terça-feira, 11 de setembro de 2012

Dilma na liça - Tereza Cruvinel

As pesquisas que serão divulgadas amanhã, e no que resta desta segunda semana de setembro, devem consolidar a tendência das disputas eleitorais mais acirradas e relevantes

A presidente Dilma Rousseff começou a semana com três tacadas ofensivas. Abortou pressões e lobbies de candidatos à vaga aberta no STF com a aposentadoria do ministro Cezar Peluso, estreou na campanha eletrônica de candidatos governistas em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro e, amanhã, lança o programa de reestruturação do setor elétrico, que não se restringirá à desoneração com vistas ao barateamento das tarifas residencial e industrial.

O nome do ministro do STJ Teori Zavascki para a vaga de Peluso já estava em suas cogitações desde quando ela indicou o ministro Luiz Fux, também originário do STJ. A escolha, entretanto, foi acelerada pelo aumento das pressões políticas e corporativas a favor de diferentes candidatos à vaga, tendo surgido até mesmo o lobby da comunidade sírio-libanesa para indicar um representante, numa espécie de contraponto ao fato de Fux ter origem judaica. Quem apresentou o perfil de Zavascki a Dilma foi o ex-ministro do STF e da Defesa Nelson Jobim. Apesar dos problemas que vieram a ter, e que a levaram a demitir Jobim, ela gostou da sugestão e resolveu bancá-la, antecipando o anúncio para dar um basta às movimentações internas e externas ao governo sobre o assunto. O nome de Zavascki será encaminhado logo ao Senado. Se ele será sabatinado e empossado antes do fim do julgamento do chamado mensalão, é com os senadores. Não houve nem haverá, dizem fontes palacianas, qualquer cálculo nesse sentido. Zavascki é discreto, avesso ao estrelato que caracteriza boa parte da Corte atual e é extremamente trabalhador. No STJ, é daqueles que levam processos para casa para analisar em fins de semana e feriados.

Na campanha

As pesquisas que serão divulgadas amanhã, e no que resta desta segunda semana de setembro, devem consolidar a tendência das disputas eleitorais mais acirradas e relevantes. E isso pesou na antecipação da veiculação das gravações da presidente, em apoio aos candidatos Patrus Ananias (Belo Horizonte), Fernando Haddad (São Paulo) e Eduardo Paes (Rio).

Em Belo Horizonte, Patrus cresceu sete pontos percentuais na semana passada, segundo o Ibope, ao passo que o atual prefeito, Marcio Lacerda (PSB), caiu dois. Essa tendência de alta do petista sugeriu que, entrando agora na campanha, Dilma poderia impulsionar ainda mais seu crescimento. Ela deve ir a Belo Horizonte para uma participação pessoal, mas a agenda está conturbada pela viagem a Nova York, onde, no dia 25, abrirá pela segunda vez a Assembleia-Geral da ONU.

Relativamente a São Paulo, a avaliação foi semelhante, embora ali exista uma preocupação adicional com o crescimento do candidato do PRB, Celso Russomanno, um azarão que está frustrando os planos de confronto tucano-petistas. O tempo para o surgimento de um fato desestabilizador de seu favoritismo ficou agora muito curto. Acrescentando ao apoio de Lula o ingresso de Dilma na campanha, o PT espera que Haddad consiga novo estirão nas pesquisas e ultrapasse o tucano José Serra, credenciando-se ao segundo turno contra Russomanno, embora o plano fosse a disputa com o tucano.

No Rio, Eduardo Paes atingiu 52% na semana passada, segundo o Ibope. Exatamente por conta de seu favoritismo, segundo os peemedebistas, Dilma antecipou a participação eletrônica na campanha do Rio. Se deixasse para depois, poderia ser tarde para ter o crédito de ter apoiado o candidato mais importante do partido preferencial da coalizão dilmista, o PMDB.

O pacote da energia

Há um mês, a festa foi dos empresários do setor rodoferroviário. Hoje, será dos que atuam ou pretendem ingressar no setor elétrico. A redução das tarifas a partir de janeiro de 2013, Dilma já anunciou na semana passada, no pronunciamento alusivo à Independência. Na solenidade de hoje, serão lançadas as condições para a renovação das concessões que vencerão a partir de 2015. Considerando que os investimentos realizados na infraestrutura de geração ou de transmissão já foram amortizados nos últimos 25 anos de exploração do serviço, o governo admitirá a renovação para aquelas que aceitarem as novas regras tarifárias. Essa renovação não é juridicamente pacífica, exigirá mudanças na legislação, o que o governo deve propor por meio de uma medida provisória de tramitação complexa e de alto custo político. Renovadas as concessões, espera-se uma mudança substancial no setor, com a compra de algumas concessionárias e a fusão de outras, o que deve levar à concentração dos serviços em quatro ou cinco grandes grupos, preservada a hegemonia das empresas nacionais.

No fim do mês, Dilma ainda pode anunciar novas concessões na área de portos e aeroportos e novas desonerações para a folha de pagamentos.

Algumas:

Para o cientista político Antonio Lavareda, marqueteiros e donos de produtoras de vídeo é que têm interesse na versão de que o horário eleitoral tem batido até a audiência do Jornal nacional. Para começar, diz ele, todas as emissoras transmitem a propaganda simultaneamente, o que não permite a medida comparativa. Depois, tevê ligada, nesse caso, não é indicador de audiência. O telespectador-eleitor pode estar apenas esperando o início do novo programa.

O ministro Cesar Asfor Rocha, do STJ, era um dos candidatos à vaga aberta de ministro do STF. Na quinta-feira, ele pediu aposentadoria, ao saber que Dilma se fixara no nome de Teori Zavascki. Era sua última chance.

Quem conhece o STF e o Judiciário garante: não há risco de esse julgamento do mensalão terminar antes da eleição. Embora seus candidatos estejam crescendo em São Paulo e em Belo Horizonte, o PT sente os efeitos no resto do país. Hoje, tem sete prefeituras de capitais, mas está liderando a disputa em apenas duas: Goiânia e Rio Branco.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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