sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Dia de bancos centrais - Míriam Leitão

Ontem foi dia de prestar atenção no que disseram os bancos centrais do Brasil e da Europa. Aqui, o BC divulgou a ata do Copom e disse que agora os juros vão cair menos. Na Europa, o presidente do BCE, Mario Draghi, venceu a queda de braço com Angela Merkel. Com o voto contrário apenas do Bundesbank, anunciou que comprará títulos dos países endividados da zona do euro.

A ata do Copom reconheceu que o mundo passa por um choque agrícola, mas acha que é de menor intensidade e mais breve que o último choque. A inflação de alimentos e bebidas foi a 8,9% nos 12 meses até agosto. No mercado, a avaliação que se faz é que em setembro o repasse dessa alta de preços internacionais dos alimentos para o mercado doméstico vai ser mais forte. O BC aposta que a inflação em 12 meses vai cair dos atuais 5,24% porque a taxa de setembro será menor que os 0,53% do ano passado.

Na Europa, venceu a posição mais flexível, mas a nova ajuda vem com uma condição. Os governos terão que fazer pedidos formais, e isso implicará em supervisão externa e compromissos de redução de gastos. A Itália, de Draghi, não quer saber disso; a Espanha não terá escolha.

A Europa está em recessão, e o crescimento do Brasil minguou. A diferença é que o BCE refez os seus cálculos e prevê uma alta de apenas 0,5% no ano que vem. Já o BC brasileiro acredita que nosso ritmo de atividade retomará o vigor a partir deste segundo semestre.

Nosso BC explica que a crise europeia nos afeta de várias formas: menor corrente de comércio; menor acesso ao crédito externo; desestímulo a investimentos e redução da confiança dos empresários. Mas considera que o Brasil tem condições de voltar a crescer pela oferta consistente de crédito interno, pelo mercado de trabalho aquecido e pelas políticas de transferência de renda que garantem o consumo.

As bolsas subiram após o anúncio de Mario Draghi. Os juros cobrados do governo espanhol para a rolagem de dívidas caíram para o nível mais baixo em seis meses. Os juros do governo italiano recuaram para o menor nível em quatro meses. A expectativa pelo anúncio do BCE fez com que o custo da dívida espanhola caísse 20% nas últimas semanas, e o custo italiano, 18%, segundo o "Financial Times".

A principal diferença entre o que o BCE anunciou ontem e o que vinha sendo tentado na Europa é que antes os outros países da região precisavam colocar dinheiro em um fundo, para que só depois disso ele fosse repassado aos governos endividados. Agora, o BCE, que tem a maquininha que imprime euro nas mãos, pode fazer isso diretamente. O risco é contaminar o balanço do Banco Central com títulos podres e desestimular o ajuste que os governos precisam fazer para reduzir gastos. Esse é o temor do Bundesbank.

Numa economia globalizada, o que diz um BC do lado de lá tem efeitos sobre o que faz o BC daqui. O anúncio da Draghi não resolve o problema europeu, mas torna mais remoto o risco de um evento extremo na zona do euro, como a saída de um dos países do bloco. Esse é o cenário com o qual o Banco Central brasileiro já vinha trabalhando.

O choque agrícola virou um complicador que não estava no radar do BC brasileiro. A seca nos EUA está elevando o preço dos alimentos. Agora, além da inflação de serviços, o BC precisará ficar atento a isso. E ele ainda não põe na conta o aumento da gasolina, pelo qual a Petrobras espera para evitar novos prejuízos. No começo do governo Dilma, o Banco Central garantia que em 2012 entregaria a inflação na meta. Ontem, ele jogou a toalha. Nem este ano, nem em 2013 e nem mesmo em 2014. O governo Dilma não verá o centro da meta.

FONTE: O GLOBO

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