ganho meio voto nem perco meio voto. É inútil.

O trânsito é um dos piores problemas da cidade. Qual sua proposta?

É dos piores problemas, e me pergunto o que teria acontecido caso não tivéssemos investido tanto na cidade. Como governador fiz um dos maiores investimentos da História no metrô. O número de passageiros duplicou em relação a meados da década. Passou de 3,5 milhões para 7 milhões. O Rodoanel tirou de dentro da cidade caminhões que iam para o Porto de Santos. A Nova Marginal, não que seja um paraíso, melhorou muito. Qual o problema? É que entram 500 a 700 carros (novos) por dia em São Paulo. De 2005 para cá, os veículos aumentaram 35%. Tem que investir na área de trilhos, o metrô, o monotrilho e o trem.

Foi equívoco do governo federal dar isenção fiscal para a compra de automóveis para enfrentar a crise?

Seria demasia dizer que foi equívoco. Naquele momento, ajudou a manter o emprego. Foi opção do governo Lula. Em vez de aumentar investimentos e abaixar juros na crise de 2008 e 2009, preferiram aumentar salário do funcionalismo e turbinar o consumo. Foi uma estratégia. Eu teria feito a outra. O governo da Dilma está tentando fazer o que estou dizendo que seria correto. É uma autocrítica em relação à gestão anterior. O governo federal nunca se voltou para o metrô. Tem o projeto do trem-bala entre São Paulo e Rio que não tem pé nem cabeça. Vai gastar R$ 70 bilhões para uma demanda escassa, sem resolver os problemas.

Como pretende, se eleito, conseguir recursos e tirar do papel promessas para a área de transporte?

A prefeitura tem dinheiro em caixa. Mas tem que ter capacidade para fazer operações de crédito (empréstimos), o que, modéstia à parte, é especialidade minha. Fiz muito isso quando ministro do Planejamento. São Paulo tem outras possibilidades de receita. Uma delas são as operações urbanas. Outras são as parcerias com a iniciativa privada. Vocês podem ver que falo com muito mais agrado das coisas que quero fazer.

A que horas tem ido dormir?

Varia muito agora. Por mim faria tudo de madrugada, o grosso, quero dizer. Não sou eu que marco os horários. Digo aos candidatos novatos a vereador e deputados que tem que ser paranoico. Candidato que está muito seguro não é uma boa.

O senhor está mais para paranoico ou seguro?

Nem um nem outro. Como já fiz muito análise, mais ou menos tenho domínio do quadro psicológico.

FONTE: O GLOBO

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