sábado, 1 de setembro de 2012

A terceira via em SP - Merval Pereira

Para o professor Romero Jacob, da PUC-Rio, e sua turma de pesquisadores, o que está acontecendo em São Paulo na disputa da prefeitura não é novidade. Eles trabalham com o que chamam de "geografia do voto", buscando recuperar, através de 150 mapas, o comportamento dos eleitores por zonas eleitorais nas cidades do Rio e São Paulo.

O e-book " A geografia do voto nas eleições para prefeito e presidente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo: 1996-2010" está acessível a todos, de graça, na página da editora da PUC- Rio: http://www.editora.vrc.puc-rio.br/ .

Na verdade, diz ele, é um pouco buscar "escolhas políticas homogêneas em espaços políticos complexos". A série histórica põe questões que nos permitem olhar a campanha de modo mais abrangente. No caso de São Paulo, por exemplo, fica claro que há uma terceira via, com forças locais que conseguem se viabilizar mesmo diante da organização maior de PT e PSDB. Em sete eleições, desde 1985, a vitória é do que ele chama de "direita paulistana". O PT ganhou duas vezes, com Luiza Erundina e Marta Suplicy, e o PSDB, uma, com José Serra, e, como mostra a série histórica, a terceira via tem se afirmado ao longo do tempo, com a direita paulistana ganhando quatro vezes: Jânio Quadros, Paulo Maluf, Celso Pitta e Gilberto Kassab.

O candidato Celso Russomanno, do PRB, que está à frente nas pesquisas, seria o representante desse "malufismo repaginado". O histórico é muito mais de disputa do PT com os "malufismos" nas suas variações da direita paulistana do que de PT contra PSDB, como acontece em nível nacional, ressalta Romero Jacob. O fato de Russomano estar roubando votos de Serra nos chamados redutos tucanos, os "votos azuis", é uma contrapartida da tendência histórica desses grupos de apoiar o PSDB.

O voto antipetista estaria buscando em Russomanno a solução mais pragmática, dizem as pesquisas eleitorais de Ibope e Datafolha. Mesmo quando Maluf diz que vai apoiar o petista Fernando Haddad - e quando disse que apoiava Marta Suplicy -, no final os votos vão para os tucanos, lembra Jacob. Segundo o histórico, um cenário de disputa entre Russomanno e Haddad, se acontecer, não seria nada estranho. Ele lembra que só houve uma eleição para prefeito em que o PT ficou de fora da disputa: em 1985, quando deu Jânio Quadros contra Fernando Henrique.

A pergunta-chave, para Jacob, é qual seria a tendência dessa força política conservadora hoje: preferiria ficar ao lado do governador ou da presidente da República? Outra incógnita é para onde iriam as forças hoje com Russomanno se der Serra x Haddad. Em 2004 foram para Serra. Se pegarmos os números do primeiro para o segundo turno, diz Jacob, o que se vê é que o eleitor tucano e o malufista foram para Serra e Kassab também em 2008.

Em São Paulo, a parte central da cidade é área por excelência tucana. Ali o PSDB sempre teve votações excepcionais. Tem renda alta e maior escolaridade, e a área de renda mais baixa fica com o PT, enquanto Mooca, Ipiranga, áreas de classe média baixa, é de onde a direita paulistana tira sua força.

Quando se vai caminhando para as extremidades do município, para as zonas Sul, Leste, Noroeste, nos limites do município com o entorno, sobretudo com os municípios industriais, cresce a força do PT. Isso fica claro na divisa entre o ABCD e a zonas Sul e Leste: ABCD, Guarulhos, Osasco, onde há a grande concentração industrial. Em oito eleições o PT vai ter voto na periferia da capital, e o PSDB, na parte central. O que se observa sempre é que há uma área na cidade de São Paulo malufista.

O resultado final vai depender de ganhar de muito onde se é mais forte, e perder de pouco na área em que o adversário é mais forte. A parte central de São Paulo, além de tucana, é católica (83% da população). Nas zonas Leste, Sul e Noroeste, os evangélicos vão a 30% da população. O candidato Gabriel Chalita (PMDB) pode ter sido plantado para tirar voto do Serra na área central, já que é católico, ligado ao padre Marcelo Rossi e à renovação carismática, raciocina Jacob.

E Russomanno poderia atrair o voto popular, mas também das igrejas pentecostais. Não foi por outra razão que os serristas ligados ao prefeito Kassab deram corda para essa candidatura, sem esperar que ela ganhasse a força própria que parece ter no momento. (Amanhã, a eleição no Rio)

FONTE: O GLOBO

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