quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Prejuízo realizado - Dora Kramer

Das 26 capitais onde há eleição municipal as pesquisas mostram o PT na dianteira folgada apenas em Goiânia e com chance maior ou menor de ir ao segundo turno em outras seis.

Apesar de todos os reclamos sobre a coincidência entre o julgamento e o período eleitoral, tal placar não pode ser atribuído a prejuízos decorrentes do exame do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.

Primeiro porque o partido do poder já entrou mal na disputa, antes do início das audiências. Em segundo lugar, porque as mexidas mais importantes nos últimos números não autorizam qualquer conexão entre uma coisa e outra.

Em São Paulo, o petista Fernando Haddad subiu significativamente ao ponto de se tornar competitivo a uma vaga no segundo turno e ainda aparecer como vencedor na simulação de uma disputa com o tucano José Serra.

Movimento registrado ainda sob o calor da condenação de João Paulo Cunha e da veemente recusa da tese do caixa 2 como argumento de defesa.

A outra alteração importante apontada nas pesquisas foi a deslanchada do candidato do PSB à prefeitura do Recife, que tirou da liderança o petista Humberto Costa. Deve-se exclusivamente ao empenho pessoal do governador Eduardo Campos.

Causa mais plausível do desempenho aquém do razoável para o PT nas capitais parece ser a perda gradativa do eleitorado urbano, instruído e politizado, hoje acentuadamente substituído pela clientela dos programas sociais.

Nessa mudança de perfil haveria, sim, uma conexão com o mensalão. Não por causa do julgamento, mas pelo fato de ser o registro mais visível do conjunto da obra desde que o PT decidiu trocar a defesa da ética na política pela bandeira da permissividade no trato do aparelho estatal.

Para 2013. Se a presidente Dilma Rousseff levou seis meses para indicar Rosa Weber ao Supremo em condições, digamos, normais de temperatura, não seria lógico pensar que indique substituto para a vaga do ministro Cezar Peluso no meio da confusão.

Ainda que o fizesse, o nome teria de passar pelo crivo do Senado em "recesso" eleitoral até meados de outubro quando o julgamento, se não tiver acabado, terá ido longe demais para aceitar o embarque de novatos.

Vencidos. A decisão sobre a metodologia da imputação de penas evidentemente será do colegiado, mas o presidente do STF, Ayres Britto, antes do início do julgamento manifestava o seguinte entendimento a respeito: quem acompanha o relator pela condenação tende a acompanhá-lo também na chamada "dosimetria".

Na visão dele, quem opta pela absolvição ficando vencido ainda assim precisaria escolher uma punição. Pela lógica escolheria a pena mínima.

Exéquias. Na falta de empenho para dar às investigações o rumo que naturalmente deveriam tomar diante das evidências de que a construtora Delta funcionava como uma espécie de "valerioduto" para os negócios do bicheiro Carlos Cachoeira, a CPI preferiu suspender os trabalhos até outubro.

A justificativa não poderia ser mais capenga: evitar a influência dos "humores eleitorais" nos trabalhos da comissão.

Quais humores mesmo andam a influir no silêncio exagerada e placidamente consentido aos depoentes e na ausência de produtividade no exame de documentos que já mostram a existência de um grande esquema de transferência de recursos decorrentes de contratos governamentais a empresas fantasmas de Cachoeira?

As eleições transcorrem numa dimensão e a CPI em outra completamente diferente. A suspensão dos trabalhos nada mais é que a assinatura do recibo de pagamento da (conveniente) cerimônia do adeus à chance de o Legislativo seguir o Judiciário na trilha da intolerância à corrupção.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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