terça-feira, 4 de setembro de 2012

PT e PSDB temem que já seja tarde - Raymundo Costa

Esta é a semana decisiva para o candidato do PRB a prefeito de São Paulo, Celso Russomanno. É possível que ele seja atacado até pelo PSDB, apesar do acordo de não agressão celebrado pelas duas legendas. Os comitês de José Serra (PSDB) e do ex-ministro Fernando Haddad (PT) têm boas notícias sobre seus candidatos. Os três estão em aparente empate técnico. Por isso todos reconhecem, embora não digam em público, que talvez já seja tarde demais para a virada: faltam apenas 33 dias para a eleição

Em 1988 foi assim: a oposição bateu o tempo inteiro em Luiz Eduardo Greenhalgh, vice na chapa de Luiza Erundina. Advogado de presos políticos era visto como um radical no meio militar e conservador, que ainda dispunha de grande influência naquele primeiro ano de governo civil. A oposição centrou fogo em Greenhalgh e esqueceu de Erundina. Quando se deu conta do erro cometido, não dispunha mais de tempo para reagir: a candidata já havia consolidado sua eleição, a primeira de um projeto do PT na capital industrial do país.

A semana dos ataques a Celso Russomanno começa agora e as campanhas dizem que têm farto material disponível. Aliás, essa é outra prova de que a oposição não esperava muito de sua candidatura, do contrário "as denúncias já estariam nas ruas". Elas sem dúvida ocorrerão, mas a torcida é que a eleição de 2012 não comece como terminou a de 2010, com um discurso religioso que ultrapassou os limites do bem senso. A discussão religiosa pode ser boa. A má discussão é que deve ser combatida. E o veneno já pode ser sentido em um ou outro discurso.

A 33 dias da eleição, PT e PSDB temam enfrentar a Haddad

As pesquisas diárias feitas pelos candidatos do PT e do PSDB dizem - a notícia é dos respectivos comitês - que Haddad continua crescendo, mas não na velocidade esperada pelo PT. O partido, no entanto, tem um canhão guardado no paiol do segundo turno: Dilma Rousseff.

Em São Paulo, Dilma já demonstrou que sua rejeição é inferior à de Lula. Basta comparar as eleições de 2006 e 2010. Na primeira, Geraldo Alckmin colocou uma frente superior a 3 milhões de votos sobre Lula: em 2010, Serra nem conseguiu chegar à casa do milhão.

Das últimas eleições em São Paulo, esta é a que, sem dúvidas, reserva mais surpresas. Russomanno, evidentemente, pode perder a eleição. Ela não estava mesmo nos cálculos de ninguém. Talvez apenas em seus sonhos mais secretos

Quando Russomanno rondava 6% de intenção de votos, o deputado estadual Rui Falcão, presidente nacional do PT, especulava com amigos sobre o futuro das eleições. Sobre o candidato do PRB, costumava brincar, mais ou menos nesses termos. "Como sempre, ele sairá na frente. Como sempre, terminará a disputa entre os últimos colocados".

Não era só o presidente do PT que estava convencido de que Russomanno não chegaria a lugar algum. Atualmente, com algum esforço, pode-se dizer que, mesmo perdendo a eleição, Celso Russomanno tornou-se um político maior que era em São Paulo.

O presidente do PT estava convencido da mesma coisa que todos os outros principais candidatos estavam pensando: o candidato do PRB jogaria como nunca e perderia como sempre. Falcão, particularmente, achava que a entrada de Lula faria Haddad decolar e Russomanno se liquefazer.

Não estava propriamente errado, como mostra o "sprint" do ex-ministro da reta final, quando Lula, com a voz um pouco melhor, entrou com mais determinação na campanha. Havia - e ainda há - dúvidas sobre o efetivo empenho de Marta Suplicy na campanha - no fim de semana passado ela cumpriu tudo o que prometeu a Lula, que foi até a senadora pedir o apoio a Haddad como, semanas antes, fora confraternizar na casa de Paulo Maluf.

É cedo para prever quem será o novo prefeito de São Paulo, embora falte pouco mais de mês para a eleição. O PT, por exemplo, ainda não atingiu o patamar que costuma alcançar na cidade, até os adversários já sabem, baseados em suas próprias pesquisas. As sondagens de Serra mostram que a promessa de não abandonar a prefeitura, feita em 2004, continua sendo devastadora para sua campanha.

O curioso é que isso não ocorreu em 2006, quando Serra largou a prefeitura para disputar o governo do Estado no lugar de Alckmin. Mas influiu bastante na eleição presidencial de 2010, quando ele novamente voltou a deixar um cargo público com pouco mais de dois anos de eleição. E a promessa que fizera fora a de que não deixaria a Prefeitura de São Paulo para disputar o Palácio do Planalto.

Mas alguma coisa acontece em São Paulo que não está claro para os candidatos, conforme eles próprios reconhecem. No programa de ontem à noite Serra tentou dar uma explicação para sua atitude, disse que as pessoas pediam na ruas. Uma explicação que não esconde a surpresa. A doença de Lula pode ter atrapalhado os planos do PT, que esperava estar melhor nas pesquisas. Mas Haddad pelo menos se moveu e dá a impressão de que encontrou a trilha do segundo turno. Resta saber se terá tempo de chegar até lá.

Falcão aparentemente estava certo com relação a Lula e Haddad, mas errou feito na avaliação sobre Russomanno. Ele e a maioria dos políticos de São Paulo, a começar pelo mais experiente deles, o tucano José Serra, até o noviço Gabriel Chalita (PMDB). Ninguém foi capaz de prever o inusitado crescimento de Celso Russomanno. O pior não é isso. O pior é que a disparada do candidato de PRB ainda agora deixa intrigados seus adversários. Há muita especulação e pouca certeza sobre a sorte da eleição.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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