quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Lula discute com Dirceu desdobramentos do mensalão

Aliados pedem a ex-ministro que não dispute presidência do PT

Tatiana Farah

SÃO PAULO Um dos principais réus do mensalão, o ex-ministro José Dirceu tem se reunido semanalmente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os encontros ocorrem na casa do ex-presidente, em São Bernardo do Campo, ou no instituto Lula, em São Paulo. Em pauta, o julgamento do escândalo no Supremo Tribunal Federal (STF), no qual Dirceu é acusado de formação de quadrilha e corrupção. Lula e seu ex-ministro também discutem a situação eleitoral deste ano, principalmente nas cidades escolhidas como prioritárias pelo PT: São Paulo, Recife e Belo Horizonte.

Desde o início do julgamento, Dirceu tem passado a maior parte do tempo em sua casa em Vinhedo, no interior do estado, mas retorna semanalmente à capital. Embora se mantenha recolhido, tem conversado e se encontrado com gente famosa. No restrito círculo íntimo de Dirceu, o ex-presidente da Vale Roger Agnelli, o escritor Fernando Morais e o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terrra (MST) João Pedro Stédile.

- Quando o visitei, há umas três semanas, ele estava esticado em uma poltrona assistindo ao filme do Tintin. Não é exatamente a imagem de quem esteja preocupado - contou Fernando Morais.

Dirceu também conversa por telefone com o cineasta Luiz Carlos Barreto e com o escritor Paulo Coelho. Seu amigo "desde antes do mensalão", Barreto passou dois dias na casa de Dirceu, há pouco mais de uma semana e não identificou sinais de abatimento.

- Eu o achei muito bem. Está preocupado como qualquer pessoa estaria em seu lugar. Eu só faço uma pergunta: se valeu a pena ter participado das lutas que participou. Ele não mostra nenhum arrependimento desse passado e tem tanta certeza dos atos que não cometeu que sequer renunciou ao mandato na Câmara - defende Barreto.

Encontros com venezuelano e MST

Outra visita recebida em Vinhedo foi a do embaixador venezuelano no Brasil, Maximilien Arveláiz. Ele, Stédile e Morais foram recebidos juntos em um almoço:

- Nem tocamos no assunto do julgamento - disse Morais, que, diante do escândalo do mensalão, em 2005, abortou o projeto de escrever a biografia de Dirceu.

Publicamente, aliados de Dirceu no PT afirmam que o ex-ministro de Lula evita conversar sobre o julgamento do mensalão.

- Não converso sobre isso com ele e me parece que ele não está interessado em conversar sobre o julgamento - disse Francisco Rocha, o Rochinha, coordenador da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), da qual Dirceu faz parte.

O petista defende que o ex-ministro aguarde o final do julgamento para traçar qualquer plano na política. Para ele, Dirceu não deve disputar a presidência do partido no ano que vem, apoiando a candidatura do atual presidente, Rui Falcão, da tendência Novo Rumo.

O ex-ministro se afastou da consultoria a empresas para acompanhar o processo no STF. A ideia era interromper o serviço até o fim do julgamento. Mas, como o caso tem se estendido, pode reavaliar o retorno. Ele prevê que o veredicto sai até meados de outubro.

FONTE: O GLOBO

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