quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Dilma dá Cultura a Marta para ajudar PT em SP

Ana de Hollanda deixa cargo em meio a crise

Nova ministra assume menos de uma semana após entrar na campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo

Bombardeada por críticas de setores da área cultural e do PT desde que assumiu o Ministério da Cultura, Ana de Hollanda caiu ontem um ano e nove meses após entrar no governo Dilma Rousseff. Será substituída pela senadora Marta Suplicy (PT-SP), que, após muito resistir, aderiu semana passada à campanha do petista Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. É o segundo ministro de Dilma que entra na negociação para alavancar a candidatura de Haddad — o primeiro foi Marcelo Crivella, que ganhou a Pesca. A gota d"água para a demissão de Ana de Hollanda foi sua carta à ministra do Planejamento, Miriam Belchior, reclamando do orçamento da pasta, como revelou o Globo a Mais.

Convocada a apagar incêndio em SP, Marta volta à cena

Longe das preferências de Dilma, senadora contorna adversidades e reconquista lugar no ministério, em troca de apoio a Haddad

Maria Lima, Sérgio Roxo

FIM DO ISOLAMENTO

Tida como voluntariosa e arrogante até por companheiros de partido, a nova ministra da Cultura, Marta Suplicy (PT-SP), tem mostrado ser também boa de briga e alguém que não desiste. Jamais conseguiu proximidade ou cumplicidade maiores com a presidente Dilma Rousseff. Ficou sem cargo ou mandato de 2008 a 2010, quando se elegeu senadora. Tentou cavar uma vaga no Ministério: Mulher, Educação, Cidades e Turismo. Mas foi preterida por Dilma, que sempre tinha uma desculpa: seria mais útil no Senado, ou já havia paulistas demais na Esplanada.

O primeiro prêmio de consolação foi sua eleição para a Mesa do Senado como vice de José Sarney. Com boa visibilidade na presidência das sessões, Marta viu a possibilidade de voltar à prefeitura de São Paulo. Mas levou uma rasteira de Dilma e Lula, que impuseram a candidatura de Fernando Haddad.

Humilhada, negou-se a entrar na campanha do petista e se isolou até dentro de seu grupo paulistano liderado pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, que foi seu braço direito na prefeitura, como secretário de Governo. O processo de isolamento teve início na campanha ao Senado em 2010. A influência do namorado de Marta, o ex-presidente do Jockey Club Márcio Toledo, filiado ao PMDB, na candidatura irritou os petistas. Um dos fatos de maior incômodo foi quando Toledo passou a se envolver na administração da arrecadação de recursos.

Agora, com o desempenho arrastado de Haddad perante a disparada de Celso Russomano (PRB), ela viu a chance de dar a volta por cima. Após dois encontros com Dilma (22 e 30 de agosto) e um almoço com Lula (27 de agosto), seu destino foi traçado: entraria na campanha e gastaria sola de sapato ao lado de Haddad. E levaria um ministério.

Colega do Senado, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) mostrou surpresa ao ser informado que Marta seria, finalmente, ministra:

- Vai ser ministra? De qual ministério?

A trajetória política de Marta é marcada por polêmicas e declarações de grande repercussão. Psicanalista e sexóloga, ganhou o grande público ao falar de sexo para donas de casa no programa "TV Mulher", da Rede Globo. Em 1981 se filiou ao PT, mas só em 1995 conseguiu seu primeiro mandato de deputada federal. Em 2001, se elegeu prefeita de São Paulo, fez uma gestão aprovada na periferia mas ganhou o apelido de Martaxa ao instituir numa taxa de lixo.

Em 2004 sofreu uma dura derrota para José Serra (PSDB), que lhe tirou a reeleição. Em 2003, após se divorciar do senador Eduardo Supllicy, se casou numa cerimônia concorrida com o franco-argentino Luiz Favre, de quem já se separou.

Derrapada em terra no caos aéreo

Em 2007, no segundo mandato de Lula, a ex-prefeita foi nomeada por Lula para o Ministério do Turismo e logo provocou a ira de consumidores, quando, em pleno caos aéreo, ao ser perguntada sobre o que dizer aos turistas presos nos aeroportos vivendo verdadeiros dramas, não titubeou:

- Relaxa e goza, que você vai esquecer dos transtornos - sugeriu, sorridente.

Já desgastada, em 2008 deixou a pasta e sofreu nova derrota na disputa pela prefeitura paulistana, desta vez para Gilberto Kassab. A campanha já era dada como perdida, quando os marqueteiros resolveram apelar para vídeos em que Marta, uma sexóloga, questionava a homossexualidade do então prefeito.

No início deste ano, ao ser preterida por Haddad, não entrou em sua campanha e voltou a arrumar confusão com Kassab, criador do PSD, que negociava aliança com o petista:

- Tenho que ser muito cuidadosa em não me posicionar com engajamento antes de uma solução para a questão do PSD. Senão, corro risco de acordar num palanque de mãos dadas com Kassab.

Como vice-presidente do Senado, encrencou-se também com os colegas senadores, que a acusavam de autoritária no comando dos trabalhos. Responsável pela nomeação do ex-presidente da Embratur Mário Moysés, preso na Operação Voucher, em 2011, Marta se escondeu no banheiro do cafezinho do plenário para evitar o assunto com jornalistas.

FONTE: O GLOBO

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