domingo, 2 de setembro de 2012

Relação PT-PSB em teste de fogo

O desfecho das disputas entre os dois partidos em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza será decisivo para definir se petistas e socialistas serão aliados na sucessão de 2014

Manoel Guimarães

Embora PT e PSB sejam aliados no âmbito nacional, os atritos entre essas siglas em três importantes capitais nas eleições deste ano estão longe de serem considerados pontuais da forma que seus respectivos dirigentes pretendem passar para a opinião pública. As confusões não se resumem ao Recife, onde Geraldo Julio (PSB) e Humberto Costa (PT) se enfrentarão nas urnas. Situação similar ocorre em Fortaleza, no Ceará, quinta maior cidade do País em termos de população, e em Belo Horizonte, Capital do segundo maior colégio eleitoral brasileiro, Minas Gerais. Os próximos 40 dias de campanha, pelo menos até o primeiro turno, deverão dizer se as tensões nessas três cidades serão nacionalizadas e de que modo interferirão na sucessão da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014.

O caso de Belo Horizonte é dos mais chamativos, por ser a terra natal do senador Aécio Neves, tido como nome do PSDB para a disputa presidencial daqui a dois anos. Na Capital mineira, PT e PSB romperam uma aliança que durou 20 anos às vésperas das convenções partidárias. O prefeito Márcio Lacerda (PSB), eleito em 2008 na aliança com o PT e com apoio do PSDB, disputa a renovação do mandato contra o ex-prefeito Patrus Ananias (PT), mas apoiado por Aécio. Na última pesquisa Datafolha, divulgada na quarta-feira ((29)), o socialista levou a melhor, obtendo 46% das intenções de voto, ante os 30% do petista.

A vantagem do prefeito tem amenizado o tom da campanha. Porém, os petistas não engoliram a aliança PSB-PSDB em Minas, e vêm fazendo ironias sobre essa aproximação descambar para o âmbito federal, a ponto de o ex-presidente Lula (PT) ir a Belo Horizonte para reforçar a campanha de Patrus – como aconteceu na noite da sexta-feira (31) – e de se cogitar a também visita da presidente Dilma Rousseff para um ato de campanha petista.

Foi a primeira participação de Lula em um comício depois de ter deixado a Presidência da República e de ter recebido alta médica do tratamento de câncer na laringe a que se submete, um indicativo de como o PT investe forte no confronto com o PSB em Minas.

Segundo o presidente do PT mineiro, deputado federal Reginaldo Lopes, a aliança só foi rompida porque “o PSB escolheu Aécio Neves” e o prefeito Márcio Lacerda “descumpriu um acordo que ele tinha assinado com o PT”, que envolvia uma repactuação programática, a vaga de vice na chapa majoritária e a aliança na coligação proporcional. “Ele cedeu a vice, mas não quis a aliança na proporcional. Ele fez uma opção pelo modelo falido do PSDB. Para nós, houve rompimento unilateral da parte dele”, dispara o dirigente.

O deputado federal Julio Delgado (PSB-MG) contesta as alegações do colega de Câmara dos Deputados. O socialista lembra que Lacerda enfrentou uma “oposição violenta” por parte dos quatro vereadores do PT na Câmara Municipal e não queria estar numa chapa para ajudar a reeleger esses desafetos, além de ter tido, desde o início do mandato, uma “relação muito atritada” com seu vice, Roberto Carvalho (PT).

“Houve uma convenção e o Márcio, apoiado pelos candidatos a vereador do PSB, não coligou na proporcional com o PT. Isso foi o estopim para estourar a aliança. O Aécio não tem a ver com isso, ele apareceu depois e ‘surfou’, mas não provocou a crise”, explica Delgado.

Os parlamentares concordam apenas que a disputa em Belo Horizonte não deverá refletir na relação nacional entre seus partidos. “Não tenho dúvida de que o PSB apoiará Dilma em 2014. Só tenho dúvida se o Márcio apoiará”, alfinetou o petista Reginaldo Lopes.

“As questões no Recife, Belo Horizonte e Fortaleza aconteceram ao mesmo tempo e criaram certa indisposição, culminando em declarações de que o PSB queria ter voo próprio em 2014. Houve um princípio de nacionalização, mas a distância da pesquisa faz com que ainda não esteja nesse acirramento”, analisa Julio Delgado.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

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