domingo, 12 de agosto de 2012

Servidor com alto salário lidera greve do setor público

Integrantes de carreiras com salário inicial em torno de R$ 10 mil protagonizam mobilização por reajuste

Levantamento feito pelo Estado mos¬tra que servidores públicos com nível superior e integrantes de carreiras com salário inicial em torno de R$ 10 mil protagonizam greves e mobilizações por reajustes salariais e novos planos de remuneração. Em alguns casos, como o dos auditores fiscais da Receita Federal, a remuneração chega perto de R$ 20 mil no topo da carreira, informa o repórter Wilson Tosta. Também existem contrastes – como aposentados que recebem o salário da ati¬va, enquanto outros inativos não têm esse direito. Há ainda diferenças expressivas nos vencimentos de funcio¬nários públicos com qualificação idên¬tica, como mestres e doutores lotados em órgãos diferentes. As disparidades dão combustível ao movimento, que recrudesceu.

"Elite do funcionalismo" protagoniza greve e protestos contra governo Dilma

Wilson Tosta

A série de paralisações que atinge serviços federais e desafia o governo da presidente Dilma Rousseff é protagonizada por servidores cujas carreiras têm salários iniciais em torno de R$ 10 mil. Em algumas categorias, como a dos auditores fiscais da Receita Federal, essas cifras chegam perto dos R$ 20 mil no topo da carreira.

Uma análise dos dados do Ministério do Planejamento mostra um pouco do que pode ser o impacto dos aumentos reivindicados pelos servidores na folha de pagamento. Mais da metade (53%) dos funcionários do Executivo ganha acima de R$ 4.500 mensais -16,2% do total recebe mais de R$ 10.500, segundo números de abril de 2012. Menos de 20% (18,5%) dos servidores ganham até R$ 3 mil no Poder.

Essas cifras, assinaladas no Boletim Estatístico de Pessoal de maio, incluem administração direta, fundações e autarquias, mas excluem o Ministério Público da União, Banco Central, empresas públicas e sociedades de economia mista. Apesar de pequenas variações - a folha cresce vegetativamente todo mês - são bem próximas do que ocorre hoje, segundo o Planejamento.

Agências. Um dos grupos mais fortemente mobilizados do movimento grevista, o funcionalismo das agências reguladoras recebe, no seu grupo de elite - o cargo de especialista - salários que, do início ao fim da carreira, vão de R$ 10.019 a R$ 17.479. Nos postos de analista, a remuneração vai de R$ 9.623 a R$ 16.367, e em postos de nível superior, varia de R$ 7.285 a R$ 12.131. Profissionais de nível médio, com cargos de técnico administrativo, recebem de R$ 4.760,18 a R$ 7.664,76.

O Sinagências, representante desses servidores, diz que há defasagem de 25% desde 2008 e pede a remuneração por subsídio, como nas carreiras jurídicas, na diplomacia e na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

No Banco Central, um analista, cargo de nível superior, começa com R$ 12.960,"77 e vai a R$ 18.478,45 no fim da carreira, segundo Tabela de Remuneração dos Servidores Públicos Federais - Caderno n.° 58 - 2012.

Um procurador do BC inicia sua trajetória no órgão com R$ 14.970 e, se chegar ao topo da carreira, terá R$ 19.451. Um técnico vai de R$ 4.917, remuneração dos novatos, a R$ 8.449. Todas essas cifras não incorporam outros beT nefícios eventuais. O Sindicato Nacional de Funcionários do BC reivindica 23% de aumento para repor perdas inflacionárias dos últimos anos.

Topo. Os vencimentos pagos no BC, porém, são superados pelos de outros órgãos públicos, cujos servidores também participam do movimento geral por aumento de salários, alegando perdas inflacionárias nos últimos anos. Os auditores fiscais da Receita Federal do Brasil começam com R$ 13.600 e, no fim da carreira, chegam a R$ 19.451 - o mesmo que é pago aos auditores fiscais do Trabalho. Os auditores da Receita querem 30,18% de aumento, alegando que sua última recomposição salarial foi concedida em 2008 e parcelada até 2010 - em 2011 e em 2012 não tiveram aumento. Já os analistas tributários vão de R$ 7.996 a R$ 11.595, remuneração próxima da que é paga aos agentes da Polícia Federal - que pararam por três dias na semana passada, pedindo novo plano de carreira.

Os agentes federais ganham de R$ 7.514 no início a R$ 11.879,08 no fim. Além de reestruturação na carreira, pedem a demissão do diretor-geral da PF, delegado Leandro Daiello Coimbra.

Delegados, do início ao fim da carreira, recebem de R$ 13.368 a R$ 19.699 e querem reajustes idênticos aos magistrados. Mostram-se, porém, solidários a Daiello.

Base. Por outro lado, professores das universidades federais, que formam uma das categorias mais mobilizadas e estão em greve desde 17 de maio, figuram entre as categorias de nível superior com piores remunerações no serviço público. Um professor com doutorado recebe R$ 3.622, em regime de 20 horas - sem considerar a proposta apresentada pelo ! governo. Se trabalhar em dedicação exclusiva, ganha R$ 12.225. Isso é menos do que recebe um pesquisador em informações estatísticas e geográficas do IBGE - R$ 14.176 - também com doutorado, no fim de sua carreira.

A proposta do governo eleva a remuneração dos professores com ,doutorado e dedicação exclusiva nas universidades para até mais de R$ 17 mil, mas o reajuste viria em parcelas, a partir de 2013 eso seria concluído em 2015.

Os sindicalistas dizem que essa remuneraçao só atingirá uma minoria da categoria e reclamam da exigência de titulação - especialização, mestrado, doutorado - para progressão na carreira. O governo promete iniciar negociações setoriais com as 30 categorias grevistas ainda nesta semana. Aministra do Planejamento, Miriam Belchior, afirma que nem todos terão suas reivindicações atendidas pelo Planalto.

Crise Internacional

O governo federal pretendia ter anunciado reajustes para algumas categorias em junho, mas alega que as respostas após os estímulos ao setor econômico não apareceram.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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