quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Lá vem o Patto!!! – Urbano Patto

Enfim, o mensalão está em julgamento.

Julgamento técnico??? O que os advogados de defesa dos réus querem dizer com isso?

Parece-nos que tentam fazer crer que somente seria possível aos juízes concluírem pela condenação dos réus se os menores detalhes das coisas estiverem revelados e comprovados. Não vale se os juízes tomarem suas decisões pela conjunção de indícios, testemunhos, documentos que, como uma obra concatenada e coletiva, demonstram métodos, objetivos e papéis desempenhados.

Ademais, embora tecnicamente possam haver firulas jurídicas, qual a grande diferença moral e ética entre se dar dinheiro para grupos ou bancadas de parlamentares e partidos quer seja para pagar dívidas de campanha, investir na poupança, jogar em cassinos, viajar ou qualquer outro tipo de uso? Vão dizer que não foi para obter apoio político? O que teriam os beneficiados a oferecer por isso? Carnê do Baú da Felicidade? Torcer pelo time do gentil e desinteressado fornecedor de dinheiro vivo?

Mesmo que tenha sido "apenas caixa 2 para pagar dívidas de campanha", um "crime menor", como até admitem, estariam pagando as tais dívidas por puro altruísmo, sem querer apoio político, coisa que em se tratando de parlamentares se traduz, quase que unicamente, em votos?

E se assim fosse, pior ainda. A lógica mais elementar permite concluir que um "crime menor" - eleitoral - foi cometido para sustentar um "crime maior", o de corrupção de agentes públicos. Uma pechincha. Pague um, leve dois.

Porém, do jeito que os advogados estão falando:

Só seria possível comprovar os crimes se os réus confessassem.

Só seria uma quadrilha se houvesse uma assembléia de formação com ata registrada.

Só seria possível identificar o chefe do bando se houvessem cópias autenticadas dos memorandos com as ordens dadas.

Só seria percebida a venda de votos se se pudesse registrar em tomografia, ou outro exame sofisticado, as alterações na consciência dos parlamentares vendilhões.

Só seria demonstrada a lavagem de dinheiro se o "lavador" devolvesse a grana limpa ou apresentasse o extrato da conta secreta, sua ou do laranja.

Só seria possível se identificar os corruptos, ativos ou passivos, se a troca da grana fosse filmada e exibida na TV em rede nacional.

O mais inverossímil é ver os brilhantes advogados tratando gente crescida, vivida, experiente em política e negócios, como seus clientes o são, como pessoas simplórias, até aparvalhadas. Dessas que acham que movimentar milhares reais em sacos de papel é fato normal nos caixas de banco, que levantar empréstimos de milhões sem garantias é corriqueiro na banca nacional, que depositar fortunas em dinheiro no exterior sem declarar é a praxe nos contratos de publicidade.

Nada contra que façam suas defesas técnicas, mas respeitem um pouco mais a inteligência e o bom senso do respeitável público.

Esperemos sinceramente que os ministros do STF não compartilhem dessa visão de que o julgamento deva ser essencialmente técnico, se assim fosse seria mais simples aplicar uma tabela, uma fórmula ou uma máquina de julgar - objetivas, impessoais, exatas, inapelavelmente técnicas.

Esperemos, apenas e singelamente, que julguem como homens. Para tanto basta que sejam justos.

Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com

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