domingo, 23 de setembro de 2012

Os guerrilheiros que o mensalão engoliu


A próxima batalha dos ex-guerrilheiros

Dirceu e Genoino, que recorreram à luta armada contra a ditadura, contam os dias para o desfecho do caso no STF

Paulo de Tarso Lyra

Dois personagens emblemáticos da luta contra o regime militar, que resistiram aos anos de chumbo, foram presos, voltaram à vida pública após a redemocratização, fundaram um partido que misturava a classe trabalhadora com a intelectualidade e ajudaram a eleger o primeiro presidente operário no país. Enfrentam, agora, aquela que pode ser a última das grandes batalhas políticas de suas vidas. José Dirceu e José Genoino estão às vésperas de serem julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no escândalo do mensalão.

Pelo histórico atual do julgamento e com base nas declarações dadas por eles mesmos nas últimas semanas, a condenação é dada como certa. Resta saber se ela virá com punições em regime fechado. Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, em 2002, Dirceu era o todo-poderoso presidente do PT e ganhou ainda mais força ao ser nomeado chefe da Casa Civil. Ainda há uma década, Genoino forçou um segundo turno contra o tucano Geraldo Alckmin na disputa pelo governo de São Paulo e, após perder a disputa, tornou-se presidente do PT no ano seguinte. Daqui a duas semanas, ambos poderão estar condenados por corrupção ativa. A outra acusação que pesa contra eles é formação de quadrilha, ponto que será julgado após o primeiro turno das eleições municipais.

A forma como os dois enfrentam o julgamento diz um pouco das diferenças de personalidade entre eles. Dirceu emagreceu seis quilos, mas jura que é por causa dos exercícios físicos regulares, que incluem musculação, esteira e alongamento na academia do prédio em que mora na capital paulista. Genoino submeteu-se, na semana passada, a um cateterismo após ser constatado o entupimento de uma artéria em um check-in de rotina. Não precisou, no entanto, fazer uma cirurgia para colocação de um stent, aparelho que evita a contração das artérias do coração.

"O Genoino é daquele jeito elétrico, entrava em uma comissão, saía para outra, fazia discursos no plenário, dava entrevistas no Salão Verde. Ele é passional", resumiu o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (PT-SP). "O Dirceu não, ele é mais calculista, estrategista, lida melhor com as adversidades", completou Tatto. "Genoino é ideológico. Dirceu, pragmático. Se assim não fosse, não traria o PL para a chapa de Lula em 2002", disse ao Correio um aliado do ex-ministro.

Quando estourou o escândalo do mensalão, em 2005, companheiros de Genoino ficaram preocupados com o comportamento depressivo apresentado pelo ex-presidente do PT. Ele chegou a ficar mais de um mês no quarto, com pouca disposição para receber até os amigos mais próximos. Pessoas que testemunharam aquele momento lembram do abatimento que acometeu o ex-deputado.

Com o início do julgamento, ele se tornou ainda mais tenso e nervoso. "A depressão voltou para valer", disse um interlocutor que acompanha o processo do mensalão. O advogado Luiz Fernando Pacheco reconhece que o cliente está ansioso com a proximidade da análise do caso pelos ministros do STF. "Esse processo estava dormindo há sete anos e agora vivemos os momentos finais. Claro que existe uma grande expectativa, mas Genoino está convicto da legalidade de seus atos", completou o defensor, buscando desanuviar o ambiente.

Renúncia

Dirceu, ao contrário, jamais se abateu, pelo menos publicamente. Assim que o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson — também réu no mensalão — o apontou como "chefe da quadrilha" do mensalão, renunciou ao cargo de ministro da Casa Civil, repassando o cargo para a atual presidente, Dilma Rousseff, a quem cumprimentou como "companheira de armas" (Dilma também foi guerrilheira) e, em seguida, enfrentou o processo de cassação do mandato de deputado federal na Câmara.

Genoino acabou conseguindo se eleger deputado federal em 2006, mas o mandato foi mais discreto e com menos brilho do que suas passagens anteriores. Em 2010, não conseguiu se reeleger, permanecendo na fila dos suplentes da bancada. Graças à proximidade com os militares e com o então ministro da Justiça, Nelson Jobim, foi nomeado assessor especial do Ministério da Defesa. No início do julgamento, tirou férias de 30 dias. Agora, está de licença-médica para o tratamento de saúde.

José Dirceu resolveu arriscar-se na iniciativa privada e virou consultor de diversas empresas, valendo-se de seu expertise como ex-homem forte do governo. Não admite quais são os clientes, alegando confidencialidade, mas comenta-se que presta serviços para Carlos Slim — o homem mais rico do mundo — e o proprietário da Delta Construções, Fernando Cavendish.

José Genoino está muito abatido, contam pessoas próximas ao ex-deputado

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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