quinta-feira, 13 de setembro de 2012

“Mequetrefe” opõe relator e revisor no STF

Discordância sobre a ré Geiza Dias, condenada por Barbosa e absolvida por Lewandowski, provoca bate-boca entre os dois no julgamento do mensalão

Mais condenações e bate-boca no STF

Revisor defende punições a seis pessoas por lavagem de dinheiro. Lewandowski e Barbosa divergem sobre um dos réus

Ana Maria Campos, Diego Abreu, Helena Mader

Uma discordância sobre a responsabilidade de Geiza Dias, descrita como "mequetrefe" pelo próprio advogado, em crimes de lavagem foi o motivo do último bate-boca entre o relator, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski, no julgamento do mensalão. Na sessão de ontem, houve intenso embate entre os dois ministros à medida que Lewandowski defendia a absolvição da ex-secretária da SMP&B, empresa que teria sido usada no esquema. "Faça um voto sóbrio", criticou Barbosa. "Vossa Excelência está dizendo que meu voto não é sóbrio?", questionou Lewandowski.

Na sessão, Marcos Valério; dois ex-sócios dele; Simone Vasconcelos, ex-diretora administrativo-financeira da SMP&B, responsável por pagamentos a políticos; além de dois executivos do Banco Rural, Kátia Rabello e José Roberto Salgado, foram condenados por operações de lavagem de dinheiro. Os demais ministros vão votar hoje e encerrar o capítulo quatro, referente a esse crime. Ex-executiva do Banco Rural, Ayanna Tenório já tem dois votos pela absolvição, do relator e do revisor. Em seu voto, Lewandowski absolveu também Geiza, Vinícius Samarane, atual vice-presidente do Banco Rural, e o advogado Rogério Tolentino.

É aguardado hoje o voto da ministra Rosa Weber, que até agora não se pronunciou sobre o crime de lavagem. Além dos 10 réus do capítulo quatro, a magistrada vai tratar da acusação contra o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato.

Entrevista

A discussão entre Barbosa e Lewandowski começou quando o revisor fez referência a uma entrevista concedida pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, da Polícia Federal (PF), que presidiu o inquérito do mensalão. Lewandowski disse que Zampronha havia defendido a inocência de Geiza e citado a colaboração dela nas investigações.
Para Lewandowski, essa manifestação é relevante. Geiza não foi indiciada pela PF, mas acabou incluída na denúncia pelo Ministério Público. O relator também concluiu pela condenação. Sobre a entrevista, Barbosa disse: "Em qualquer país decentemente organizado, um delegado desses estaria no mínimo suspenso".

O ministro Gilmar Mendes também reagiu. Sustentou que considerar uma prova fora dos autos representaria um elemento "heterodoxo". Visivelmente irritado com o pronuciamento de Lewandowski sobre Geiza, Barbosa disse que o revisor transformou o voto num "jogo de intrigas".

Lewandowski ressaltou que Geiza era "subalterna", tinha um salário baixo, de R$ 1,5 mil, "como uma empregada doméstica" e não conhecia o esquema. Para o revisor, quem usa e-mails corporativos e manda beijos para interlocutores ao tratar de pagamentos de forma identificada não pode estar envolvido num esquema de lavagem.

O revisor disse "estar perplexo" com as críticas de Barbosa, mas fez questão de contemporizar para evitar um embate mais duro. "Não tenho perdido oportunidades de elogiar a clareza do seu voto", comentou Lewandowski. "Não tenho a pretensão de dar lição. É só uma segunda opinião, um segundo olhar, uma nova perspectiva", acrescentou o revisor. No fim do julgamento, sobre o "jogo de intrigas" citado por Barbosa, Lewandowski desconversou. "Ele disse isso? Não ouvi."

Desabafo no Twitter

Pelo Twitter, o delegado Luís Flávio Zampronha comentou: "Ainda bem que não estou sendo julgado pelo ministro Joaquim Barbosa, senão estaria condenado". Em seguida, o delegado apagou o tuíte. E explicou a interlocutores que não teve intenção de ofender o ministro, tampouco influenciar o julgamento do mensalão. "Foi só uma opinião." A Associação Nacional dos Delegados da PF vai divulgar nota de apoio ao delegado.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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