quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Otimismo e pessimismo - Rogério Amato

Diz o compositor que o Brasil é um país "abençoado por Deus e bonito por natureza", numa manifestação de otimismo que se pode considerar justificável se considerarmos a disponibilidade de recursos naturais de que dispomos, inclusive importantes pontos de atração turística. De outro lado, Roberto Campos costumava dizer que o Brasil era o "país das oportunidades perdidas" e que, por mais que o mundo "conspirasse" a nosso favor, nós não aproveitávamos para adotar medidas estruturais com vistas ao longo prazo. Aos que criticavam seu pessimismo, Campos respondia que "o pessimista é um otimista bem informado".

Para confirmar o otimismo do compositor, o Brasil foi "abençoado" na última década com dois "bônus" extremamente importantes que lhe teriam permitido não só alavancar o crescimento da economia a taxas elevadas e sustentáveis, como promover o desenvolvimento em seu sentido mais amplo, com a melhora dos níveis de educação e saúde da população.

O primeiro "bônus" foi o extraordinário ganho do País nas relações de troca, isto é, o aumento significativo dos preços dos minérios e alimentos no mercado externo e o aumento das quantidades exportadas, graças à expansão da demanda mundial. A agricultura com tenacidade e produtividade respondeu a essa demanda, apesar de ser atacada por ambientalistas radicais, pela política do governo em relação aos índios e aos quilombolas, pela tolerância das autoridades às invasões de terras e apesar de ter de suportar os custos das deficiências da infraestrutura.

Embora uma parcela do aumento da receita tributária tenha sido utilizada para combater a pobreza - por meio de transferências às classes de renda mais baixa -, em vez de destinar aos necessários investimentos na infraestrutura, foi carreada para aumento do custeio da máquina pública, tanto no Executivo, com aumento do número e dos salários dos servidores, como no Legislativo, que, além da quantidade excessiva de funcionários, apresenta distorções salariais e de benefícios absurdos, que se constituem em afronta aos demais trabalhadores.

O segundo "bônus" que o Brasil teve na última década é o demográfico, que nada mais é do que uma estrutura etária em que o contingente da população economicamente ativa supera largamente o dos dependentes (idosos e crianças),representando um fator favorável para o desenvolvimento. Se, por um lado, cria maior necessidade de emprego, de outro, a queda acentuada da taxa de natalidade permite que, com os mesmos recursos, seja possível melhorar as condições de educação e saúde da população.

Em contrapartida, se o País não aproveitar o período do "bônus demográfico" para resolver, ou pelo menos equacionar, a questão da Previdência, o País irá se deparar com grandes dificuldades no "pós-bônus", quando a proporção dos dependentes crescerá significativamente, tendo em vista o aumento da longevidade da população.

O ponto alto do "bônus demográfico" deve ocorrer por volta de 2020, o que significa que não temos muito tempo para aproveitar seus benefícios e, sobretudo, para nos prepararmos para sua reversão. No momento em que se discute a revogação do "fator previdenciário", é preciso que se leve em conta a realidade demográfica do País, sob pena de comprometer o futuro. Além disso, a redução da população ativa no futuro exigirá maior produtividade da mão de obra para compensar a menor proporção de trabalhadores disponíveis, o que reforça a necessidade e a urgência da melhora da educação no País.

Analisando o cenário acima descrito, o pessimista diria que, mais uma vez, o Brasil perdeu as oportunidades oferecidas pelos ""bônus". Como sou otimista, apesar de me considerar bem informado, acredito que ainda podemos aproveitar os benefícios propiciados pelo setor externo e pela demografia, desde que saibamos agir com rapidez. É hora de agir.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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