segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Falcão vê PT e PSB separados em 2014

Em entrevista, o presidente do PT, Rui Falcão, prevê o rompimento de seu partido com o PSB nas eleições presidenciais de 2014. Diz que o atual aliado almeja voo solo e deve atrair o PSDB.

"PSB coloca rompimento para 2014 na ordem do dia"

Presidente do PT diz que tradicional aliado poderá estar, inclusive, numa aliança com o PSDB nas eleições presidenciais

Julia Duailibi, Fernando Gallo e Conrado Corsalette

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirma que o partido já vê um eventual rompimento com o PSB nas eleições presidenciais de 2014. Isso porque, na sua análise, o tradicional parceiro indicou, via o presidente da legenda e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que pretende alçar voo solo e poderá, inclusive, estar ao lado dos tucanos. "Acho que há uma disposição do PSB de se fortalecer, colocando na ordem do dia a possibilidade de disputar 2014 fora do nosso bloco", disse Falcão, em entrevista concedida na semana passada, antes que o deputado João Paulo Cunha (PT) desistisse de concorrer à prefeitura de Osasco após ser condenado pelo mensalão - Falcão trabalhava então com a hipótese de absolvição.

O PT já avaliou onde tem mais chance de vencer nas eleições municipais deste ano?

Temos mais chance nas cidades médias e pequenas. Nas cidades grandes estamos para avaliar o impacto da campanha televisiva. Porque no retrato de hoje só estamos liderando no Recife. E temos expectativa de crescer bastante em Salvador.

Qual reflexo dessa eleição em relação às alianças nacionais? Há estranhamento com o PSB em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, onde a aliança se desfez.

Vamos manter parceria estratégica com o PMDB, que é o nosso principal parceiro. As outras disputas são locais, não são elas que estão pautando necessariamente alguma mudança de postura em relação ao PSB, por exemplo. Acho que no Recife houve um rompimento provocado pelo PSB. Belo Horizonte foi um episódio local, mas a direção nacional do PSB não interveio para corrigir. Ela ameaçou, mas recuou e permitiu que a aliança fosse rompida por uma falta de palavra do prefeito Marcio Lacerda, que não honrou um compromisso escrito, inclusive.

O estremecimento excluiu a chance de Eduardo Campos em uma chapa com o PT em 2014?

Primeiro precisa ver se ele estava incluído.

Ficou algum ressentimento?

Não misturamos disputa política com questões pessoais. Não tenho nenhum ressentimento. Acho que há uma disposição do PSB de se fortalecer, o que é legítimo, mas também colocando na ordem do dia a possibilidade de disputar 2014 fora do nosso bloco.

Já trabalha com esse cenário?

Temos que analisar a hipótese. Ela não está posta agora, mas ela pode ser posta a partir de rearranjos partidários que possam ocorrer. Fala-se muito em reorganizações partidárias depois da eleição municipal. Fusão e surgimento de outros partidos.

O sr. vê alguma possibilidade de fusão do PSB com o PSD?

Não. Acho que pode surgir algum tipo de aglutinação, mas não do PSD com o PSB. O PSD se consolidou depois que ganhou tempo de televisão e fundo partidário.

Além de um eventual voo solo, o sr. vê alguma possibilidade de o PSB estar com o PSDB?

É uma possibilidade que não podemos descartar. Isso pode vir a ocorrer.

O que o PT fará para manter o PSB em seu arco de alianças?

Ele continua a participar do nosso governo federal e vamos nos empenhar pra que isso continue a ocorrer. Não queremos misturar o rompimento na eleição municipal com a questão nacional.

Por que o comportamento do governador Eduardo Campos foi diferente em São Paulo?

Primeiro porque ele tinha um compromisso pessoal com o Lula. Ainda assim, ele cobrou várias contrapartidas. E nós atendemos. Até demos a mais. Caso, por exemplo, de Aracaju, que não tinha sido pedido e retiramos a candidatura para apoiar o candidato do PSB. Tudo o que ele pediu nós atendemos.

Quais são os desafios do candidato petista Fernando Haddad para crescer em São Paulo?

Uma boa exposição na televisão, que ele está tendo agora, a participação do Lula e da Marta, isso vai ajudar muito, e os debates que virão. E a identificação dos eleitores do PT com ele.

O que o sr. achou de o candidato José Serra ter chamado a ideia do Bilhete Único Mensal de "bilhete mensaleiro"?

É a repetição do estilo de campanha que ele fez contra a Dilma: baixaria. Embora ele não assuma pessoalmente, mas a campanha dele está fazendo. Nós devíamos discutir mais propostas para a cidade, mais ideias, e não entrar em baixaria.

O assunto mensalão tem influenciado nas campanhas?

Tirando essa afirmação do Serra, pelo País, nas cidades que tenho visitado, essa questão não entrou na disputa.

O PT entende que o julgamento no Suprmeo é técnico?

Já se tornou lugar comum dizer que decisão do Supremo a gente não discute, cumpre. Pelo que tenho visto, se houver a hipótese de condenar alguns réus, os advogados ainda podem lançar mão de uma série de recursos, agravos.

O mensalão do PSDB deveria ser julgado em 2014?

Acho que já deveria ter sido julgado pelo prazo que está lá. E também foi desmembrado, um tratamento diferente. Agora, não acho que a gente deve pensar nisso como revanche. Há prazos. E de preferência que não julgue em ano eleitoral, que julgue antes. Não sou favorável a jogar para 2014 para a gente se vingar do PSDB. O STF já deveria ter julgado. Houve tempo para isso. E seguiu outro caminho. O Supremo deve ter suas razões, mas as formas foram distintas. Inclusive um precedeu o outro, né? A denúncia dos fatos que envolvem o senador Eduardo Azeredo é anterior a 2005. Não sei por que não foi julgado.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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