sábado, 8 de setembro de 2012

Dia de protesto e de pressão por reajuste

Em meio a aplausos para a presidente Dilma, servidores reivindicam aumento salarial e manifestantes clamam o fim da corrupção

João Valadares, Paula Filizola, Vera Batista e Paulo de Tarso Lyra

Tropa em revista: presidente recebeu aplausos do público que lotou as arquibancadas da Esplanada

Mais do que um mero desfile militar para marcar a Independência do Brasil, o 7 de Setembro é o dia oficial do protesto. E ontem não foi diferente. Servidores públicos insatisfeitos com baixos salários e manifestantes que clamavam pelo fim da corrupção e impunidade no país saíram de casa cedo com uma tarefa: constranger o governo federal e mostrar o tamanho da indignação. Policiais federais vaiaram e deram as costas para colegas que desfilavam, e mulheres de integrantes das Forças Armadas exibiram faixas cobrando reajuste salarial para a categoria. Em meio ao clima de insatisfação, o Palácio do Planalto se precaveu e blindou com divisórias metálicas todo o trajeto do desfile.

Fórmula perfeita para garantir a presidente Dilma Rousseff longe de qualquer grito de insatisfação. Deu certo. Em carro aberto, o Rolls Royce da Presidência da República, Dilma foi aplaudida pelo público que lotava as arquibancadas montadas antes do palanque presidencial. Os manifestantes se posicionaram após o local reservado às autoridades. Ao descer do veículo, a presidente escutou mais aplausos. Na saída, o mesmo script. Alguns gritos de longe foram abafados pela banda dos Dragões da Independência.

A presidente saiu sem perceber uma faixa posicionada mais à frente que dizia "Acorda, Brasil. Militar, não vote no PT. Eles querem acabar com você." No momento em que a Polícia Federal realizava o desfile, Dilma fez questão de se levantar e acenar para todos os agentes que dirigiam as patrulhas.

Concentração

A poucos metros de distância do palanque presidencial, milhares de pessoas se organizavam na Esplanada dos Ministérios para participar da IV Marcha Contra a Corrupção. O ato foi organizado pelo Movimento Brasil Contra a Corrupção (MBCC), criado há um ano com apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

A estimativa da organização do evento é que mais de 5 mil pessoas participaram da passeata ontem. Já a Polícia Militar contabilizou de 1,5 mil a 2 mil pessoas. Concentrados desde as 8h em frente à Biblioteca Nacional, os manifestantes tomaram três pistas do Eixo Monumental por volta das 11h30 e seguiram até a Praça dos Três Poderes, onde cantaram o Hino Nacional. A organização do evento preferiu esperar o fim do desfile para garantir segurança. Poucos minutos antes de iniciar a marcha, a organização do MBCC anunciou que o carro de som não poderia seguir pela Esplanada, porque havia sido proibido pela Presidência da República.

Irreverência na passeata

A assessoria do Palácio do Planalto negou a informação, bem como o Ministério da Defesa. A segurança durante toda a marcha foi bastante reforçada. O comandante do 6º Batalhão Responsável pelo Efetivo de Manifestação, coronel Gouveia, afirmou que mais de 2 mil homens acompanharam o percurso, principalmente próximo ao Congresso, Ministério da Justiça, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto.

Entre os manifestantes, alguns chamaram atenção pela criatividade. O médico Guilbert Nobre, 44 anos, veio de São Paulo para protestar contra a rede pública de saúde. Com uma caixa de papelão na cabeça, ele afirmou que a população hoje não tem vontade própria e, por isso, não reivindica seus direitos. Já a gestora pública Sandra Mandioli, 45 anos, colocou um macacão listrado, representando um preso, e pediu punição aos corruptos. "Meu protesto é contra a impunidade, então o mensalão está junto. Bandido não pode ter exceção", disse a manifestante.

O público adolescente, porém, era maioria. As colegas de turma Giovanna Baptista e Amanda Araújo, ambas de 15 anos, mobilizaram os alunos do Sigma, onde estudam, para participarem da marcha. As meninas contaram que têm acompanhado o julgamento do mensalão e se interessam bastante por política. "Fomos de sala em sala falando da marcha. Acho que as pessoas precisam evoluir sua consciência política, principalmente os brasilienses, já que estamos na capital federal", opinou Giovanna. Amanda estava acompanhada do pai, o engenheiro agrônomo João Araujo, 48 anos, e da irmã Gabriela, de 10 anos.

João contou que em casa incentiva a discussão sobre política e participou da passeata para estimular as filhas. A pluralidade de grupos chamou atenção durante a marcha contra a corrupção. Três pessoas do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos, em parceria com o Movimento Feminino Popular, carregaram uma faixa pedindo punição para os torturadores da ditadura militar. Em nota, o grupo afirmou que a Comissão da Verdade precisa ser transparente em suas investigações.

A religião também esteve presente. O filósofo e educador Inri Cristo saiu de seu templo para orar "pelo ideal de um governo transparente, íntegro, que sirva ao povo, em vez de servir-se do povo". Inri, trajando branco, com uma imitação de coroa de espinhos na cabeça, foi carregado em um trono durante o trajeto da passeata. "Concordei em vir quando comprovei que o movimento era apolítico e arreligioso. E porque entendo que a corrupção está em todo o tipo de governo, seja socialista, comunista ou capitalista. Temos é que ter leis adequadas para diminuir esse descalabro", destacou.

Vaias para o governador

O governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), foi vaiado após o locutor oficial do desfile militar anunciar que ele iria recepcionar, ao lado do ministro da Defesa, Celso Amorim, a presidente Dilma Rousseff. As vaias partiram da arquibancada posicionada quase em frente ao palanque presidencial. Entre os manifestantes, havia mulheres de militares que reivindicam melhorias salariais para os maridos. Depois do desfile, ao ser questionado, Agnelo disse que não ouviu a manifestação popular. "O clima era de total harmonia", disse.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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