segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sete anos depois, Jefferson se defende

Advogados de Bispo Rodrigues, Romeu Queiroz e José Borba também serão ouvidos na sessão de hoje

Paulo Celso Pereira

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA Exatos sete anos após o ex-deputado Roberto Jefferson denunciar a existência do mensalão, seu advogado, Luiz Francisco Barbosa, terá hoje a última oportunidade para tentar evitar que ele seja condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Sua fala, de uma hora, terá dois focos. Primeiro, dirá que não houve crime no ato de receber R$ 4 milhões em dinheiro do PT; em seguida, partirá para um ataque aberto à Procuradoria Geral da República. Segundo o advogado, a PGR estaria tentando pressionar os ministros a uma condenação sem provas e teria se omitido ao não incluir o ex-presidente Lula como réu.

- Essa denúncia colocou todo mundo em um saco de gatos. O pedido de prisão de todos os réus foi uma forma de pressionar o tribunal diante de sua vadiagem probatória - critica Barbosa, que atribui à falta de empenho do Ministério Público Federal a suposta inexistência de provas mais robustas contra os réus.

Em suas alegações finais entregues aos ministros, o advogado usa os mesmos argumentos da maioria dos réus na defesa da acusação de corrupção passiva. Segundo Barbosa, os recursos recebidos por Roberto Jefferson não eram em troca do apoio do partido no Congresso, e sim fruto de um acordo referente às eleições de 2004. São citadas, inclusive, normas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que indicavam a possibilidade de os partidos doarem verbas entre si na campanha. Barbosa não admitirá sequer que os recursos eram de caixa dois.

- Isso não é objeto do processo. Teríamos de saber se os candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador declararam ter recebido as doações do PT. Não sabemos, mas estimo que tenham declarado - diz.

Para rechaçar a acusação de que os recursos recebidos seriam para a aprovação da reforma da Previdência, Barbosa afirma que Jefferson já defendia a reforma desde a Constituinte, e que essa era também a postura de seu partido, o PTB. Além disso, o advogado lembra que a legenda já apoiava Lula desde o segundo turno da eleição de 2002 e tinha, inclusive, indicado o ministro do Turismo. Portanto, não seria cabível a acusação de corrupção passiva:

- (Jefferson) andou sempre nos limites que a lei garante - diz a defesa.

Em relação à segunda acusação, que trata da lavagem de dinheiro, a defesa de Roberto Jefferson afirma que ele não sabia que os R$ 4 milhões em dinheiro vivo tinham origem criminosa. Em seu depoimento à Justiça Federal, o ex-deputado chegou a dizer que desconfiava que o recurso era de caixa dois, mas não é categórico. Seu advogado afirma, no entanto, que nem mesmo a Procuradoria da República conseguiu identificar a origem dos recursos.

- Se não sabe o acusador a origem daquele recurso, como afirmar que é ilícito e, por isso, atribuir ao defendente (Jefferson) que empenhou-se no seu branqueamento ou lavagem? Nonsense! - conclui.

A segunda parte da defesa, no entanto, será toda de ataques à Procuradoria Geral da República. O foco será a ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os réus. Três das 11 páginas das alegações finais entregues por Luiz Francisco Barbosa destinam-se exclusivamente a defender a necessidade de o ex-presidente Lula ter sido denunciado, apesar de Roberto Jefferson ter afirmado várias vezes que Lula não sabia de nada.

O advogado afirma que Lula seria o único integrante do Poder Executivo com autoridade para propor as leis de cuja aprovação dependia o apoio parlamentar dos deputados cooptados: "a razão do ilustre acusador de ter deixado de denunciar aquele que, por força de disposição constitucional, é o único que, no âmbito do Poder Executivo, tem iniciativa legislativa, o Presidente da República (...) é um mistério que esta Ação Penal, incompleta e descabelada, não revela", critica o documento.

Defesa de Bispo Rodrigues será a primeira a falar hoje

Primeira a falar hoje no STF, a defesa do ex-deputado Bispo Rodrigues vai confirmar que ele recebeu R$ 150 mil, mas negará que o dinheiro do valerioduto tenha sido para comprar de votos na Câmara. A verba teria tido usada para pagar as despesas do antigo PL, hoje PR, na campanha de segundo turno de Lula no Rio de Janeiro.

A defesa de Rodrigues vai sustentar ainda que o MP Federal não detalhou como ele teria participado do mensalão, limitando-se a mencionar pagamentos em troca de votações na Câmara. Por isso, essa descrição seria genérica e não atenderia as exigências da legislação. Os advogados do Bispo Rodrigues devem repetir o argumento apresentado por outros integrantes do PL , citando depoimentos do ex-presidente Lula e de seu vice José Alencar. Os depoimentos falam de um acordo entre PL e PT para formação da chapa que disputou a campanha presidencial de 2002. Bispo Rodrigues sustenta que, como seu partido fazia parte do governo desde a campanha, não faz sentido ser acusado de receber dinheiro para votar a favor deste governo.

Também falarão hoje as defesas dos ex-deputados Romeu Queiroz (PTB) e José Borba (PMDB). Os advogados de Queiroz alegarão que ele recebeu verba da Usiminas e não do valerioduto. Borba negará ter recebido qualquer recurso de Marcos Valério ou do PT.

FONTE: O GLOBO

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